É fora da União Europeia que muitos produtores de vinho do Douro, Dão, Trás-os-Montes e Beira Interior encontram novos mercados para escoar as suas garrafas.
Depois do mercado da saudade, vincado nas comunidades de emigrantes portugueses espalhados pela Europa, é agora em países mais distantes, sobretudo nos continentes americano e asiático, que se destacam as vendas de vinhos do Douro, Dão, Trás-os–Montes e Beira Interior. Uma realidade espelhada ontem, em Lamego, na conferência Uva d”Ouro, a iniciativa promovida pelo Diário de Notícias, Jornal de Notícias, TSF e Continente que tem vindo a percorrer o País para promover a divulgação dos vinhos regionais portugueses. Só da região do Douro partiram, em 2012, mais de metade das exportações de vinhos portugueses. Grande parte deles são vinhos do Porto, cuja vocação exportadora é já de longa data, mas também os restantes vinhos da região começam a destacar-se além-fronteiras, beneficiando da crescente popularidade do País junto dos consumidores internacionais de vinho. No total, a região exporta mais de 40% da sua produção e a motivação para procurar novos mercados tem vindo a intensificar-se, confirma Manuel Cabral, presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto. “O futuro passa pela aposta em novos consumidores e novos mercados, mas também passa por uma aposta cada vez mais forte na diversidade de vinhos da região”, assume. O presidente do Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto revela também que o preço médio do vinho da região tem vindo a registar uma curva ascendente, situando-se atualmente nos 3,95 euros. Só em 2012 as vendas de vinho certificado da região duriense somaram 90,6 milhões de euros. “Digo sempre que o importante não é vender mais, é vender melhor e isso passa por valorizar a qualidade do nosso vinho atribuindo-lhe um preço mais elevado”, alega Manuel Cabral. Ter um perfil internacional pode fazer a diferença. A garantia é de Rui Madeira, enólogo e proprietário da Rui Roboredo Madeira, empresa que tem vindo apostar na personalização do contacto com as lojas para incrementar vendas. “Os resultados são evidentes. Onde se vende vinho é nas lojas, por isso temos de nos aproximar delas e conversar sobre o nosso vinho com quem o vai vender ao consumidor”, defende o enólogo. “E temos de estar atentos a mercados externos que evoluem muito rapidamente e nos permitem antecipar tendências que acabam por chegar cá mais tarde ou mais cedo. Manter um perfil internacional é, sem dúvida, muito importante nos dias que correm”, afirma Rui Madeira. Estados Unidos da América, Angola e Brasil são destinos preferenciais para os vinhos da região da Beira Interior, que exporta 18,5% da sua produção anual. Um índice com grandes potencialidades para subir, afiança João Carvalho, presidente da CVR da Beira Interior. “Não tenho dúvidas que dentro de alguns anos vamos conseguir vender para mercados externos muito mais do que o atual milhão de garrafas que comercializamos”, antecipa. Mas para tal, João Carvalho diz que é preciso investir na reestruturação da vinha e no aumento do volume de vinho certificado. “Atualmente apenas um décimo do vinho que produzimos é certificado e é preciso que o mercado exija mais essa certificação para que ela passe a ser uma realidade muito mais frequente”, alega o presidente da CVR da Beira Interior. Também a aposta no enoturismo constitui uma das estratégias-chave preconizadas por João Carvalho para a dinamização das vendas de vinho regional da Beira. A ideia começa a conquistar adeptos entre os produtores, mas carece de consolidação e, sobretudo, de um grande empenho coletivo na divulgação. Cristina Martins, sócia-gerente da União Comercial da Beira, já começou a dar os primeiros passos nesse sentido, acolhendo eventos na sua Quinta do Cerrado, em Carregal do Sal. “A região do Dão está a desabrochar. Os consumidores já começam a perceber que desta região saem muito bons vinhos”, assegura a produtora. Da sua quinta, com 20 hectares de vinha, saem garrafas de vinho não só para as prateleiras das grandes superfícies comerciais, em solo nacional, mas igualmente para lá da fronteira, com destaque para a Suécia, Canadá, Macau, Brasil e Polónia. “O Dão esteve muito parado no passado, mas agora tem vindo a afirmar-se internacionalmente”, constata Cristina Martins. “E para isso é preciso apostar constantemente na inovação dos produtos e dos processos”, explica a produtora. É precisamente para viabilizar investimentos na atualização tecnológica que são precisos mais apoios financeiros às empresas vitivinícolas, defende Arlindo Cunha, presidente da CVR do Dão. “Espero que o próximo quadro de fundos comunitários permita às empresas dinamizar os seus negócios, pois isso é muito importante para a economia”, sublinha. “Esse eventuais apoios também seriam importantes para os produtores poderem fazer prospeção de mercados, pois a ausência de estudos feitos pelas entidades oficiais constitui uma grave lacuna para a atuação das empresas do setor”, reivindica Arlindo Cunha. A predominância de pequenos produtores no tecido empresarial do setor coloca também em causa eventuais economias de escala, lamenta Francisco Pavão, presidente da CVR de Trás-os-Montes. “A nossa região tem apenas 10.000 hectares de vinha e conta com 62 agentes económicos. Isso diz bem da representatividade de cada operador e põe em causa a sustentabilidade da própria CVR”, aponta Francisco Pavão. A região de Trás-os-Montes tem vindo a ganhar visibilidade no mercado nacional, apostando na ligação à gastronomia local. “É nessa vertente que temos de apostar. Ainda faltam sinergias com outros produtos qualificados da região, tal como o azeite, o fumeiro, as carnes e os enchidos. E também faltam sinergias com o ensino superior para a área da investigação ligada aos vinhos”, defende o presidente da CVR de Trás-os-Montes. Ganhar economias de escala deverá ser, com efeito, a melhor aposta que os produtores vitivinícolas deverão fazer no futuro, sugere Bruno Pereira, diretor da Unidade de Negócio de Bebidas da Sonae. “É importante ser criativo para conseguir baixar os preços de custo. E se os produtores melhorassem a sua capacidade associativa poderiam efetivamente ganhar economias de escala e baixar custos”, alega o responsável da cadeia de hipermercados Continente.