Os adultos agasalham o papel de compreender e de redarguir à “matéria” que a criança nos comunica através dos seus desenhos. Realçar que nos momentos mais pardacentos e penosos da sua vida, as crianças encaminham-se para um universo imaginário em que ninguém a impossibilitará de concretizar os seus desenhos. Será que as exteriorizações mais perceptíveis deste género de evasão não residem: nos sonhos; nos contos; nos jogos; nas narrativas; e nos desenhos? Será que não é fundamental perceber até que “superfície” o desenho é valorizado e privilegiado pela educação como mecanismo ou meio de manifestação? Quem conhece os dados ou os parâmetros identificadores relativos aos estádios do desenho infantil? Qual o significado que a família e os educadores outorgam à exteriorização gráfica infantil? Quais são as metodologias utilizadas nos jardins-de-infância para a comunicação alicerçada nos desenhos?
A esmagadora maioria das famílias interpreta o desenho como uma configuração de expressão individual, ou seja em casa as crianças desenham mais de modo livre. Por sua vez, nos jardins-de-infância o desenho é degustado mais como um utensílio para identificar e avaliar o conhecimento e o desenvolvimento do próprio discípulo. Será que nos jardins-de-infância, o desenho não deve despontar de modo espontâneo e “sincero”? Será que as crianças se devem sentir obrigadas a efectuá-lo? Será que o desenho não pode ser livre, mas também disciplinado a uma determinada temática? Será que o mesmo não pode ser executado em equipa ou de forma individual? Será que os jardins-de-infância não devem aquartelar multiplicidade e acessibilidade no que respeita aos materiais? Será que não é relevante que as crianças se sintam coadjuvadas, motivadas e venturosas? Será que a produção gráfica não deve estar inventariada com a comunicação oral? Será que essa comunicação não deve ficar registada para que o desenho, em observações e análises futuras, seja superiormente compreendido? Será que não devemos privilegiar sempre a forma espontânea? Será que essa forma não é, por si só, motivadora? Será que a dissecação dos desenhos não deve ser sistemática, organizada e fundamentada em critérios ligados às idades das crianças?
A manifestação ou a expressão gráfica devem ser degustadas como uma espécie de variável temporal que as crianças hospedam para patentear aquilo que pretendem, sabem, nutrem, sentem e conhecem em relação a um ocasionado tema. Talvez este seja o itinerário mais adequado para que a criança se expresse sem trepidez. Será que o espaço casa não deve constituir, de modo perpétuo, um manancial de comunicação entre as crianças e os “crescidos”? Será que os adultos não albergam a incumbência de procurar e evidenciar os entendimentos acerca dos sentimentos da criança patentes no desenho? Será que os adultos não devem falar sobre o desenho de modo cuidado, positivo e construtivo? Será que a expressão gráfica não deve ser constantemente revigorada, intensificada, valorizada e admirada? Será que as crianças não devem desfrutar de materiais pedagógicos e de espaços harmoniosos para desenvolver, de modo voluntário, honesto e prazenteiro, o próprio desenho? Será que nesta conjuntura os contextos de imposição são profícuos e bem recebidos por parte das crianças? Será que a imposição não desmotiva?
A acção de desenhar não deve ser compreendida pela classe adulta como uma forma das crianças ficarem preenchidas em termos de tempo, sendo fulcral conhecer como se interliga a expressão gráfica com os outros “territórios” de conhecimento. Os estudos sobre o desenho infantil devem estar confederados a projectos de investigação que embrulhem as “variáveis” inteligência, motricidade e personalidade. Será que os docentes e os familiares não devem ter em ponderação e em consideração o desenvolvimento da criança, direccionando proficuamente as suas produções sem nunca as achincalhar? Será que não acaba por ser elementar conhecer as rotinas da expressão? Será que a apreciação dos auxiliares de educação, pelo facto de conviverem muito tempo com as crianças, não é importante e por vezes decisiva? Será que não é basilar reconhecer, nomear e dominar os dissemelhantes formatos de interpretação dos próprios desenhos?
Os parâmetros perfilhados para decifrar o desenho regulam-se principalmente pelo traçado, pelas cores, pela localização, pelos elementos constitutivos e pelas faixas etárias das crianças. Podemos seguramente referir, e unicamente como exemplo, que em circunstâncias hospitalares, o desenho infantil está vinculado não só à avaliação de índices de ansiedade e de perturbação relativamente às intervenções cirúrgicas, como também à indagação de conceitos de saúde e de doença em crianças portadoras de enfermidades crónicas ou permanentes. Logo, o desenho infantil tem sido aproveitado como ferramenta de recolha de informações em investigações acerca de dificuldades ou contrariedades emocionais, bem como de entendimentos de conceitos de saúde e enfermidade de crianças.
O desenho, ao longo dos tempos, tem sido interpretado como um utensílio que permite às crianças estruturar informações e conhecimentos, accionando experiências vividas e cogitadas. As experiências gráficas constituem parte integrante do desenvolvimento psicológico, acabando por ser imprescindíveis para o aparecimento e formação de cidadãos sentimentais, sensíveis, fecundos e criativos, aptos a ultrapassar as contrariedades da vida e a metamorfosear a própria realidade. Será que este delineamento não “aguilhoa” a criança a desenvolver um formato de representação singular do mundo? Será que esse formato não é importante para o aperfeiçoamento da criança?
Devemos oferecer atenção suficiente aos desenhos realizados pelas crianças, de forma a não desperdiçar pormenores repletos de significado e de pigmentação. Desde que nascem, as crianças embrulham-se com o mundo que as rodeia, procurando comunicar e interagir com o meio envolvente. Uma dessas formas de interacção é o desenho. Desenhar, que implica exercer pressão sobre uma folha de papel com traços provavelmente espontâneos e carregados de significado, constitui uma actividade que propicia prazer, contentamento e emotividade às crianças. Será que esses movimentos não vão sendo aperfeiçoados ao longo dos tempos? Será que os desenhos não evoluem? Será que a interacção, que abrange múltiplas fases, não nos permite adquirir alguns graus de conhecimento e de experiência? Será que as pessoas não procuram melhorar e avançar incessantemente? Será que as crianças não passam por etapas que ajudam a aperfeiçoar o desenho infantil?
Paralelamente à evolução dos traços gráficos edifica-se no pensamento das crianças a imagem psicológica daquilo que está em seu redor, ou seja daquilo que as circunda. O conhecimento sobre o desenho infantil também pode ser degustado como um instrumento que acarreta proficuidade à laboração pedagógica dos docentes, proporcionando superiores índices de qualidade, de organização, de fundamentação e de significação na edificação da aprendizagem infantil. Como se definem os vocábulos criatividade e imaginação? Será que os gatafunhos iniciais não evoluem para desenhos mais completos, harmoniosos e estruturados?
A demonstração de interesse por parte dos adultos em relação ao desenho promove as texturas de autoconfiança, de amor-próprio, de firmeza e de segurança, libertando e estimulando, concomitantemente, a imaginação e a criatividade das crianças. Referir também, e nunca entrando em linha de contradição, que cada criança nasce com os seus intrínsecos talentos, ou seja a evolução do desenho depende da idade, da prática e da própria criança. Será que não é relevante conhecer as vantagens que o desenho transporta para as crianças?
Alguns dos benefícios que o desenho tem para as crianças são: o desenvolvimento da psicomotricidade, nomeadamente a motricidade fina; o fornecimento dos alicerces para o desenvolvimento da escrita e da leitura; o incremento das telas de auto-estima; o avigoramento das texturas de expressividade e de criatividade; o aperfeiçoamento emocional e intelectual; a consolidação como meio de comunicação, de revelação e de manifestação; a estruturação do seu temperamento ou do seu carácter; o abrandamento dos escalões de agressividade e de hostilidade.
Na medula do desenho infantil, as atitudes e os comportamentos por parte das crianças espelham o seu estado de espírito. A criança pode principiar o desenho e riscá-lo fazendo outro desenho na mesma folha; rasgar o desenho que havia iniciado e deitá-lo para o cesto do lixo; e eliminar os traços que menos aprecia ou estima no desenho. É fundamental não só o que a criança desenha, como também a observação do comportamento da mesma enquanto desenha. A criança pode desenhar em silêncio, a falar ou até a cantarolar, tendo cada um destes contextos uma ou mais leituras. Alguns pais elogiam e aplaudem bastante os desenhos dos seus filhos. Outros apresentam-se mais críticos, procurando constantemente explicar como se faz. Um castelo, um prédio, uma árvore, uma mota ou um carro desenhado, por exemplo, no oceano não significa que a criança não se está a desenvolver ou que não tem ideia da realidade. Será que no “ritual” de desenhar, a criança não age e não interage com o meio?
Quando a criança demostra alegria ao desenhar um familiar “amado”, concebe-o com cores vivas, alegres e quentes. Numa conjuntura inversa, quando está melindrada, ofendida ou irritada com algum elemento da família, sobretudo em episódios trajados a violência, a criança desenha um monstro ou uma outra criatura pérfida utilizando cores pouco vivas e frias. Será que para analisar correctamente e minuciosamente um desenho infantil não é necessário ter em conta uma heterogeneidade de configurações e de “singularidades”? Será que a análise de figuras e de objectos é suficiente para uma profícua e abrangente interpretação do desenho? Será que não é essencial conhecer algumas características da vida da criança? Será que devemos estereotipar todos os desenhos? Será que cada desenho não é um desenho? Será que cada criança não é uma criança?
Por decisão pessoal o autor não escreve sob as regras do Novo Acordo Ortográfico.