O artesão, que sempre trabalhou com a madeira, pois é entalhador de profissão desde os 14 anos, disse hoje à agência Lusa que faz aqueles artefactos típicos da atividade pastoril apenas por encomenda e para “passar o tempo”.
As chavelhas, também conhecidas por chavetas, que eram decoradas com um desenho ou símbolo correspondente a cada pastor, são artefactos em madeira, em forma de chave, que eram muito utilizados para prenderem os colares que suportavam as campainhas das ovelhas ao pescoço.
As colheres em madeira eram usadas pelos pastores da região da Serra da Estrela quando confecionavam e degustavam as refeições durante as atividades de pastoreio.
“Estas colheres e as chavetas [são feitas] só de encomenda, porque não são coisas que se possam vender a qualquer pessoa. Geralmente, é só para os pastores, ou então para pessoas que gostam de ter em coleção, em casa. Só para isso”, disse António Feiteiro.
Na sua oficina, situada nas proximidades da casa de habitação, na povoação de Aldeias, em plena Serra da Estrela, no concelho de Gouveia, o artesão utiliza madeira de freixo e de nogueira para a confeção das peças que são feitas manualmente.
“Para a colher tem que se escolher uma madeira adequada, para a chaveta qualquer madeira dá, mas, no entanto, [como] o gado passa por todo o lado, tem que ser dura para não se partir nem estragar”, esclarece.
Pelas suas contas, na feitura de uma chavelha gasta cerca de meia hora, pois indica que apesar do corte da madeira ser feito à máquina, “para ficar perfeitinha ainda leva um bocadito” de tempo.
“Escolhe-se a madeira, risca-se [é feito o traçado da peça], depois recorta-se e depois trabalha-se à mão”, contou, indicando que no final é polida e, se o cliente desejar, leva um acabamento para ficar “a brilhar”.
O custo de cada chaveta ronda os “dez a quinze euros”, tal como cada colher, porque “o trabalho que dá uma coisa dá a outra”, informa.
O artesão do concelho de Gouveia, no distrito da Guarda, lamenta que tanto as colheres como as chavelhas pastoris já não se usem na região da Serra da Estrela, pois “os pastores cada vez são menos”.
Um cenário que contrasta com outros tempos quando os pastores daquela zona do interior do país “tinham uma rivalidade uns com os outros e gostavam de apresentar coisas bonitas na profissão deles”.
António Feiteiro disse à Lusa que não recebe pedidos para fazer chavelhas para as ovelhas há vários anos, mas “se algum [pastor] quiser” destes artefactos “é só dizer”, que está disponível para os executar como lhe for solicitado.
O entalhador reformado lamenta que os mais novos não se interessem pelas artes tradicionais, mas está disponível para os ensinar por intermédio de um Centro de Emprego, de uma Câmara Municipal ou de uma Escola Profissional da região da Serra da Estrela.