Gaspar e Portas ‘tiram' quase três mil milhões de euros à bolsa

“Vender” é a palavra de ordem em Lisboa desde que Vítor Gaspar se demitiu na segunda-feira, às 16 horas. Os receios de que Portugal precisa de um segundo resgate, com a iminente queda do Governo de Passos Coelho, afundam a bolsa nacional, que desde que Vítor Gaspar apresentou a sua demissão na segunda-feira, por volta […]

“Vender” é a palavra de ordem em Lisboa desde que Vítor Gaspar se demitiu na segunda-feira, às 16 horas.

Os receios de que Portugal precisa de um segundo resgate, com a iminente queda do Governo de Passos Coelho, afundam a bolsa nacional, que desde que Vítor Gaspar apresentou a sua demissão na segunda-feira, por volta das 16h, já ‘emagreceu’ quase três mil milhões de euros.
A instabilidade na bolsa nacional agudizou-se esta manhã quando o PSI 20 chegou a afundar 7,13%, naquela que foi a maior queda intradiária desde 24 de Outubro de 2008 (crise do subprime nos EUA), numa sessão marcada por uma forte fuga dos investidores em relação aos activos nacionais – acções e dívida.
Com a demissão de Paulo Portas, líder do partido que suporta a coligação no Governo, as notas de análise não tardaram em colocar Portugal no olho do furacão. Os analistas Bank of America antevêem um segundo resgate ao País nos próximos meses, com um plano de reestruturação da dívida à vista. E o Saxo Bank acredita que o Governo de Passos Coelho deverá cair nas próximas 48 horas. “The game is over”, dizem os analistas do banco.
O francês Société Générale defende que é altura de Mario Draghi terminar com o ‘bluff’ e accionar o programa de compra de dívida, designado Outright Monetary Transactions”, assumindo “algum desapontamento” com a intervenção dos líderes europeus. “O povo português, mais tarde ou mais cedo, iria dizer basta às políticas exigidas pela troika. Dificilmente irão apoiar as escolhas do Governo”, escreve Ciaran O’Haagan, estratega do Société Générale, numa nota citada pela Bloomberg. Com a escalada dos juros nacionais, o sector da banca, o mais exposto à dívida nacional, era o que mais afundava desde as 16 horas de segunda-feira. O BCP já perdeu 315 milhões de euros em capitalização bolsista desde essa altura, um desempenho negativo apenas ultrapassado pelo BES, que encolheu no mercado 367 milhões de euros. Banif emagreceu 9 milhões de euros e o BPI perdeu 180 milhões. Desde o início do ano a bolsa nacional já regista uma queda de 7,4%.

Europa em suspense
Portugal é hoje o tema dominante nos mercados internacionais. Todos os investidores olham com preocupação para a evolução da situação nacional, mas não deixam de manifestar alguns receios com o risco de contágio a outros países. A instabilidade política vivida em Portugal só encontrava paralelo no Egipto, onde a população nas ruas pede a demissão de Morsi. Com as bolsas no Velho Continente em queda, o vizinho espanhol IBEX 35 afundava quase 3%, ao mesmo tempo que Paris e Frankfurt, praças relativamente mais estáveis em tempos de crise, cediam quase 2%. No mercado cambial, depois da queda de 0,65% de ontem, o euro seguia hoje a depreciar 0,1% face ao dólar, antes da reunião mensal do BCE de amanhã. “A confiança está em risco sob a ameaça dos problemas recorrentes em Portugal”, referiu Stan Shamu, estratega da IG Markets. “A tensão no Egipto está também a causar pressão sobre os preços do petróleo e isto é negativo para o mercado de acções”, acrescentou. Nick Nelson, estratega do UBS, alivia um pouco o discurso. “Os alarmes que soam em Portugal são um problema. Mas não penso que tenha o mesmo impacto que a Grécia teve há 12 ou 24 meses”, diz o responsável. Mas também ele antecipa uma intervenção do BCE no mercado para estancar a turbulência nos mercados. “Temos o plano OMT preparado. Temos portanto uma rede de segurança”, assegura Nelson


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