Arwa Abbara é a primeira aluna síria mestre pela Universidade da Beira Interior

O Dubai, como exemplo de cidade inteligente, foi o tema escolhido por Arwa Abbara.

Arwa Abbara é a primeira refugiada síria a completar os estudos de Mestrado na Universidade da Beira Interior. A aluna de Engenharia Civil defendeu a dissertação de Mestrado no passado dia 8 de março, sob a orientação da docente Ana Virtudes.

“Smart Cities in Arabian Cultures: Dubai as a case study” (“Cidades Inteligentes nas Culturas Árabes: O Dubai como um estudo de caso”) é o título da primeira dissertação de Mestrado defendida por um aluno de origem síria na Universidade da Beira Interior. A autora é Arwa Abbara e as provas públicas de defesa da dissertação decorreram no passado dia 8 de março, na Faculdade de Engenharia da UBI.

Sob orientação da docente Ana Virtudes, a aluna do departamento de Engenharia Civil e Arquitetura obteve a classificação de 17 valores. “Não existem palavras para explicar o que sinto. É fantástico e maravilhoso. Dei um passo importante nos meus estudos, foi um desafio fantástico para mim estudar noutro idioma, outro estilo, outra forma, foi muito difícil para mim porque na minha universidade raramente usamos referências bibliográficas, então foi muito difícil para mim começar com um idioma novo, pessoas novas e longe da família”, refere a aluna de Engenharia Civil.

Oriunda da cidade síria de Homs, uma das mais afetadas pelo atual clima de insegurança que se vive naquele país, Arwa está na UBI desde o ano letivo de 2015/2016. Fugiu de um país em guerra, tal como tantos outros compatriotas com essas possibilidades, e acredita que “esta crise irá durar ainda mais de dez anos, porque precisamos de muito tempo para reconstruir o nosso país e, antes de mais, temos que resolver todos estes problemas e só depois poderemos começar a reconstruir o nosso país, mas ainda vai demorar muito tempo”. Por outro lado, explica, “os nossos estudantes, as nossas crianças não tiveram o direito básico de estudar, de obter uma educação, mais de metade das nossas crianças estão sem escolas porque a maioria das escolas foi destruída, portanto, acho que é muito complicado e que vai demorar mais tempo”.

Daí que, pelo menos num futuro próximo, os planos não passem pela Síria. Continuar por Portugal e pela UBI poderá ser uma possibilidade, que estará sempre dependente de uma bolsa de investigação. “Na realidade, não sei se consigo obter ou não outra bolsa para o meu Doutoramento aqui. Estamos debaixo da alçada do Dr. Jorge Sampaio, portanto não sei se terei a oportunidade de completar os meus estudos aqui ou não, portanto vou esperar”, diz.

Quanto à dissertação defendida, “o Dubai foi do nada a uma das cidades mais importantes e avanças do mundo, não apenas do mundo árabe mas a uma escala global. Não existe tempo para transformar uma cidade tradicional em cidade inteligente como o Dubai que em 40 anos passou de deserto a uma das cidades mais importantes do mundo”, refere Arwa, destacando as principais conclusões do trabalho.

Ana Virtudes esclarece que “os estudos urbanos são um campo de pesquisa no domínio da Engenharia Civil, portanto penso que a conclusão principal aqui, em termos científicos, é que o Dubai é um caso de estudo único. Porquê? Porque há quarenta anos não existia nada lá, apenas um pequeno lugar rodeado por areia do deserto. Atualmente é uma cidade pioneira, uma cidade inteligente que utiliza as tecnologias da informação e da comunicação nas infraestruturas, em todo o lado, o que faz dela uma cidade pioneira não só no Médio Oriente como também numa escala global, é isto que é interessante. Na realidade, existe uma nova palavra que é ‘Dubalização’ que define um processo muito veloz de urbanização, do nada passam a existir altos edifícios na cidade inteligente”.

A docente do departamento de Engenharia Civil e Arquitetura da UBI explica que, nem orientadora, nem orientanda tinham estado no Dubai, pelo que “para nós foi uma aventura baseada em revisão literária, o que foi um verdadeiro desafio para a Arwa, conseguir pesquisar referências de bibliografia científica – este talvez tenha sido o principal desafio – e para mim o maior desafio foi analisar um estudo de caso sobre um sítio onde nunca estive. Isto foi muito estranho, porque se queremos estudar uma cidade devemos ir lá, devemos conhecê-la. Mas, como estávamos no mesmo nível, nunca nenhuma das duas lá esteve, abraçámos esta aventura juntas”, sublinha.

Tendo como presidente de júri a docente Marisa Dinis, diretora do curso de Mestrado Integrado em Engenharia Civil, a arguição do trabalho esteve a cargo de José Carlos Batista da Mota, docente da Universidade de Aveiro e especialista em Planeamento Urbanístico e em Smart Cities. A orientadora Ana Virtudes completou o júri.

“O professor José Carlos Batista da Mota elogiou bastante a dissertação, ele é um especialista nesta matéria e houve uma curiosidade para a qual ele chamou à atenção que foi o facto de a dissertação da Arwa se centrar nas coisas boas das cidades inteligentes. Nem tudo é fantástico nas cidades inteligentes, mas neste caso a dissertação dela focou-se nas coisas boas das cidades inteligentes, nas vantagens das cidades inteligentes. Estamos numa forma de pensamento positivo”, refere a orientadora do trabalho.

Ana Virtudes considera, também, que “este é um contributo dos professores da UBI no caminho da internacionalização. Esta é uma pedra de toque da internacionalização, teses em inglês, alunos internacionais, estudos de caso internacionais. Portanto, esta é uma das melhores maneiras para divulgar o nosso conhecimento”, lembra.

Por outro lado, “são pessoas que não vão ficar em Portugal a viver, são pessoas que querem voltar, eu não digo às suas cidades porque neste momento isso não é possível, mas querem voltar aos países do Médio Oriente e ter a sua vida profissional lá. Portanto, é importante que tenham um portfólio, que levem uma bandeira: ‘eu fiz um trabalho sobre a nossa área, a nossa cultura, a nossa gente, a nossa zona geográfica e não sobre uma cidade qualquer europeia'”.

Quanto a Arwa, o futuro promete ser risonho na área da investigação. Ana Virtudes conta que “já estão dois artigos científicos aprovados em conferências internacionais e indexadas à ISI e SCOPUS. Só temos o resumo, mas como foram aceites vamos preparar. Depois das conferências vão ser publicadas também em jornais. São conferências já indexadas e dois papers sobre os resultados da investigação dela que já foram aceites, o que é importante”, considera.


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