As terras agrestes e frias da Raia talharam o meu carácter.

Ao lado dos trovadores, as musas registam e murmuram mistérios. Adoro a lealdade das tuas rugas, cultura irrigada pela bravura. Dás-me vistas bonitas, quadros abstractos e dialectos sumarentos. Cumprimentas a escuridão, o enigma, o orvalho e a luz da madrugada.
Não tens grades que me impossibilitem de caminhar ou de sonhar. Uma noite na rua traz desassossego, fantasia e alegria. Nos teus recantos desenho trinta caminhos de cristal. Sussurra-me, ao ouvido, o teu poema preferido e baloiça comigo no teu leito.
Escuto uma canção romântica e tropeço em loucos passos de dança. Sorrisos expansivos e cesta de melodias. Água cristalina que desafia o mundo. Magia contagiante, grito de verdade e de vigor.
Superfície de inspiração para todos aqueles que te visitam. Alma completa e ilustrada. A palpitação da humanidade, as praças expressivas e as palavras sinceras. Luz forte, límpida e harmoniosa.
Uma personalidade maior confidenciou-me, com voz rouca de vaticinador, que o caminho se faz com aquilo que realmente somos. A nossa identidade e dignidade. Em telas de serenidade, desenho a minha terra com amor. Emerge o espírito de entreajuda que nos torna humildes e firmes.
As sombras das noites quentes de Inverno, à lareira. Transmitir as nossas raízes identitárias. Sentimento de responsabilidade. Vínculos possantes, tantas emoções ao rubro.
Beijos intensos e abraços apertados, a imortalidade dos afectos. O teu olhar está repleto de histórias e de tradições, és um templo abençoado. A Mesa dos Quatro Bispos e a Lenda do Milagre das Rosas. A felicidade e a genuinidade que o teu interior me oferece.
Espaço de erudição que dissemina mundos no mundo. Paisagens e aromas de encanto, território de liberdade. As flores crescem e as minhas ideias amanhecem. Despertas paixões e concebes pinturas de equilíbrio.
A leveza e o sossego do teu regaço, atributos plurais. Memórias e narrativas para contar, contextos únicos. Ofereço-te, com agrado, a minha escrita, a minha arte. Adoças-me o coração e o pensamento, contigo contemplo a beleza que desfila na simplicidade.
As terras agrestes e frias da Raia talharam o meu carácter. Relações e códigos de conduta muito próprios. A capeia, o encerro, os bois, os cavalos, os escritores, os pintores, o rio, os castelos, as festas religiosas, o xaile, o lenço na cabeça, as histórias do contrabando, a gíria dos contrabandistas, a fotografia rasgada, as travessias “a salto”, o eterno Natal, a carroça, o carro de bois, a castanha, o cabrito, a truta, os enchidos, a panela de ferro e o luar. Manifestações que tocam e despovoam a solidão.