Câmaras cortam nas regas e apostam na sensibilização contra desperdício de água

No Sabugal, a Câmara colocou em funcionamento as antigas captações de água em 11 localidades, para abastecimento aos animais.

A redução da rega em espaços verdes, a reutilização de águas residuais, o encerramento de fontanários, repuxos e piscinas e campanhas de sensibilização são as principais medidas adotadas por câmaras municipais para poupar água e combater a seca.

A Lusa reuniu medidas anunciadas publicamente e respostas enviadas por câmaras, abrangendo um total de 103 dos 278 municípios do continente português. De entre as dezenas de autarquias que responderam às questões colocadas, poucas são as que não iniciaram medidas especiais de contenção e de combate ao desperdício de água.

As medidas comuns à generalidade destes municípios são a diminuição da frequência das regas em jardins e canteiros, o encerramento de fontanários, repuxos e espelhos de água ornamentais que não funcionam em circuito fechado, a redução das lavagens de arruamentos e a racionalização do uso de água nos equipamentos municipais.

Estas eram medidas propostas num relatório de 30 de outubro do grupo de trabalho de apoio à Comissão Permanente de Prevenção, Monitorização e Acompanhamento dos Efeitos da Seca, criada pelo Governo.

Além destas medidas gerais, quase todos os municípios iniciaram campanhas de sensibilização para que as populações estejam mais atentas a ruturas e poupem água – nomeadamente com banhos mais curtos e evitando usar águas da rede em regas ou lavagem de carros.

As câmaras do Porto e de Setúbal, por exemplo, reforçaram a cobertura dos canteiros com telas antierva para evitar perdas de humidade e o aumento da temperatura do solo.

Nos últimos anos, Setúbal tem vindo a reconverter áreas com relvado em zonas com arbustos e herbáceas e Santo Tirso (distrito do Porto) tem promovido a plantação de medronheiros, faias, azevinhos e carvalhos, por serem espécies vegetais menos exigentes em necessidades hídricas.

A maioria das autarquias recorreu a origens alternativas de águas, como poços e furos, para a agricultura e pecuária.
No Sabugal (Guarda), a Câmara colocou em funcionamento as antigas captações de água em 11 localidades, para abastecimento aos animais, e na Batalha (Leiria) a autarquia abriu um furo para abastecimento de água a atividades agrícolas e proteção civil.

O município de Matosinhos (Porto) revelou que está a estudar o uso de água resultante do tratamento secundário – na estação de tratamento de águas residuais (ETAR) – em regas e lavagens e também as câmaras da Moita e do Barreiro (Setúbal) admitem a reutilização das águas tratadas da ETAR na rega de parques e lavagem de espaços públicos.
Vila Nova de Famalicão (Porto) está a desenvolver um estudo para implementar definitivamente no município um sistema de aproveitamento das águas pluviais para a rega e limpeza do espaço público.

Outras autarquias instalaram sistemas de telemetria inteligente para detetar fugas de água e reduzir as perdas e redutores de caudal, como a Câmara de Braga, que colocou limitadores de caudal em todas as torneiras das piscinas municipais, casas de banho e locais públicos.

Nelas (Viseu) e Fornos de Algodres (Guarda) fecharam as suas piscinas cobertas municipais e Vila Nova de Gaia (Porto) desligou os chuveiros de praia com o fim da época balnear.

A Câmara de Cabeceiras de Basto (Braga) comprou um camião-cisterna para transporte de água potável com uma capacidade de 10 mil litros, para eventuais falhas.

Em Vinhais (Bragança), a água está a ser abastecida às aldeias de Armoniz, Salgueiros e Vilar de Peregrinos através de camiões-cisterna dos bombeiros e a Câmara Municipal vai adquirir duas nascentes para construir reservas de água e evitar situações futuras de rutura.

No Alentejo, os autotanques estão atualmente ainda a ser utilizados para levar água a cerca de 500 habitantes de S. Pedro da Gafanhoeira (concelho de Arraiolos, Évora).

No distrito de Beja, também estão a ser abastecidas por autotanques as aldeias de Bicada, Ledo e Penedos, no concelho de Mértola, e de Relíquias, Luzianes-Gare e Nave Redonda, em Odemira.

No distrito de Portalegre, a maioria dos 15 municípios possuem reservas de água (furos), caso a situação se agudize nos próximos tempos.

No Algarve, a situação não é de seca severa e não há qualquer plano de contingência ativado, mas, ainda assim, alguns municípios anunciaram que têm estado a tomar medidas especiais para poupar água, como Faro, Tavira e Portimão.
Na quinta-feira, o município de Viseu anunciou que já gastou 346.790 euros com a operação que tem em curso, desde o final de outubro, para transporte de água em camiões-cisterna para abastecimento do concelho.

A 17 de novembro, o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) precisou que o território nacional está há seis meses em situação de seca severa e extrema, explicando que o valor médio de precipitação está “muito inferior ao normal”.
Segundo o IPMA, grande parte das regiões do interior e da região sul de Portugal continental, apresentam valores de água no solo inferiores a 20%, sendo mesmo “em alguns locais próximos ou iguais ao ponto de emurchecimento”.
Nas regiões do litoral Norte e Centro os valores variavam em geral entre 20 a 60%.


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