A “detonação” das apostas online provocou o aparecimento de alguns padrões de apostas.

Podemos referir que o futebol, com a coadjuvação das tecnologias que possibilitam que se façam apostas online enquanto se observa o jogo pela televisão, substituiu as corridas de cavalos como o desporto mais representativo do negócio das apostas. A “detonação” das apostas online provocou o aparecimento de alguns padrões de apostas. Na esmagadora maioria dos jogos viciados despontam padrões duvidosos nas apostas em tempo real, ou seja durante o jogo, principalmente em casas asiáticas. Boa parte das apostas no futebol acontece durante o jogo, quando as agências aumentam as “probabilidades”, amplificando, desse modo, os potenciais lucros. Será que as apostas não deviam ser realizadas antes do jogo? Será que não existe a necessidade de perfilhar uma postura proactiva? Como se regula e disciplina o mercado das apostas desportivas? Será que não é pela via legislativa?

Os índices de controlo na Ásia são menos apertados e rígidos. Esta conjuntura acabou por edificar o cenário perfeito para o incremento da viciação de jogos. Na realidade, existe um gigantesco mercado de apostas na Ásia sem qualquer tipo de regulamentação, no qual as redes criminosas podem ter lucros bastante elevados. Quem é que pretende assistir a um jogo de futebol quando já se sabe que existe viciação de resultados? Será que o futebol profissional não constitui a modalidade desportiva de maior expressão a nível mundial? Será que o futebol não é a modalidade mais magnética, sedutora, observada, comentada e popular? Será que essa configuração não convoca o “movimento desportivo”, bem como os governantes, à escala nacional e internacional, para definirem estratégias e tomarem iniciativas?
Devemos saborear a credibilidade do futebol como um valor incomerciável, não podendo assistir, de modo apático, a tudo aquilo que possa fazer oscilar a imagem e a reputação do futebol. As apostas ilegais, que desfilam no exterior do circuito, são dominadas por grupos criminosos ou por sindicatos estruturados que se dedicam ao crime organizado. Esses sindicatos do crime têm vigorosa presença no Leste europeu e na Ásia. No interior do circuito encontram-se as apostas pela Internet, que não sendo exactamente ilegais, não são exploradas sob o resguardo de uma licença. Essa licença cumpre requisitos de interesse público definidos pelos Estados, requerendo o consentimento dos organizadores das competições. Como é que se combate o fenómeno da viciação de resultados? Será que a questão já foi suficientemente debatida? Será que o futebol não é uma indústria de conteúdos?

É precisamente nesses conteúdos que habita o primordial manancial de financiamento, devendo a preservação dos mesmos ser protegida por lei, tal como acontece em outras indústrias. Portanto, a exploração de apostas desportivas deve ser amparada pela legislação e implicar um equitativo retorno financeiro para os organizadores das competições. Será que o futebol é um jogo de palermas ou de incautos? Será que alguém quer passar por idiota no mundo do futebol?

O futebol obriga a ter opiniões, a dar pareceres e a fazer avaliações. Todos os indivíduos que já participaram numa conversa sobre futebol conhecem e compreendem o temperamento efémero das opiniões. O jogo acaba por metamorfosear-se e os diálogos referentes ao mesmo ficam longínquos da realidade dos acontecimentos. Contudo, é fundamental, para manifestar uma opinião, estar-se minimamente dentro da temática. Ao proferimos uma palavra fora do contexto, podemos cair no caricato. Será que a quem nada tem para dizer se outorga atenção por muito tempo?

No século passado, a rádio proporcionou ao futebol a possibilidade de uma presença global. O sucesso do futebol na televisão foi possível por a mesma se ter alicerçado nesse mesmo “fundamento”. A relação entre a aposta e o jogo deriva da organização social, que pode ser perfeita ou imperfeita, superior ou inferior. Será que a incerteza estrutural que precede o jogo não torna as apostas atractivas? Será que futebol e aposta não constituem dois conceitos interligados?
Realçar que há pessoas e mecanismos que arremessam sombras sobre o futebol organizado, fazendo-o ganhar pior reputação do que seria recomendável e expectável. O futebol deve ser degustado como um jogo com autoridade. Fora das quatro linhas, dissemelhantes poderes se desagrupam a si próprios, perdendo a legitimidade em consequência das estruturas pouco democráticas dos clubes e das organizações.

Ao contrário da sociedade onde é praticado, o futebol é um jogo com regras e não um contacto ou uma convivência social obrigatória disciplinada por leis. O futebol pode ser bastante mais harmónico do que a sociedade onde é praticado, todavia essa configuração está subordinada ao género de futebol que a própria comunidade do futebol ambiciona.

Os adeptos, para além de fazerem parte do jogo, também o podem metamorfosear, tendo uma correspondência complicada com os árbitros. No momento em que a indignação popular entra em ebulição, a atmosfera fica no mínimo preocupante. Na reminiscência colectiva permanece sempre a ideia de que nem todos os vértices que aformoseiam o futebol operam de forma completamente justa. O encadeamento entre o futebol e as apostas acaba por erguer a desconfiança de que a imprevisibilidade do risco e do acaso possa ser “desaprimorada” financeiramente. Será que grupos criminosos de apostadores não se entranharam em configurações viscerais no negócio do futebol, manuseando o mercado de apostas em seu próprio proveito? Será que esses grupos não colocam sob suspeição o resultado de todas as partidas de futebol que ocorrem no mundo inteiro?

Em Itália, País onde existem fundamentadas razões para que a suspeita em relação ao futebol seja superior do que noutros Países, desde há longos anos que as teorias da conspiração desabrocham amiudadamente, obstruindo as críticas referentes às próprias imperfeições ou fraquezas. Na generalidade das opiniões difundidas pelos “entendidos”, o insucesso desponta sempre por culpa dos árbitros supostamente vendidos e gatunos. A derrota nunca advém, por exemplo, da estratégia desacertada. Será que é benévolo para o desporto, e para a sociedade em geral, a existência de disposições em que o mito prevalece sobre o racionalismo?

A magia e o magnetismo do futebol não têm de temer, nem tão pouco de abandonar, o racionalismo, uma vez que a observação dos acontecimentos, dentro das quatro linhas, permite-nos compreender que tudo é possível. O futebol outorga movimento e pigmentação à assombrosa noção de que a sociedade pode ser bastante melhor do que a própria sociedade onde o mesmo se joga. Será que o futebol e a sociedade estão separados por trincheiras titânicas?

O futebol despontou na sociedade inglesa do século XIX, tendo-se desenvolvido e disseminado, pelo mundo inteiro, com os ingleses e com o mercado mundial. Contemporaneamente estão a decorrer diversas investigações policiais que têm como pano de fundo a corrupção de resultados de jogos de futebol em mais de sessenta Países. Inúmeras associações nacionais e regionais associadas à FIFA relataram episódios deste género. Portanto, não será seguramente complicado conjecturar a quantidade de jogos manipulados que devem ter acontecido com o conhecimento exclusivo dos infractores.

Em dias de jogo, os jogadores percorrem o corredor que vai do vestiário até ao campo de mãos dadas com crianças, fazendo transparecer que o futebol é um abrigo da inocência, da credulidade e da genuinidade ética. Será que o jogo mais popular do mundo não é simultaneamente o jogo mais corrupto do mundo? Será que a ausência de fiscalização, impulsionada pelo lucro fácil e célere, não promove o incremento da corrupção de modo desequilibrado?

O futebol internacional acaba por constituir uma rede governada pela ausência de regulamentos transparentes e rígidos, em dissemelhantes línguas, culturas, leis, contextos políticos, padrões sociais, telas financeiras e texturas económicas, muitas vezes sem nenhum tipo de interligação. Será que este apanágio não oferece ao jogo uma fascinação peculiar? Será que o mesmo não consente que motivações tenebrosas florejem?