Doceira de Pinhel com 84 anos faz rebuçados de caramelo pelo método tradicional

Uma mulher de 84 anos, residente na aldeia de Bouça Cova, no concelho de Pinhel, Guarda, é a última doceira da região a confecionar rebuçados de caramelo pelo método tradicional que herdou dos antepassados.

Os rebuçados são feitos a partir de uma mistura de água com açúcar, segundo uma tradição familiar que Dolorosa dos Santos aprendeu com a mãe.

“Aprendi com a minha mãe. A minha mãe morreu e fiquei eu a fazê-los. E, depois, fica a minha filha, se ela quiser. Ela sabe melhor do que eu”, disse.

A confeção dos rebuçados começa com a dissolução do açúcar na água. Forma-se uma calda que vai ao lume até caramelizar e, quando estiver no “ponto”, é deitada num prato de metal, de onde são retiradas pequenas porções de açúcar caramelizado que são lançadas num tabuleiro previamente untado com azeite.

“É só água e açúcar e, depois, é preciso dar-lhe aquele ponto. Se [os rebuçados] não tiverem aquele ponto, tanto podem ficar queimados como podem ficar outra vez em torrão de açúcar”, explicou a doceira à agência Lusa.

Na fase seguinte, essas porções, antes de arrefecerem e de ficarem duras, depois de cortadas em pequenas fatias, são prensadas com uma espécie de carimbo, em metal, dando origem aos rebuçados de forma arredondada, tipo moeda.

Para além dos rebuçados redondos (que levam carimbos com a marca de um ‘xis’ e da estrela de David), a mulher também produz pequenas cestas, pulseiras, charutos e ganchos de doce. Faz ainda caramelos recheados com frutos secos (amêndoas, nozes e avelãs).

Na fase final do processo produtivo, a doceira coloca os rebuçados em pequenos sacos de plástico, que ata com um fio de ráfia. Cada saco leva 15 rebuçados dos redondos. As cestas, as pulseiras, os charutos e os ganchos são embalados à unidade.

Dolorosa dos Santos refere que os rebuçados caseiros ainda dão “um bocado” de trabalho, explicando que são feitos “em quente”, porque com o caramelo frio não os pode confecionar.

No fabrico dos doces conta com o apoio de uma irmã, Fátima Mendes, de 77 anos, que faz a prensagem do caramelo com os carimbos apropriados.

Fátima Mendes explicou à Lusa que a sua ajuda é indispensável, pois para além de facilitar e acelerar o processo de fabrico, faz com que os doces fiquem “espalmados e bonitos”.

Antigamente, a doceira Dolorosa dos Santos vendia os seus rebuçados de caramelo em praticamente todas as festas religiosas da região, mas há vários anos que, devido ao peso da idade, deixou de o fazer.

Os seus doces são agora comercializados anualmente, na Feira das Tradições, em Pinhel, que este ano completou a XXI edição, no expositor da Junta de Freguesia de Alverca da Beira/Bouça Cova.

A sua filha, Conceição Paiva, de 57 anos, que vende os rebuçados no certame, a um euro cada saquinho, garante que as guloseimas têm escoamento garantido.

Segundo a mulher, existem clientes certos que, todos os anos, chegam a comprar 10 a 15 saquinhos de “rebuçadinhos” típicos da aldeia de Bouça Cova.


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