A extensa nomenclatura das organizações sociais compreende: a economia solidária; a economia social; as organizações sem-fins-lucrativos; as organizações não-governamentais; as organizações sociais; e as organizações voluntárias.

Será que o conceito de solidariedade não pode ser conjecturado na circunferência da partilha? Será que no mesmo não está adjacente uma ligação entre dois ou mais cidadãos? Quais são os valores e os princípios que indumentam a partilha e a relação, ou seja a interdependência? Será que a solidariedade não arroga a importância de um valor que incorpora em si a essência de todos os outros? Será que a solidariedade não alberga a alusão a um ambiente de bens comuns e a um género de regulamento ético da vida social?

A solidariedade acaba por ser uma característica única do homem, sendo precisamente por esse motivo que está circunscrita a componentes de cariz fisiológico e necessita de uma atmosfera própria para crescer, modernizar e exteriorizar. Somente escoltando finalidades globais de coesão social é que conseguimos alcançar o ambiente de paz e de serenidade social tão indispensável ao desenvolvimento absoluto de todas as pessoas. Existem configurações de conhecimento educacional que apadrinham conspecções integradas e integradoras das realidades sociais. Será que não é fundamental a existência de um processo de formação completa das novas gerações humanas? Será que a transmissão dos valores não constitui uma inquietação perpétua nas estratégias de educação e de formação das crianças e dos jovens?

O valor define-se como aquilo que um bem ou um serviço vale, podendo ser saboreado como a qualidade capital que o torna conveniente e oportuno a todos aqueles que o utilizam ou usufruem. Neste entrecho, podemos asseverar que se trata de uma qualidade coligada às normas, aos padrões e aos ideais de um grupo, correspondendo a uma tela de desejo própria, peculiar e partilhada. O valor partilhado, quando substantificado, acaba por ser um elemento fulcral de uniformidade e de identidade social que beneficia e protege o grupo e o indivíduo. Os valores operam como princípios que direccionam os procedimentos e que preestabelecem o indivíduo: a preencher determinadas posições; a adoptar determinadas posições; a analisar-se a si próprio e aos outros; e a influenciar terceiros quanto a crenças, atitudes, disposições e acções. Será que a sociedade do conhecimento, para se metamorfosear em democrática, solidária, interdependente e equitativa, não precisa fundamentar-se em valores como o respeito pelo tempo do outro, a sensibilidade, a paciência, a atenção, a escuta e as atitudes de coadjuvação?

Os valores reflectem-se na globalidade da existência social, sendo através dos mesmos que, espontânea ou menos espontaneamente, se erguem os mais importantes e completos instrumentos reguladores e impulsionadores da resistência, do vigor e da “uberdade” da própria sociedade. Será que não é essencial realizar uma meditação, ainda que seja epidérmica, sobre o sistema de ensino e a transferência de valores? Como é que se aprendem e interiorizam os valores? Quem os transmite? Será que os mesmos são capturados unicamente em contextos teóricos? Será que a transmissão de valores não pode valer-se de múltiplas instituições? Onde se enquadra a instituição “família” nesta temática?

Actualmente as famílias desestruturadas parecem mais a regra do que propriamente a excepção, redundando, em variadíssimas ocasiões, em crianças entregues a elas próprias e aos meios de comunicação social. Será que esta “dissertação” não é um entendimento social universalizado? Será que esta conjuntura não erige um conjunto de perguntas relativo à função social da família contemporânea? Quais são os vértices da educação? Quem os define? Qual é a importância que a transmissão dos valores assume na sociedade hodierna? Quem define as obrigações, os deveres e os direitos parentais?

O progresso que acompanhou o conceito de família, bem como a sua disseminação a uma pluralidade de paradigmas produziu alguns desabados e tumultos ao nível do mecanismo de cedência e de aquisição de valores. Inadvertidamente estas interposições têm vindo a ser contrapesadas socialmente através de uma transferência de responsabilidades para o itinerário da educação formal, facultado, de forma convencional, na instituição “Escola”. Qual deverá ser o papel da Escola? Será que o papel da Escola, enquanto defensora de valores e agente de transmissão dos mesmos, é recente? Será que o argumento relacional proporcionado pela escola, não constitui um campo fecundo para aprofundar, adquirir e disseminar valores? Será que os valores não têm somente importância quando existe encadeamento com os outros, ou seja, na partilha? Será que alguns valores não são consensuais na comunidade de base? Será que os mesmos, e por esse raciocínio, não podem ser degustados como autênticos pilares sociais?
O voluntariado congrega um aglomerado de singularidades como sejam: a gratuidade; a espontaneidade; a disponibilidade; a responsabilidade; a sensibilidade; a solidariedade; o equilíbrio; e a continuidade. De realçar que os valores são presença elementar e imperiosa no voluntariado. Na realidade, são estes valores, intimamente ligados à finalidade, receptividade e disponibilidade do voluntariado, que dilucidam a motivação para a sua prática, bem como as remanescentes particularidades que o “localizam” e o definem. Se nos inclinarmos sobre o modelo das organizações não-governamentais, percebemos rapidamente que para a maioria das mesmas o voluntariado representa uma face colorida e fundamental, sem a qual a sua existência não seria economicamente exequível. É descomplicado perceber que todas essas organizações, tácita ou explicitamente, labutam tendo por alicerce valores que autenticam a sua actividade e outorgam um propósito ao próprio labor. O desígnio e o propósito embrulhados nos valores da instituição constituem a nascente de motivação que no voluntariado e no voluntário é intrínseca, ou seja, escoa do próprio indivíduo e, por essa razão, dispensa compensações externas. Será que o voluntariado não se tem vindo a inveterar na cultura ocidental contemporânea? Será que o mesmo não assume a configuração de exteriorização de “consciência social”? Será que o voluntariado não é uma espécie de movimento social desenhado por indivíduos que, de modo apaixonado, gratuito e desinteressado, concretizam empreitadas para outros cidadãos ou para a sociedade, por livre escolha e por recursos tranquilos e pacíficos?

Todos os tipos de voluntariado social, sejam eles realizados com crianças, jovens, adultos ou idosos, procuram, em certa medida, conceber impacto afirmativo na pessoa ou grupo a quem se destina. Deste modo, aquilo que verdadeiramente empurra muitos cidadãos para o voluntariado social acaba por ser a confirmação individual da autonomia física e intelectual num diagrama de solidariedade e companheirismo.

O trabalho voluntário no mundo, apesar de ser efectuado de forma voluntária, também sofre metamorfoses e influências semelhantes às do trabalho assalariado. Presentemente o trabalho está ligado a inúmeros arquétipos de transformação. Nesse cenário estão incluídos alguns fenómenos como sejam: a globalização; as inovações tecnológicas; o incremento da competitividade nos espaços nacional e internacional; a maleabilização das conexões laborais; a reorganização produtiva; e a internacionalização dos mercados financeiros. Como contestação e resposta aos dissemelhantes géneros de problemas sociais consequentes de crises estruturais e conjunturais, torna-se essencial fortificar as organizações que consagram a assistência social através da prática de actividades alicerçadas no trabalho voluntário.