As águas subterrâneas são habitualmente exploradas de modo abusivo e imoderado, ou seja, usadas bastante acima da capacidade de recarga dos aquíferos.

A agricultura agasalha uma função nuclear no processo de definição e de aplicação de medidas tecnológicas que amputem os problemas e dilemas associados a uma nova produtividade agrícola, encaixilhada no arquétipo ecuménico da sustentabilidade; no uso renovável dos recursos naturais; nas tecnologias de vanguarda; no respeito e admiração pela paisagem; no aumento dos índices de qualidade dos produtos; e no incremento da qualidade de vida no meio rural. Será que a agricultura não deve contribuir para que o meio agrícola e rural tenha “capacidade” para metamorfosear a sua tecnologia e a sua cultura produtivista? Que futuro terá o regadio no âmago da nova “agricultura da qualidade”?

O conceito de sustentabilidade ou longevidade de um processo de desenvolvimento está profundamente relacionado ao uso conservativo, ou seja, à tentativa de “imortalizar” os recursos naturais que esse processo absorve. Sabemos que na agricultura de regadio os recursos elementares são o solo e a água. Todo e qualquer uso que os despolimerize, os não preserve e os não benfeitorize acaba por hipotecar o seu futuro, contrariando, desse modo, a sustentabilidade do processo de desenvolvimento.

A história mostra-nos que a agricultura de regadio foi fundamental, tendo, durante um longo período de tempo, alimentado boa parte da população mundial. Todavia, a mesma parece desfilar entre o desenvolvimento e a desertificação. Será que futuramente podemos manter a agricultura de regadio?

Na realidade, a intensificação agrícola continuará a ser, e numa perspectiva planetária, a única configuração possível para assegurar a produção de alimentos de que a humanidade necessita. A intensificação é degustada como um método de aperfeiçoar o uso dos factores da produção agrícola, assim como de promover o sucesso das empresas e o desenvolvimento dos territórios. Será que a intensificação agrícola não significa ou não acarreta a necessidade de recorrer ao regadio? Será que a agricultura de regadio não é uma forma de agricultura a manter? Será que a questão da sustentabilidade na agricultura não é dúbia? Será que as inovações tecnológicas, a investigação científica e a formação tecnológica não devem apresentar soluções para os problemas existentes e para outros problemas que eventualmente possam surgir? Será que as posições ambientalistas, em determinadas circunstâncias, não são excessivamente radicais? Será que não há projectos volumosos que apenas provocam impactos ambientais franzinos? Será que não existem posições e pontos de vista contraditórios, mas bastante menos contraditórios do que realmente parecem?

Torna-se imperioso conceber e desenvolver uma nova configuração da água, uma configuração na qual esteja incluída não só a produtividade conservacionista e de qualidade, como também o diálogo entre os intervenientes. Todos os intervenientes devem compreender e defender aquilo que é verdadeiramente relevante. O desenvolvimento sustentável dos territórios e dos Países implica a conservação dos recursos que utiliza, porém, esse desenvolvimento jamais exige a extinção da agricultura de regadio. Os protagonistas do desenvolvimento do regadio e da edificação de uma nova cultura da água serão seguramente os engenheiros e técnicos que auxiliarão os agricultores nas suas escolhas, sendo estes os principais destinatários dos novos conhecimentos e erudições. As universidades, alicerçadas na investigação científica e na função formativa, devem promover e solidificar a ligação entre ensino, investigação e experiências fora de portas. Quais são as expectativas de longevidade da agricultura de regadio?

A agricultura de regadio é um “sistema” de produção de alimentos que estabelece fundamentadas doses de esperança como contributo imprescindível para a solução do dilema da alimentação de uma população mundial ainda em acentuado crescimento. Todavia, há quem defenda que a agricultura de regadio se apresenta como uma forma de produção ténue, pois em algumas circunstâncias a mesma torna-se impraticável. Esta conjuntura está relacionada ao facto de a sua sustentabilidade estar sujeita a inúmeras condições que eventualmente podem ser difíceis de combinar. Na realidade, há várias regiões do Mundo que vivem com o drama da escassez de água, sendo que em alguns territórios a falta de água é tão evidente e feroz que mal chega para o uso humano.

As águas subterrâneas são habitualmente exploradas de modo abusivo e imoderado, ou seja, usadas bastante acima da capacidade de recarga dos aquíferos. Realçar que os aquíferos permitem o armazenamento ou a passagem de água. Proteger e recuperar os solos constituem contextos que requisitam tecnologias avançadas e adequadas que em variadíssimas ocasiões não estão ao alcance dos agricultores regantes, nomeadamente nos Países menos desenvolvidos. As empreitadas que visam a protecção do solo contra a erosão são desconsideradas pelo facto de não serem cintilantes sob o ponto de vista político. A superação dos obstáculos precisa de investigação científica e de formação apropriada para que todos os intervenientes, no processo do regadio, estejam à altura dos desafios.
A agricultura de regadio foi responsável pelo aumento dos índices de produtividade agrícola principalmente nos Países desenvolvidos, condição que fez diminuir os preços dos produtos agrícolas, bem como a competitividade dos Países pobres. É certamente oportuno asseverar que os Países pobres eram à partida aqueles que iriam beneficiar mais com os aumentos de produtividade que o regadio proporciona, contudo, e infelizmente, os mesmos estão longe da tecnologia necessária à manutenção da agricultura de regadio como forma de produção sustentável. Na verdade, todas as deliberações que promulgam o benefício do regadio e que o degustam como ferramenta de desenvolvimento global são de natureza política e económica. Será que os indicadores de resposta científica e tecnológica, em relação aos problemas que permanecem no regadio, não são reconfortantes e pigmentados? Será que os Países menos desenvolvidos, que não têm à sua disposição a necessária tecnologia de ponta, não podem recebê-la através de acordos de cooperação? Será que o mundo global não aconchega condições favoráveis à concretização desses mesmos acordos? Será que não é fundamental introduzir na ordem mundial ou global a nova cultura da qualidade? Será que a cultura da água não deve desfilar na nova cultura da qualidade?

Muitos dos terrenos com “vocação” agrícola apresentam uma utilização bastante intensa e o incremento das superfícies de cultivo pode determinar a utilização de solos com reduzida aptidão agrícola. Neste entrecho, podemos naturalmente asseverar que seria importante que alguns destes solos fossem arborizados de modo a impedir a erosão e a desertificação. Será que a solução para alguns dos problemas ambientais e climáticos, que se fazem sentir de forma tão vigorosa, não exige algumas medidas adicionais em matéria de preservação da biodiversidade, dos ecossistemas e das áreas ambientais?

A consecução de maiores produções unitárias nos terrenos já cultivados; a maximização da totalidade das características dos solos; a optimização da produção de sementes e de plantas; o aperfeiçoamento dos sistemas de cultivo; o aprimoramento das fertilizações; e o desenvolvimento dos contextos de rega e de drenagem, constituem configurações fundamentais para que a alimentação humana seja satisfeita. A solução dos problemas alimentares da Humanidade passa principalmente pelo recurso à rega, pois é através do regadio que conseguimos alcançar produções unitárias médias significativamente superiores às de sequeiro.

Um dos motivos principais para os problemas hídricos existentes à escala mundial acaba por ser a inexistência de acesso equitativo à água, assim como aos serviços de saneamento e de drenagem coligados à mesma. A insuficiência económica da água e dos serviços hídricos somente se tornam “perceptíveis” no comércio a grande escala, que se efectua costumadamente em contextos “proveitosamente” regulamentados. O comércio local, no qual participam voluntariamente fornecedores e clientes, é o menos percetível ou visível. Os mercados locais são profundamente imperfeitos e pouco estruturados no que toca aos serviços hídricos. Este tipo de mercado acaba por ser adulterado por fornecedores monopolistas e pela fixação de preços sombra emaranhados. Salientar que o preço sombra corresponde ao custo de oportunidade de uma actividade, que “eventualmente” pode ser supracitado como sendo o seu verdadeiro preço económico.

O entendimento universal de escassez de água pode não estar ligado com a escassez plena ou integral do recurso, ou seja, esse entendimento pode apenas estar relacionado com a ausência de instituições que regimentem coerentemente os bens públicos, administrem correctamente activos e consagrem serviços equitativos.

O crescimento dos indicadores de escassez de água obriga a acolher algumas estratégias como sejam: materializar planos, programas e medidas de poupança de água em todas as actividades, nomeadamente na agricultura; disponibilizar informação cristalina, rigorosa e abrangente sobre a utilização da água no sector agrícola; aumentar a produtividade da água usada, ou seja, produzir mais alimentos com menos água; reciclar e reutilizar a água; gerir de modo integrado a procura e as disponibilidades hídricas; negociar a reafectação dos recursos hídricos a nível global; preservar os recursos hídricos; e incentivar a colaboração entre todos os protagonistas do meio hídrico, incluindo os organismos responsáveis pelo meio ambiente.

A sociedade vai exigir à agricultura que justifique os grandes volumes de água que consome. Torna-se basilar a definição de procedimentos robustos, possantes e cristalinos que permitam a negociação de usos concorrentes e, em variadíssimas circunstâncias, antagónicos. Vamos aumentar a produtividade da água!