Há muitos apreciadores de poesia, todavia a mesma necessita de ser mais divulgada. Os encontros de poesia, as feiras do livro, a declamação de poemas nas ruas, as tertúlias de poesia, as antologias de poesia e as oficinas de escrita constituem algumas configurações que devem ser concretizadas com maior assiduidade, pois contribuem, de modo significativo, para a divulgação da poesia, assim como dos nossos escritores e pensadores.
Não considero que a poesia seja o parente pobre da actividade cultural, embora reconheça que há poucos projectos culturais que têm a poesia como protagonista. É certamente importante disseminar a poesia por todos, mas em tempos de pandemia essa relevância acaba por sair reforçada. De referir que há poetas na nossa região que têm enorme valor e que, paulatinamente, vão conquistando o seu espaço na superfície nacional.
Recordo, e tal como já referi inúmeras vezes em apresentações de livros de poesia, que a poesia é inútil, daí a sua incomensurável grandeza. O maravilhoso da poesia talvez seja mesmo a sua inutilidade. A poesia é a mais inútil e, simultaneamente, a mais transformadora manifestação do homem. A poesia não prova nada, sendo simplesmente e naturalmente aquilo que o homem sente e expressa.
O confinamento foi propenso à criação poética. Em tempos de pandemia acabamos por meditar mais em afectos, liberdade, desejos, sonhos e contradições. Reunimos recordações, temos os corações apertados e desalinhados, avistamos cenários labirínticos, gritamos ao tempo recente e acreditamos na madrugada. Tantas emoções, risos e lágrimas!
As antologias de poesia assumem uma extraordinária importância não só para os novos autores que desejam entrar no mercado editorial e ter um livro publicado, como também para os autores consagrados, pois as mesmas robustecem a presença destes autores no intrincado mercado editorial. As antologias acabam por ser um estímulo à literacia, podendo ser uma espécie de trampolim para muitos escritores.
Escritores com características diversas acabam por outorgar grandeza e relevância às antologias de poesia. Facilmente encontramos textos arrojados que patenteiam uma procura clara e incessante de produção de conteúdo que seja reconhecida não só pela qualidade, como também pela estética. As antologias são um produto literário, fruto de projectos democratizados.
A poesia tem um incontornável e inexplicável encanto que nos metamorfoseia, nos ilumina e nos faz reflectir. Os momentos nos quais a poesia está presente transformam-se em autênticos espaços de revelação, de libertação, de prazer e de imaginação. A poesia é conhecimento, agitação, afogo, entusiasmo, sedução, indecisão, cogitação e prazer. Caminhos descobertos e encobertos, umbrosos ou soalheiros, que nos lapidam. Residir na poesia é residir no mundo!
O actual saber “imediato” e “produtivo”, que municiona o mercado de consumo, talvez tenha distanciado, das práticas e procedimentos escolares, a experiência poética alicerçada na construção de poemas e respectivas declamações. A poesia é fundamental para a sociedade e os alunos devem estar próximos da mesma, de modo a aprimorar e solidificar a tão necessária, apregoada e oportuna “ligação” à literacia.
A Poesia torna as pessoas esteticamente mais exigentes, promove a literacia, educa artisticamente, incrementa o apetite de aprender, democratiza o acesso à criação, robustece os vínculos sociais, desperta a criatividade e estreita o hiato cultural entre os grupos sociais, marginalizando, ininterruptamente, os contextos inflexíveis, imorais e perversos inerentes aos preceitos do mercado de consumo. A cultura de massa, altamente industrializada, estandardizada e edificada com a finalidade do consumo e do lucro, não se identifica com a Poesia. Ainda bem que assim é!