A primeira socialização está intimamente associada ao grupo desviante e, simultaneamente, à circunferência do próprio consumo. A segunda socialização está interligada com a passagem pela instituição acolhedora. Por sua vez, a terceira socialização remete os indivíduos para a sociedade em geral. Realçar que a segunda socialização pode ser bem ou mal sucedida, assim como a terceira socialização, uma vez que existem casos que relatam que indivíduos ex-toxicodependentes recuperam mais tarde os estádios de consumo. Será que não podemos aglomerar os contextos de risco e de perigo, adjacentes às variáveis personalidade e toxicodependência, aos factores sociodemográficos, familiares e pessoais?
Os factores sociodemográficos agasalham: a idade; o sexo; o contexto escolar; a conjuntura laboral; a etnia; a habitação, e a preponderância ou a influência do grupo. Estes factores acabam por embrulhar todas as particularidades sociais e comunitárias que podem ser condição de desenvolvimento de um comportamento de consumo, tendo como pano de fundo o conjunto das vivências, assim como a personalidade de cada indivíduo. Quanto aos factores familiares, de referir que estes aconchegam os antecedentes familiares; a organização familiar; as correspondências afectivas; os encadeamentos entre o casal; e os “índices” de educação. Acrescentar que os factores familiares estão profundamente interligados com o uso de estupefacientes pela família; o comportamento por parte dos pais relativamente ao consumo de drogas pelos filhos adolescentes; os potenciais abusos físicos e sexuais; e as relações de proximidade e de respeito entre pais e filhos. Por último, temos os factores pessoais que embalam: a atitude; as experiências; as vivências; os antagonismos emocionais; as expectativas; e a estrutura de personalidade. Todavia, é importante salientar que a personalidade acaba por ser uma consequência das experiências relacionais, sociais e familiares de cada indivíduo. Será que os motivos que levam os indivíduos à toxicodependência não são múltiplos e de diferentes índoles? Será que algumas das causas que levam os indivíduos à toxicodependência não são a família; a experiência pessoal; os conflitos emocionais; a determinação pessoal; e a pressão exercida pelo grupo?
A família pode ser degustada como um factor ou um agente de risco quando existe perturbação do normal funcionamento familiar; deficientes níveis de comunicação; uso de drogas por parte dos pais; disposições positivas em relação às drogas e ao uso das mesmas; configurações imersas em autoritarismo; telas de violência física ou psicológica; e supervisionamento paterno ou materno exagerado e intemperado. A reprodução positiva e pigmentada das substâncias, bem como o pensamento de que as mesmas dissolvem os problemas deflectem da experiência pessoal do indivíduo. A pressão de grupo torna-se uma causa que transporta os indivíduos para a superfície da toxicodependência quando o indivíduo ambiciona pertencer a um grupo ou quando este tem receio de ser afastado do mesmo. No que concerne à determinação individual, podemos asseverar que esta se transfigura numa causa quando o indivíduo adolescente apresenta e dissemina condutas submersas em conflitos sociais, bem como algumas características de personalidade como baixa auto-estima; violência; impetuosidade; impulsividade; alheação; desinteresse; e insurreição. Quanto à intervenção no cabimento das toxicodependências, a mesma deve ser espigada de forma análoga nos cabimentos da prevenção; da dissuasão; do tratamento, da redução de riscos; da minimização de danos; e da reinserção.
O tratamento, enquanto um dos principais cabimentos, eixos ou pontos de intervenção, acarreta a definição dos cânones estratégicos que administram e superentendem o sistema no qual os indivíduos se encaixam, assim como os elementos, os métodos, os arquétipos e os processos que os incluem. Esta conjuntura é significativamente intrincada, pois as necessidades de cada indivíduo variam, não existindo uma abordagem de tratamento que seja adequada a todos os doentes. Será que a essência e a estruturação das intervenções de tratamento não podem assumir inúmeras configurações a cada instante? Será que ao longo do tempo as mesmas não foram sujeitas a influências de cariz político, religioso, cultural e económico?
O tratamento, em termos genéricos, pode ser definido como a prestação de uma ou mais intervenções organizadas, em superfície da saúde, no comportamento e na vida pessoal ou familiar de um indivíduo, com a finalidade de o coadjuvar a administrar a sua saúde física, mental e social, assim como outros problemas que deflectem do uso de substâncias psicoactivas. Será que o objectivo principal do tratamento não passa por melhorar o funcionamento pessoal e social do indivíduo? Será que o tratamento não é um método que principia quando os indivíduos que consomem e abusam de substâncias psicoactivas entram em contacto com um prestador de saúde ou com qualquer outro serviço comunitário? Será que as intervenções específicas, prescritas nos tratamentos, não procuram superiores índices de saúde, de comodidade e de tranquilidade? Será que o tratamento não envolve mecanismos para a detecção, assistência, cuidados de saúde e integração social dos cidadãos que patenteiam problemas decorrentes, de forma directa ou indirecta, do uso de substâncias psicoactivas?
As estruturas de tratamento podem ser categorizadas do seguinte modo: unidades públicas; unidades privadas; unidades privadas convencionadas; e unidades privadas não convencionadas. O despacho conjunto nº 18683/2008 de 14 de Julho dos Ministérios das Finanças, da Administração Pública e da Saúde, prescreve as disposições a observar no estabelecimento das convenções entre o Estado, através do IDT, IP, e as unidades privadas de saúde, com ou sem fins lucrativos, tendo em vista o auxílio ao tratamento de pessoas toxicodependentes e alcoólicas. A rede nacional de unidades de tratamento inclui: as unidades de desabituação; os centros de dia; as unidades de alcoologia; e as comunidades terapêuticas.
No que respeita ao tratamento em regime de internamento, o mesmo pode ser de curta, média ou longa duração, exigindo que os doentes fiquem na instituição durante inúmeras semanas. A desintoxicação nos tratamentos em regime de internamento de longa duração acaba por ser, em diversas ocasiões, obrigatória, uma vez que um dos alicerces de toda a dinâmica é a abstinência de droga. Será que as abordagens que abraçam e embrulham a comunidade não agasalham diversas vantagens de índole emocional, social, educacional, e comunitária? Será que não é fundamental sensibilizar cada vez mais os cidadãos para a prestação de coadjuvações indeclináveis? Será que não precisamos uns dos outros? Será que o processo de ressocialização, com o auxílio dos técnicos especializados, familiares, amigos e restante comunidade, não é sempre exequível? Será que acreditar não é importante? Será que alguém pretende estar do lado de fora do convívio social?
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