Há, pois, uma pandemia em curso e há ainda mais motivos de receio para o fim do verão.

José Carvalho, num livro recentemente publicado: em Economia COVID-19, define assim Pandemia: “corresponde à existência de condições extremamente facilitadas na propagação de um agente no ambiente, determinada por movimentos migratórios, facilidade de transporte, concentração de indivíduos. Estes fatores podem determinar um processo epidémico caracterizado por uma ampla distribuição especial da doença, atingindo diversas nações e continentes.” Há, pois, uma pandemia em curso e há ainda mais motivos de receio para o fim do verão. Alguns deles bem fáceis de afastar, como a mega festa do Avante, por exemplo. Estava na nossa mão não promover grandes eventos que objetivamente intensificam o risco.

A crise sanitária deriva em crise económica e esta fez disparar sobretudo o desemprego jovem, que chega agora aos 26%. Outra vez! É verdade que já em setembro de 2019, muito antes da pandemia, Portugal era o país da Europa que registava maior subida do desemprego entre jovens; mas agora será ainda pior. Um em cada 4 desempregados é um jovem. O que fazer?!

Por outro lado, a subida da idade para a reforma dos atuais trabalhadores para valores a rondar os 67 anos, quando a média atualmente ronda os 60, fará com que as oportunidades vão escassear ainda mais. Durante quase uma década, o processo vai ser alongado, mantendo-se as pessoas por mais tempo a trabalhar. Estamos, nesta matéria, a passar de carreiras de 30 anos para muito mais de 40 anos de vida contributiva. A renovação dos postos de trabalho também não é matemática, empregos há que se extinguem com a reforma do trabalhador que vinha ocupando o lugar extinto.

As dificuldades são pois imensas. Não será então um tempo de redistribuição de oportunidades pelos mais novos?! Já temos a redistribuição do rendimento pela progressividade das taxas de IRS ou da tributação dos carros de maior cilindrada ou das não isenções de IMI em função do valor dos imóveis. Mas, quando não há oportunidades para os jovens quadros, o que fazer?! Seria possível dedicar algumas oportunidades aos mais jovens?! Já existem alguns programas, como os que promovem empregabilidade no interior e que poderão ser aproveitados (ver artigo de Pires Manso no Beira.pt), mas parece-me ser um tempo de mais ousadia.

Sabemos que os jovens estão académica e tecnicamente preparados como nunca e que poderão emigrar correndo atrás das ofertas de trabalho nos países que primeiro saírem da atual crise, como aconteceu no passado recente e acontece ainda hoje, pois a emigração nunca parou. Como retê-los então e aproveitar o seu conhecimento ao serviço do PIB nacional?

Creio que só com um programa de redistribuição de oportunidades e começando também os empregadores a exigir menos experiência como requisito. Para se ter experiência é preciso começar por algum lado e as empresas e organizações, na hora de contratarem exigem sempre tanto aos colaboradores, em matéria de experiência, que afastam muitos jovens do mercado de trabalho. O foco estará pois em alargar o horizonte de oportunidades para estes jovens à procura da porta da entrada no mercado de trabalho. Porventura teremos de fixar quotas para proteger os mais jovens.