Portugal, sem as fronteiras, viu a economia a oscilar; os preços agrícolas a desabar; as taxas de juro a baixar; o consumo a dilatar; a capacidade de resposta da produção interna a diminuir; e as importações a aumentar.

Podemos considerar a agricultura como a solução para duas finalidades peculiares: o aprovisionamento de alimentos com elevados predicados; e a produção das nascentes de energia. A agricultura constitui não só uma parte da economia, como também uma parte da nossa sociedade, cultura, história, biografia e ambiente. A utilização, disposição e conservação dos alicerces naturais são condições indivorciáveis da agricultura.

Portugal permanece estacionado numa economia pálida que aquartela dívidas espessas e taxas de desemprego assustadoras. Na realidade, Portugal nunca se transfigurou num País desenvolvido. É certo que os contextos de vida “convalesceram” imensamente, todavia esses progressos foram custeados pela cooperação externa e pelo crédito barato, em vez de derivarem de fundos, trabalho e requisitos próprios. As doutrinas económicas portuguesas continuam calamitosas, devido ao facto de as mesmas serem inaptas para conceber riqueza capaz de sustentar os serviços elementares de um País. Será que não é essencial valorizar, estimar, enobrecer, elogiar e exaltar a imagem da agricultura e dos agricultores junto das comunidades? Será que não é fundamental fomentar a verdade e a exactidão junto da sociedade?

O solo deve ser ocupado e exercitado de forma mais produtiva, através de técnicas de cultivo inovadoras. O desenvolvimento ocorrerá com o maior aproveitamento das terras que contemporaneamente são usadas para cultivo e pastagem.

O reflexo da paisagem que nos é íntimo exprime a imagem do nosso aperfeiçoamento cultural e económico, ou seja, povoações rurais, centros urbanos, áreas industrializadas, campos, pastagens, baldios e florestas. Na verdade, o semblante perceptível dos espaços rurais foi “monetizado” e edificado, de modo decisivo, pela movimentação agrícola protagonizada pelas inúmeras gerações. A agricultura também deve apresentar e prestar serviços que não sejam gratificados pela alienação dos produtos no mercado.

A agricultura moderna agasalha a incumbência de preservar a paisagem cultivada sempre na perspectiva do benefício comum, bem como os recursos naturais e a pluralidade biológica. Será que os serviços prestados pelos agricultores não devem superar, de forma significativa, a simples execução de arrumações sobre a salvaguarda da natureza e do ambiente? Será que os arquétipos de exploração sustentável não são fundamentais para a sociedade?

A esmagadora maioria dos agricultores encontram-se em situação de exasperação. As políticas públicas jamais devem olvidar-se da desesperança, esmorecimento, desconsideração e sentimento de insurreição que os agricultores hospedam e amiudadamente nos transmitem. A ancianidade dos agricultores acaba por ser um dos mais pardacentos dilemas da agricultura portuguesa, pelos desfechos desfavoráveis que se manifestam na deserção completa ou fragmentária das explorações, na inexistência de investimento, na ausência de índices de planeamento e nos sucessivos impedimentos à inovação. Será que o envelhecimento dos agricultores não espelha a inexistência de prismas profícuos para o futuro? Será que esta conjuntura não contribui para o distanciamento dos jovens em relação às actividades agrícolas? Será que os sucessivos Governos, com a ausência de verdadeiras medidas, não depauperaram profundamente a imagem da agricultura, enquanto laboração económica estratégica para Portugal? Será que a agricultura em Portugal tem algum futuro? Será que os agricultores portugueses não vão desistir, de modo definitivo, da produção agrícola? Será que os agricultores portugueses não necessitam de ser reverenciados e amparados em formatos idênticos aos dos agricultores dos restantes Países que compõem a União Europeia (UE)?

Compete seguramente ao nosso Governo aureolar o sector agrícola, assim como exaltar a soberania e coesão nacional, e garantir aos agricultores os contextos indispensáveis e suficientes ao desempenho da sua actividade.
Uma das “congregações” mais inveteradas da cultura ocidental é aquela que coliga o capitalismo com as cidades. O capitalismo previsivelmente germinou e medrou no seio das cidades. As cidades, pelas suas fisionomias de comércio, negócio e permuta, são potencialmente capitalistas. Na realidade, o capitalismo desabrochou, com maior ou menor vigor, em todos os locais. A tecnologia também ofereceu um vigoroso contributo ao capitalismo, uma vez que permitiu e impulsionou a produção de excedentes.

A configuração de como contemplamos e degustamos a agricultura e o cosmos rural encontra-se, actualmente, numa tela pintada a tons de metamorfose. A enorme conglobação urbanística e a insularidade de boa parte das superfícies rurais constituem factores que colaboraram para amplificar o hiato, principalmente mental, que desagrega as duas “comarcas”. A UE ambicionou incorporar as dissemelhantes estratégias nacionais numa política universal com a finalidade de circunscrever as desigualdades de desenvolvimento que desafortunadamente ainda se atestam em toda a Europa. Será que a humanidade não é comandada em função das conveniências capitalistas?