A Praia da Luz é uma aldeia piscatória com diversos empreendimentos turísticos para férias. Inúmeros turistas, com origem no Reino Unido, seleccionam o Algarve como destino de férias. Na realidade, o Algarve agasalha praias formosas e paisagens naturais lindíssimas que confederadas ao clima temperado mediterrânico a tornam a província de Portugal com mais competência e predisposição turística.
Na pardacenta noite de 3 de Maio de 2007, segundo a versão narrada por Gerry e Kate, Madeleine desapareceu do apartamento, no qual passava férias com a sua família. O Ocean Club, onde a família Mccann estava albergada, é um aldeamento turístico completamente direccionado para a exploração do mercado britânico. A propriedade, a administração, os funcionários, os aromas e as vivências tinham o cunho tipicamente inglês. A investigação policial acabou por ser bastante, e talvez excessivamente, mediatizada, contudo os resultados produzidos foram parcos, quando confrontados com a incomensurabilidade de mecanismos e meios que a escoltaram. Em qualquer ocorrência semelhante à da Praia da Luz, as primeiras horas são extremamente importantes para o recrutamento de provas. Neste caso, o emolduramento desaguou na ideia do rapto e na condolência dos próprios pais.
Os meios de comunicação portugueses divulgaram que a Polícia Judiciária rastreava dois padrões de investigação, ou seja o rapto por uma rede de adopção ilegal ou o sequestro por uma rede internacional de pedofilia. Em 14 de Maio surge um suspeito, de nome Robert Murat, que auxiliou os jornalistas ingleses, no princípio dos acontecimentos, na tradução. O “tradutor” acabou por arrecadar a chancela de arguido, porém nunca foi detido, nem incriminado. Numa etapa posterior, as autoridades passaram a contemplar os pais de Maddie como potenciais suspeitos, ou seja emergiu a conjectura de uma morte acidental seguida de uma ocultação de cadáver. Depois de alguns meses de esquadrinhamento, as autoridades constituíram os pais de Maddie como arguidos e sujeitos a termo de identidade e residência. A descoberta de fluídos corporais semelhantes ao ADN da menina por parte dos cães “pisteiros”, adestrados em Inglaterra, num automóvel alugado pelos McCann, assim como a detecção de odor a cadáver no apartamento dos McCann outorgaram algumas doses de consistência a esta hipótese. Esses fluídos acabam por sintomatizar o transporte do corpo da criança. O ADN retirado do automóvel é analisado e avaliado por um laboratório de Birmingham que conclui a existência de 88% de coincidência com o ADN de Maddie.
No prosseguimento destes desenvolvimentos, o Inspector Gonçalo Amaral, responsável pela investigação da Polícia Judiciária no Algarve, observa o fim da sua própria comissão de serviço em Portimão. Este passo demonstra, na prática, que o mesmo estava, a partir dessa altura, exonerado das investigações. A demissão do coordenador policial é concretizada depois de o mesmo ter declarado ao jornal Diário de Notícias que a polícia britânica trabalhava exclusivamente sobre aquilo que convinha ao casal McCann. Será que as autoridades britânicas não tentaram, e de modo perpétuo, fortificar a ideia inicial de rapto? Será que as mesmas não tentaram, através da utilização de vários e dissemelhantes mecanismos, ilibar a todo o custo os Pais da criança?
Depois de alguns meses de investigação e de controvérsia pericial sobre a natureza definitiva da prova sanguínea, o processo acaba por ser arquivado sem nenhuma conclusão daquilo que verdadeiramente terá sucedido à criança. Os pais deixam então de ser arguidos.
Mais tarde, o ex-Inspector da Polícia Judiciária, Gonçalo Amaral, publica um livro intitulado “Maddie – A Verdade da Mentira”, no qual defende um pressuposto que compromete os pais de Maddie como potenciais ocultadores do cadáver da criança que terá falecido acidentalmente dentro do apartamento. Na perspectiva de Gonçalo Amaral existem prenúncios mais do que suficientes para incriminar os MacCann de negligência. O antigo inspector também defende que houve uma simulação de rapto, imputando os pais da sua autoria. Kate e Gerry deixaram sozinhos no apartamento, para além de Maddie, também dois irmãos gémeos. Será que este comportamento perfilhado pelos pais da menina, por si só, não colocou em causa a segurança e o bem-estar dos filhos? Será que devemos ter receio de referir que este “abandono” dos filhos em casa é altamente reprovável e indecoroso?
A controvérsia continua com as duas dissertações que se vão esgrimindo, ainda que espaçadamente, nos meios de comunicação: a tese de um rapto por rede pedófila ou por uma rede internacional de adopção ilegal; e a tese da morte acidental seguida de ocultação de cadáver. Os McCann decidiram processar o antigo inspector. Quem são os McCann? Será que a inquisição tem um novo capítulo? Será que devemos ter medo de apontar as falhas do casal? Será que não devemos apontar o dedo aos Mccann? Será que não podemos, mesmo sem certezas absolutas, ter a nossa opinião sobre o caso? Será que não habitamos num País livre? Onde está a liberdade de expressão?
Em 4 Maio de 2007, o Telejornal da Rádio Televisão Portuguesa “arremessava” as primeiras imagens da família McCann, produzidas no aldeamento turístico de onde havia desaparecido a criança. A aterradora declaração tem a duração de meio minuto. A menina tinha desaparecido há vinte e quatro horas e tratavam-se das primeiras afirmações dos pais. Essas imagens e declarações foram disseminadas concomitantemente pelas mais proeminentes cadeias de televisão, designadamente pela Sky News International.
Depois seguiram-se diversas imagens repletas de significado “intrínseco” e “extrínseco”: agentes da autoridade derramando o pó vermelho pelas persianas do apartamento com a finalidade de descobrirem impressões digitais; pais espalhando cartazes com a fotografia da filha; buscas em directo levadas a cabo pelas forças policiais; população preocupada e indignada com vontade de ajudar a desvendar terrível mistério; vigílias de camaradagem diligenciadas pela comunidade católica local instintivamente solidária com os McCann; chegada do embaixador de Inglaterra, de vários polícias, de alguns cães “pisteiros” e de diversos técnicos ingleses; lançamento de uma recompensa de dez mil libras, cerca de quinze mil euros, por parte do tablóide britânico The Sun para quem outorgasse informações ou “pegadas” que pudessem coadjuvar na localização da menina; e a generalização de uma autêntica monteada ao raptor. Será que a polícia portuguesa estava acostumada a labutar com panoramas mediáticos tão colossais?
Vulgarmente bem conceituada pelas suas particularidades investigativas, a Polícia Judiciária evidenciou “mecanismos leigos” no que respeita à capacidade de comunicar, quando foi confrontada com os batalhões de jornalistas da British Broadcasting Corporation, da Sky News, do The Independent, do The Guardian, do The Sun, do The Daily Express e do Daily Telegraph, bem como com os violentos e viciosos repórteres dos tablóides britânicos. Nos primeiros dias, a Sky Television torna-se um autêntico “megafone” dos McCann, com persistentes intermissões no seu próprio plano de programação. Os jornais portugueses, em espessa crise de vendas, escoltaram e perfilharam depressa a inclinação para o exagero que comboiou o acontecimento. O caso Maddie velozmente se metamorfoseou numa ocorrência abordada pelos meios de comunicação universais. O caso Maddie transformou-se num episódio à escala global não só pela celeridade com que e iniciou a vulgarização das notícias, como também pela imensa durabilidade e densa cobertura fornecidas pelos meios de comunicação, e pela extraordinária campanha mediática fundamentada e assessorada por profissionais e figuras públicas que tinham à sua disposição um agrupado de mecanismos, de estratagemas e de temas munidos de elevada noticiabilidade, ou seja: delito, transgressão, menores, rapto, desgraça familiar, hipotética pedofilia e suposta adopção ilegal.
Cristiano Ronaldo, na altura jogador do Manchester United, fez um apelo na Manchester United TV para o regresso em segurança de Maddie. O jogador do Chelsea e da selecção nacional inglesa, John Terry, e o seu colega de equipa, o português Paulo Ferreira, asseveraram estar assolados pelo rapto de Maddie. David Beckham também fez uma invocação pública, segurando um poster com a fotografia de Maddie. Como Gerry McCann é de nacionalidade escocesa, as equipas do Celtic de Glasgow e do Aberdeen, ambas da primeira divisão do futebol escocês, entram em campo com faixas gemadas, símbolo referente ao desaparecimento de alguém próximo e muito prezado. A final da Taça de Inglaterra entre o Manchester United e o Chelsea incluiu, durante o intervalo, um vídeo de aproximadamente 120 segundos sobre Maddie.
A 9 de Maio, o Presidente da República Portuguesa, Cavaco Silva, comunicou estar a acompanhar o caso com enorme inquietação, acrescentando que a polícia estava a fazer todos os esforços para encontrar a criança. Também a 9 de Maio, o porta-voz de Tony Blair afirmou que o Primeiro-Ministro inglês estava a acompanhar o caso de perto. O grupo pop Simple Minds concorda que a canção “Don’t you forget about me” se transformasse numa espécie de hino atribuído ao caso Maddie. Os McCann também foram alvo de atenção por parte de Bento XVI.
Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.