"Tentei entregar-me logo. Fui perseguido como um animal"

Pedro Dias afirma, em declarações exclusivas à RTP, que desde a madrugada de 11 de outubro tentou entregar-se às autoridades mas não lhe permitiram. Garante que está inocente e que o militar que sobreviveu “terá certamente mais a dizer” sobre o que aconteceu.

E ao fim de 28 dias, terminou a caça ao homem mais procurado: Pedro Dias, também conhecido por ‘Piloto’. É suspeito da autoria dos crimes de Aguiar da Beira, que no dia 11 de outubro culminaram na morte de um militar da GNR e de um civil. Uma mulher ficou gravemente ferida, estando ainda internada, bem como um militar que, entretanto, já teve altar hospitalar.

Mas o suspeito garante que está inocente e que “desde o primeiro dia” tentou entregar-se: “Mas não me permitiram nem aqui [em Arouca], nem em Sabrosa”.

“Mal cheguei ao alto da Freita fui logo recebido com uma salva de tiros de G3. A partir daí fui perseguido como um animal. Atiravam tiros para os silvados ao calha, chegaram a atirar a um metro do [local] onde eu estava. Cheguei a ouvir comentários que era naquele dia que me iam caçar, incluindo de populares”, relata.

“No primeiro dia, no alto da Serra da Freita, só vi [militares da] GNR e davam tiros para qualquer moita, para qualquer sítio onde não tivessem visibilidade. Tanto é que, às duas por três, um deles chegou a ser ferido, apercebi-me que foi uma ambulância buscá-lo. As armas iam com a bala na câmara e ele feriu-se a ele próprio, de certeza, porque eles atiravam para todo e qualquer sítio”

Além da inocência, Pedro Dias diz querer agora “cumprir” as suas “obrigações de cidadão que é esclarecer tudo o que se passou”. Mais. “O senhor militar da GNR”, que teve altar hospitalar, “terá certamente mais a dizer sobre o que me fizeram do que eu”, garante ‘Piloto’.

Estas declarações fazem parte de um pequeno excerto de uma entrevista exclusiva dada à RTP, que será emitida na próxima sexta-feira no programa Sexta às 9, antes de entregar-se à Polícia Judiciária (PJ) e da respetiva detenção. Passou a noite nas instalações da PJ da Guarda, onde chegou num carro preto acompanhado por inspetores, à meia-noite desta quarta-feira.

De referir que a casa, local onde ontem à noite Pedro Dias se entregou, pertence à sua família e localiza-se a cerca de 200 metros da residência dos pais, que durante a investigação foi alvo de buscas.

A advogada que o representa, Mónica Quintela, explicou que optou por esta estratégia de entrega pública, perante uma equipa da RTP e um jornalista do Diário de Coimbra, para “preservar a segurança e integridade” mas sublinhando que as autoridades “foram impecáveis”.

Segundo a sua advogada, Pedro Dias entregou-se às autoridades por volta das 21h45, em Arouca, sem que se registasse qualquer incidente e antes das 23h00 já estava a caminho da Guarda, onde nas próximas 48 horas deverá ser presente a um juiz de instrução criminal, admitindo que também o Ministério Público “poderá tentar” ouvi-lo.

O caso que envolve o homem mais procurado

‘Piloto’ estava desaparecido desde 11 de outubro, data em que dois militares da GNR foram atingidos a tiro em Aguiar da Beira, no distrito da Guarda. Um morreu e outro ficou ferido.

Na mesma madrugada, um homem morreu e a mulher ficou gravemente ferida, também alvejados a tiro, na viatura em que seguiam, em São Pedro do Sul, no distrito de Viseu, tendo começado então a caça ao homem.

Denúncias e alegados vestígios do suspeito foram surgindo desde então. A zona de Arouca a Vila Real esteve durante vários dias sob o olhar atenção das autoridades, que realizaram várias buscas e cercos, e chegou inclusivamente a ser emitido um mandato de captura europeu. Testemunhos provenientes de Espanha davam conta da presença de Pedro Dias em Salamanca e na região da Galiza.


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