Quando nos inclinamos sobre teses interligadas com a extensão territorial, deparamo-nos com um grupo de normas, arquétipos e raciocínios susceptível de ser analisado e perfilhado. Todavia, é frequente contemplarmos algumas definições, acepções e hiatos entre o litoral e o interior; o norte e o sul; e o urbano e o rural. Quanto à indumentária comercial, podemos referir que essas concepções também são habitualmente usadas para caracterização e fundamentação das dissemelhantes dinâmicas manifestadas ao nível do tecido comercial instalado, ou seja comércio em superfície urbana e comércio em área rural.
Ao longo dos tempos surgiram novas configurações comerciais como são: os hipermercados; os centros-comerciais; os outlet; o franchising; e o comércio electrónico. Será que estes formatos não edificaram e amamentaram fracturas colossais no campo da gestão das técnicas e das metodologias comerciais perfilhadas? Será que não temos assistido a profundas metamorfoses nas rotinas de vida e de compra dos próprios consumidores?
Os consumidores estão cada vez mais exigentes, com uma excepcional capacidade de ingresso à informação através do acesso célere e fácil aos meios de comunicação. Desfilam modernos paradigmas de existência, nos quais a variável tempo passou a ser bastante relevante. Os cidadãos consomem mais fora de casa e fortaleceram novos índices de indispensabilidade. Desenvolveu-se a vontade do “pleonástico”, não só adquirindo objectos, como também “símbolos” e “marcas”. Será que o comércio não está encaixado na extensão lúdica de vida, experimentando, por exemplo, “a enorme satisfação em ir às compras”? Será que a competitividade das organizações não depende fundamentalmente da competitividade dos territórios onde as mesmas estão inseridas? Será que o aperfeiçoamento consonante dos territórios não está subordinado à salubridade das empresas que ali se encontram acomodadas?
Os estabelecimentos comerciais, em espaço rural, acabam por acumular, entre outras, as funções da típica mercearia e da tradicional taberna. Trata-se de um espaço que, em algumas conjunções, continua a cumprir uma função que ultrapassa o simples fornecimento de bens alimentares às populações locais. O meio rural agasalha problemas intimamente ligados com o enfraquecimento das actividades tradicionais; a desertificação humana; e a inaptidão para conservar as populações. Conjunções que edificam uma realidade preocupante e obviamente inquietante. Nas últimas décadas descerraram inúmeras transfigurações estruturais, nomeadamente de temperamento económico. As novas tecnologias e os modernos formatos organizacionais acarretaram uma desincorporação muito significativa da percentagem de trabalhadores que se ocupavam da produção material, na sua totalidade, não só na agricultura, como também na indústria. Portanto, o enfraquecimento da actividade agrícola; o declínio de algumas conjunções de emprego; o êxodo de jovens qualificados; as perniciosidades verificadas no próprio meio ambiente; as metamorfoses nos paradigmas de vida; as transformações dos contextos de consumo; e os progressos registados no sector da distribuição têm deixado as suas marcas na sociedade rural, particularmente nos espaços mais “desabrigados”.
O Comércio de Proximidade, instalado obviamente em espaço rural, acaba por estar cotejado com uma realidade que tendo em conta uma perspectiva unicamente económica e epidérmica, é assinalada por uma série de condições restritivas, catalogadas, fundamentalmente, com a conjuntura de diminuição da procura. As superfícies comerciais urbanas continuam, mesmo tendo em conta os seus inúmeros problemas, a exercer um enorme fascínio de atracção para as populações das comunidades rurais. Todavia, existem comércios em meio rural que têm combatido eficazmente e com enorme mestria a concorrência exercida pelas grandes superfícies comerciais, apresentando os mesmos produtos a preços iguais ou inferiores. Locais, onde o próprio espaço físico é de excelência, nos quais a simplicidade e o requinte se aúnam. Em alguns destes locais temos a clara e prazenteira sensação de se “andar no tempo” no que toca ao contexto visual do estabelecimento, bem como às tipologias e multiplicidade dos próprios produtos disponíveis para venda. Será que os estabelecimentos comerciais, em fragrância rural, não cumprem uma função preponderante ao nível do dinamismo, da coerência e da coesão nas comunidades rurais?
O comércio, insulado, não terá certamente vigor suficiente para ressuscitar as aldeias, as vilas ou as cidades, porém o comércio é um argumento fulcral de um diagrama colectivo de procura constante de melhoria das condições de vida. Na realidade, torna-se necessário descobrir um conjunto de políticas integradas e específicas que salvaguarde e revitalize o mundo rural na sua totalidade.
O Comércio de Proximidade é uma mais-valia para a população circunvizinha, uma vez que por barrentas vezes se deslocam aí para adquirir produtos. Contribui seguramente e significativamente para melhorar a qualidade de vida das populações, tirando partido daquilo que ainda subsiste nos meios rurais. A decoração, exposição, iluminação, ambiente e higiene constituem condições que são alvo de bastante reflexão, pois as mesmas têm bastante significado e relevância para os gerentes deste tipo de lojas. Os esforços por parte de quem edifica e gere este género de comércio visam principalmente os clientes locais, pois os mesmos constituem o alicerce do seu negócio. Acrescentar que neste tipo de comércio, a probabilidade de encontrarmos produtos de origem nacional é maior. Este facto acaba por desaguar numa superior qualidade do produto.
Com o Comércio de Proximidade desfizeram-se alguns mitos. Desenganaram-se aqueles que pensavam que a diversidade e os preços franzinos somente desfilavam nas grandes superfícies. Desenganaram-se aqueles que pensavam que o bom gosto, a criatividade e o refinamento somente perfumavam os grandes espaços comerciais.
O Comércio de Proximidade escoltado, em diversas ocasiões, por um acolhedor e sóbrio Café revela elevadas doses de solidez no que toca ao conceito comercial, assim como uma mais que suficiente dinâmica comercial. Neste caso, torna-se fundamental que tanto por parte dos responsáveis da rede de lojas alimentares em “formato” de franchising, por exemplo “Amanhecer” ou “Meu Super”, como por parte dos gerentes das lojas em espaço rural exista uma salutar convergência de esforços e uma profícua auscultação das disposições, antecipações e evoluções de mercado, bem como uma proficiente interpretação dos novos contextos de vida e propensões de consumo. Mais do que o protótipo de negócio, são os procedimentos e as metodologias comerciais perfilhadas que assinalam a ausência ou comparência de competitividade neste género de comércio.
Realçar que quem gere este tipo de lojas tem obrigatoriamente de agasalhar bons conhecimentos ao nível da gestão do negócio, como são exemplo a gestão financeira e informática, a gestão de stocks, o marketing e a liderança. A arte de fazer comércio não se faz unicamente por apercepção ou com “jeito ou propensão para as vendas”. No comércio de proximidade, a experiência da compra é cada vez mais humanizada e subordinada à empatia e atracção que se edifica entre o comerciante e o comprador. O Comércio de Proximidade abriga uma imagem comercial forte e sólida que o caracteriza, que nos indica a sua personalidade e que, na realidade, acaba por ser a sua coluna capital do negócio. Tenta-se abraçar a atenção do cliente pela honestidade, novidade, magnetismo, emoção, amor e surpresa. Parabéns a todos aqueles que procuram elevar os espaços rurais.