Os períodos de chuva intensa favoreceram o crescimento descontrolado da vegetação e os cuidados preventivos ficaram aquém dos objetivos nalgumas zonas.
Todos os anos o verão traz os “fantasmas” dos incêndios dos anos anteriores, muitas vezes ainda registados nas paisagens, com a vegetação densa e os meios envelhecidos a complicarem o trabalho dos bombeiros. Os “soldados da paz” mostram-se preparados, mas avisam que não depende só deles: o inimigo é imprevisível. «O corpo de bombeiros da Guarda vai dar o seu melhor, como todos os anos», garante Paulo Sequeira, comandante da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários (AHBV) Egitanienses. O «cenário imprevisível» preocupa o responsável, que realça a importância do voluntariado. «Temos um grupo de intervenção, mas fora isso teremos de recorrer aos voluntários», antecipa. O material ao dispor desta corporação é uma das “dores de cabeça” do comandante, pois «tem desgastes muito significativos, já que damos resposta a um grande número de incêndios e ainda ajudamos corporações vizinhas», refere. «Preparamo-nos da melhor forma possível mas as condições de alguns veículos não são as ideais», reitera Paulo Sequeira. A extensão da área de intervenção dos bombeiros egitanienses promete dar muito trabalho aos “soldados da paz”, destacando-se o Parque Natural da Serra da Estrela, bem como para a «zona que vai em planalto até Pinhel, Almeida e Sabugal», consideradas críticas pelo comandante. Também Carlos Soares, comandante da AHBV Gouveia, se mostra preocupado com o Parque Natural, sobretudo devido a acessos difíceis. Porém, o responsável sublinha que «somos uma corporação centenária e fomos arranjando estratégias», que foram trabalhadas durante o inverno. A época deverá ser «complicada devido ao mau tempo que tivemos», lembra. Os Bombeiros de Gouveia têm, desde ontem, um grupo de intervenção ECIN (Equipa de Combate a Incêndios), sendo que deverão receber, dentro de poucas semanas, uma viatura candidatada ao QREN (Quadro de Referência Estratégico Nacional), e mais tarde uma cisterna de 6 mil litros. Quanto a carências, o comandante considera que nega-las seria «colocar a cabeça na areia», mas estas «têm de ser ultrapassadas». Os bombeiros fornenses também vão receber, em breve, um veículo novo do QREN. O comandante da corporação de Fornos de Algodres destaca as instruções e a escola de estagiários, atividades formativas desenvolvidas ao longo do “defeso”. José António diz que os “soldados da paz” estão preparados mas lamenta que a prevenção tenha sido «esquecida»: «A vegetação está muito alta, a chuva contribuiu para isso», considera. O responsável mostra-se preocupado com a «mata da Câmara», zona que se torna ainda mais crítica devido à presença de um hotel. Já os “soldados da paz” de Loriga terão dois grupos para dar resposta aos fogos, um já a partir de 1 de junho: «Depois será reforçado com outro conjunto, além de um grupo de apoio», informa o comandante António Alves. O bombeiro recorda que é necessária uma viatura de combate a fogos, projeto que está a ser estudado com a Autoridade Nacional de Proteção Civil, pois «a idade de alguns veículos preocupa». Também a vegetação poderá trazer dificuldades acrescidas, uma vez que «cresceu de forma desordeira desde os últimos incêndios, apesar dos esforços do Gabinete Florestal», indica. As falhas na prevenção também inquietam os Bombeiros do Soito. Para Nuno Mendonça, adjunto de comando, a zona mais crítica situa-se entre Quadrazais e Foios, na Reserva Natural da Serra da Malcata: «Não está cuidada a 100 por cento e pode vir a causar problemas», afirma. O responsável destaca o trabalho desenvolvido com algumas autarquias, bem como a preparação dos elementos. «Carências todos temos. Atuamos numa área com população envelhecida, terrenos abandonados e caminhos onde já não se passa», adianta, salientando que a corporação do Soito está «preparada para as situações que se avizinham». Entretanto, Álvaro Guerreiro deverá ser eleito, amanhã, presidente da direção da Federação de Bombeiros do Distrito da Guarda.