Boa parte dos adolescentes contemplam a violência física, sexual e emocional como uma conjuntura normal no namoro.

A adolescência está intimamente ligada aos contextos específicos de cultura nos quais o adolescente se encaixa, sendo um período da vida, com características peculiares associadas a maiores índices de amadurecimento biológico, histórico e social, que se situa entre a infância e a idade adulta. Contemporaneamente, e para além das metamorfoses de ordem biológica e psíquica, o conceito de adolescência agrega a ideia de uma edificação social dessa fase da vida, nomeadamente no que toca à diversidade de configurações de como a mesma é experienciada ou vivida.


A violência em ambiente escolar, no seguimento de inúmeros casos de actos de violência concretizados por adolescentes, acabou por se transformar num objecto de investigação com carimbo mediático. Infelizmente, e independentemente do tipo de violência, podemos afirmar que a violência está presente no “âmago” dos adolescentes. Será que os actos de violência não são sempre uma derrota?


A violência no namoro existe e é um fenómeno que nos deve preocupar a todos, uma vez que o mesmo provoca profundos impactos negativos nas vítimas, nomeadamente nos cabimentos da saúde física, psicológica e emocional. Será que não é fundamental identificar estratégias de intervenção mais aclimatadas a este tipo de violência?


Boa parte dos adolescentes contemplam a violência física, sexual e emocional como uma conjuntura normal no namoro. Na esmagadora maioria dos casos, os actos de violência numa relação de namoro são reiterados e agudizam-se com o passar do tempo. As consequências do decrescimento da autoestima são, por vezes, bastante mais graves do que as próprias marcas físicas que possam existir. Será que a autoestima enfraquecida não intensifica a situação de violência emocional?


A violência física é geralmente o último formato de violência a despontar no namoro, sendo anterior à violência psicológica e sexual. Na realidade, somente um número muito reduzido de jovens, embrulhados em contextos de abuso, é que procura ajuda, ou seja, a maioria dos jovens encobre a situação de violência. Será que as consequências da violência no namoro não são altamente destruidoras? Será que a aplicação de programas de intervenção que coadjuvem no esclarecimento e no desmantelamento de estereótipos e mitos de género não deve assumir um papel relevante? Será que a prevenção da violência no namoro não deve ser uma preocupação capital para todos os interventores da sociedade?


Apesar de existirem inúmeras semelhanças entre os adolescentes, a realidade é que cada adolescente vive de modo diferente esta etapa de desenvolvimento, patenteando transmutações de acordo com a sua cultura, sexo, idade, classe social e itinerários de desenvolvimento. Por essa razão, a forma de intervenção não deverá ser homogeneizada. Uma profícua intervenção contribui não só para a redução das taxas de violência, como também para amenizar as marcas nocivas nas vítimas. A violência no namoro constitui um problema de difícil resolução, trata-se de uma superfície pouco estudada em Portugal e socialmente aceite. Será que não é importante analisar as potencialidades e as fragilidades existentes nas estratégias de intervenção? Será que não é elementar o entendimento adequado desta problemática? Será que esse entendimento não vai permitir o desenvolvimento de um conjunto de medidas de correcção e de prevenção? Será que não é importante conceber uma base de dados que possibilite compreender as múltiplas dimensões deste fenómeno? Será que em alguns casos as estratégias de prevenção não se confundem com as estratégias de intervenção e vice-versa?