A profissionalização da gestão acaba por ser fundamental não só para o sistema de qualificação das empresas comerciais, como também para a sua própria sustentabilidade futura.

O contexto empresarial português, nomeadamente no sector do comércio, é maioritariamente constituído por empresas de reduzida dimensão. Na maioria das ocasiões, as empresas comerciais somente detêm uma superfície de venda e empregam dois ou três colaboradores, dispondo de mecanismos financeiros franzinos, capitais de exígua importância, bem como de parca solidez na perspectiva do conceito comercial e de deficiente dinamização comercial do próprio espaço de venda. Será que esta conjuntura não as torna bastante dependentes do capital alheio? Será que as mesmas não têm grande dificuldade em sondar, observar e escoltar as tendências do mercado, assim como em antecipar as suas metamorfoses, sinuosidades e evoluções? Será que essas empresas interpretam correctamente os novos estilos de vida e as modernas propensões de consumo?
A falta de uma afinada sucessão empresarial tem provocado o entorpecimento de variadíssimos negócios, uma vez que os empresários com mais idade não encontram prossecutores competentes e motivados para modernizar, fortalecer e aperfeiçoar os negócios de família. O carácter individualista de boa parte dos pequenos retalhistas tem-se mantido e até reforçado ao longo dos anos, exteriorizando pouco descerramento para a aplicação de processos e procedimentos colaborativos, bem como para a perfilhação de técnicas, estratégias e metodologias inovadoras de “confeccionar” comércio. Se agruparmos a esta conjunção, a crise económica, social e financeira em que Portugal está mergulhado alcançamos um desfecho pouco alentador.
Nos últimos tempos, temos assistido a um decréscimo expressivo do consumo privado em Portugal, em consequência da diminuição do poder de compra da população. Esta condição tem contribuído significativamente para o enfraquecimento do sector, com o incremento do número de falências e simultaneamente de desempregados.
Salientar e revigorar que a inexistente ou ineficiente pantalha de coadjuvação; os fracos níveis de qualificação por parte de muitos empresários; as práticas de gestão desadequadas e desordenadas; o desvigoroso recurso à inovação e à mudança; o exíguo domínio das novas tecnologias de informação e comunicação; as incalculáveis dificuldades em desenvolver uma abordagem mais estratégica da actividade empresarial; a fraca utilização de configurações avançadas de comercialização; alguns arquétipos de negócio ultrapassados; algumas práticas e metodologias comerciais desactualizadas; e as ténues disposições financeiras com capitais próprios reduzidos, constituem contextos que acabam por estabelecer gigantescas trincheiras que obrigatoriamente têm de ser suplantadas para que o aperfeiçoamento do negócio se concretize.
A profissionalização da gestão acaba por ser fundamental não só para o sistema de qualificação das empresas comerciais, como também para a sua própria sustentabilidade futura. Os empresários têm forçosamente que dominar as principais competências e procedimentos ao nível da administração do negócio, como sejam: a gestão financeira; o marketing; e a liderança. A experiência, o adestramento e a formação contínua arrogam uma função elementar na arte de “produzir” negócio. Em analogia com boa parte dos empresários, os colaboradores das pequenas empresas comerciais também não apresentam “quantidades” suficientes de preparação para o cumprimento das suas empreitadas. No negócio de proximidade torna-se essencial saber criar empatia com o cliente, lidar com a reclamação e fechar uma venda. Será que o escasso domínio das tecnologias de informação e comunicação, das línguas estrangeiras e das técnicas de venda, de exposição e de vitalidade da superfície comercial não constituem uma colossal “impertinência” ao aperfeiçoamento e dinamização do negócio?
Para sermos “divulgados” num mercado tão concorrencial como o do comércio a retalho é indispensável agasalhar uma tela de lineamentos vincados, marcantes e inconfundíveis que seja identificável pelo mercado, que possibilite às empresas despontar dos múltiplos concorrentes a actuar no mercado.
O trabalho em rede é um formato eficaz para o pequeno comércio ser competitivo em relação a outras configurações comerciais de superior dimensão. A fórmula é relativamente descomplicada, passando por repartir custos e benefícios numa estratégia em que todos granjeiam. A parte difícil é a da implementação, pois a mesma acarreta um assentimento voluntário e responsável, a este processo colaborativo, por parte dos empresários.
O turismo deve estabelecer uma sólida parceria com os retalhistas. É impreterível que ocorra uma estruturação em função da oferta comercial das lojas comerciais tendo em conta este tipo de consumidores. Será que é suficiente esperar pelos turistas nas lojas? Será que não é crucial arquitectar um diagrama comercial específico para os conquistar?
No tecido empresarial português, a maioria das empresas de reduzida dimensão não possui website, nem tão pouco executa vendas on-line. Esta condição sugere que existe uma periferia de crescimento elevada que importa preencher com uma colocação e aposta célere no campo da economia digital, precavendo profundos e futuros constrangimentos concorrenciais.
Um dos grandes entraves do comércio de proximidade está profundamente associado com a dimensão do mercado, obviamente de exíguo tamanho e bastante árduo de ampliar, devido principalmente aos quadros de investimentos que envolve. A densa variedade do cabimento rural português, assim como o desenvolvimento dos arquétipos de mudança constituem texturas produtoras de paradoxos e de oportunidades, mencionando constantemente a necessidade de cada vez maiores fragmentos de conhecimento. Será que não chegou o momento de rectificarmos os nossos automatismos de compra, bem como de reconquistar algumas memórias e tradições? Será que o comércio de proximidade estará inevitavelmente condenado a ceder face à proliferação das grandes superfícies nas periferias? Será que o mesmo não merece uma nova oportunidade?
Na realidade, são os empreendedores locais que arriscam e apostam na valorização dos produtos nacionais, descerrando as cortinas a um consumo mais contíguo, efectivo, sincero e sustentável. Nas localidades de franzina densidade populacional, a rentabilidade almejada e o ambicionado volume de negócios das empresas comerciais é, em diversas ocasiões, difícil de alcançar. Essas conjunções acabam, na maioria das vezes, por estar circunscritas às configurações do próprio estabelecimento, sendo fundamental estudar e conhecer a realidade e as necessidades do território.
Uma das principais críticas apontadas às pequenas empresas comerciais localizadas em espaço rural é a prática de preços elevados comparativamente aos que desfilam nas grandes superfícies. Esta disparidade de preços explica-se fundamentalmente pelas circunstâncias de abastecimento e de logística serem menos benignas nas zonas rurais. Nas superfícies rurais há uma contenda maior contra os resultados contraproducentes do isolamento do comerciante, impossibilitando muitas vezes o comerciante de concretizar individualmente os investimentos corpóreos ou incorpóreos que a sua actividade e competitividade exigem. Todavia, nem sempre se verifica esta conjuntura, uma vez que existem comércios de proximidade que conseguem ter preços tão apelativos como aqueles que existem nas grandes superfícies comerciais.
O comércio de proximidade tem um papel relevante no provimento da população, na socialização, no aumento dos índices de qualidade da vida local e na fixação das populações. Para se triunfar nesta espécie de “peleja” e modificar o protótipo de estruturação do panorama empresarial português, é indispensável que o encorajamento à colaboração seja metodizado e sobretudo consignado na articulação do próximo período de fundos comunitários. Torna-se fundamental apoiar o comércio de proximidade nas regiões mais desprotegidas, aumentando a competitividade e evidentemente a sua perpetuidade.