Vítor Baía explica a relação da meteorologia com os grandes incêndios

Para evitar ou minorar futuras tragédias é importante analisar o que se passava com a meteorologia nos grandes incêndios que nos afectaram e levaram vidas humanas.

O meteorologista Vítor Baía resolveu deixar um pequeno contributo para que os especialistas façam um trabalho de análise que permita melhorar as previsões no futuro.

“Em qualquer previsão, saber o que se passa na troposfera até uma altitude de 10 mil metros é fundamental para saber que fenómenos meteorológicos podem ocorrer. O instrumento de previsão que nos fornece essa informação é o tefigrama. É o que eu uso diariamente para fazer as previsões que edito no seu site.”

O meteorologista mostra os tefigramas dos dias em que ocorreram os grandes incêndios com vítimas mortais este ano. Podem obter qualquer data e qualquer local do mundo nos últimos 12 anos neste link: : http://www.ready.noaa.gov/READYamet.ph

A conclusão a que chega o meteorologista é que “neste passado domingo dia 15 de outubro as previsões eram bem piores do que no dia 17 de junho em Pedrogão. A instabilidade era muito parecida, a temperatura era mais baixa, mas o vento era extremamente mais forte.”

 

“Quando digo que são parecidos na instabilidade significa que as correntes de convecção eram poderosas, o fumo podia subir até aos 10 mil metros, depois de formar nuvem com desenvolvimento vertical com base aos 3 mil metros no dia 15 de outubro e aos 4000 metros no dia 17 de junho. Nestas condições podem ocorrer descargas elétricas, as descendências fortes (down burst) e os remoinhos (ou tornados, ou dust devil) são praticamente obrigatórios. No dia 15 de outubro o vento constante de cerca de 60 km/h misturado com as descendências e ascendências fortes impedia o voo de meios aéreos em segurança.”

Vitór Baía acrescenta que “se fizerem uma análise de todos os grandes incêndios com este instrumento de previsão talvez se chegue mais facilmente a algumas conclusões. Ainda não dediquei tantas horas de análise aos incêndios como dedico aos fenómenos relacionados com a neve e o gelo. O que pude ver até agora é que quando o fumo pode subir muito alto e há muito vento os incêndios são incontroláveis. Sem condições meteorológicas favoráveis os grandes incêndios não se conseguem extinguir. As condições meteorológicas de 15 de outubro foram as piores que já vi, a passagem do furacão Ofhélia perto da nossa costa criou uma corrente de vento quente vindo de Sul com uma intensidade bastante rara. As condições meteorológicas de 17 de junho são relativamente mais frequentes nos verões quentes. Em 2003 foram bem parecidas.”

“A prevenção e o ataque inicial é fundamental e deve-se investir muito nisso. Mesmo que se melhore esse aspeto é sempre possível ocorrerem grandes incêndios. O ordenamento do território e da floresta têm que sofrer uma verdadeira revolução que permita minorar os efeitos destas catástrofes.”

“Deixar apenas uma nota final, acho que se abusa da quantidade de alertas e avisos o que os torna pouco valorizados pela população. Há que fazer menos alertas e serem mais incisivos nos dias em que as catástrofes podem acontecer. Reconheço que não é fácil gerir este aspeto, mas há que fazer um esforço. Vou tentar ajudar no que puder, é uma obrigação de todos lutarmos contra este flagelo. Arranjar culpados é fácil, resolver problemas é bem mais difícil, eu sempre gostei de coisas difíceis e estou disponível para ajudar no que puder”, remata o meteorologista. 

Quem é Vítor Baía?

Natural e residente na Guarda é um grande conhecedor da Serra da Estrela, por terra e pelo ar.

Praticante de Montanhismo desde 1981 e de Parapente desde 1990. Dedica-se à Meteorologia desde 1996.

Faz previsões para os praticantes de Parapente há largos anos.

Acompanha grandes alpinistas nos Himalaias, enviando-lhe previsões meteorológicas para as suas Expedições a montanhas de mais de 8000m. Começou em 2001 com o amigo João Garcia e actualmente tem dezenas de alpinistas de todo o Mundo que usam as previsões de VITOR BAIA METEO.

 


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