As chamadas de valor acrescentado constituem um negócio colossal para os canais de televisão, Portugal Telecom (PT), instituições bancárias e Estado (Finanças).

Os canais de televisão e a PT ganham uma percentagem em cada chamada; as instituições bancárias ganham uma taxa por cada transacção que o vencedor execute com o cartão de crédito que ganhou; e o Estado arrecada o Imposto de Valor Acrescentado (IVA). Na realidade, todos ganham, todos engordam e todos se enlambuzam.
Infelizmente, todos os dias os espectadores são seduzidos, pelos canais genéricos de televisão, a telefonarem para os números que desfilam em rodapé. “Ligue o 760……. e fique subitamente habilitado a ganhar X ou Y”. Há programas cuja existência se deve unicamente aos concursos, nos quais os apresentadores conseguem estar a maior parte do tempo a falar de patavina, aliciando constantemente quem os está a observar. Os mais incautos, e por isso aqueles que caem mais vezes neste ardil, acabam por ser os idosos e os mais desfavorecidos. Em diversas ocasiões, e não tendo sequer meios para liquidar as contas telefónicas normais, os mesmos recebem facturas com avultadas quantias para pagar. Na esmagadora maioria das conjunções, os prémios dos concursos das chamadas de valor acrescentado são pagos em cartão de crédito bancário.
Os apresentadores, péssimos profissionais, participam neste embuste, uma vez que conhecem o regulamento e publicitam o concurso tantas vezes que até enjoam. Esses programas dão vontade de vomitar. Os apresentadores chegam ao cúmulo de perguntar ao vencedor aquilo que vai fazer com o dinheiro, sabendo antecipadamente que não existe dinheiro algum em jogo. Aquilo que verdadeiramente existe é um cartão de crédito de um banco que o vencedor é obrigado a anuir, rubricando um documento emitido pela instituição bancária como recebeu aquele valor, que na realidade não recebeu. Assinando, recebe um cartão de crédito no valor do prémio anunciado que somente o autoriza ao pagamento de despesas durante um determinado e franzino período de tempo, desembolsando uma percentagem considerável por cada pagamento. Nos casos em que a data-limite expirar perde o saldo que lhe restar.
Se no regulamento dos prémios é indicado que as importâncias são pagas em cartão de crédito, qual será o motivo para a publicidade do concurso ocultar esta configuração de pagamento, bem como ludibriar os concorrentes conduzindo-os a acreditar que o prémio é liquidado em dinheiro? Onde estão as entidades reguladoras e fiscalizadoras que existem em Portugal? Será que não vivemos num País de idiotas e corruptos? Quais são as entidades que colaboram na venda de mercadoria contrafeita por original?
Alguns espaços que desfilam nas televisões generalistas são autênticos assaltos às carteiras dos cidadãos portugueses, carteiras já quase vazias devido à conjuntura política, económica e social do País. Qual é o nível musical, cultural e educacional dos programas que agasalham esses pardacentos prémios? Qual será a classificação que poderemos outorgar a tão tristes, imbecis e extemporâneos apresentadores? Será que esses programas não constituem um espelho da tela cultural que indumenta o nosso País? Será que esses apresentadores não roçam o grotesco? Será que os mesmos não são verdadeiros vendedores da treta? Será que o serviço público para as televisões generalistas, estatais ou não, significa embrutecer, asselvajar e alabregar os cidadãos?
Estes programas, estruturados de uma outra forma, até eram profícuos para todas as regiões de Portugal, uma vez que os mesmos davam a conhecer, em formatos saudáveis, honestos e agradáveis, os produtos regionais, as tradições, os costumes, as memórias, os artistas nacionais, a gastronomia, o turismo e as economias locais. O negócio das chamadas de valor acrescentado é uma iguaria tão relevante para as televisões como um bife para um leão. Se alguém ousar desviar essa iguaria, será certamente abocanhado e estraçalhado. Desafortunadamente goza-se com quem, por falta de visão estratégica, gasta, fazendo sucessivas chamadas de valor acrescentado, aquilo que precisa para ter uma vida mais ou menos digna.
O sector da publicidade televisiva está completamente descoordenado, sem qualquer espécie de autodomínio que nos proteja das hipérboles dos chamados telefonemas de valor acrescentado. Será que esta conjuntura não é uma ilegalidade desavergonhadamente impune? Será que o encorajamento para a execução dessas ligações telefónicas não pode ser saboreado como um autêntico contexto usurpador que entra nas nossas casas sem convite e conduzido por canais que pagamos?
A Rádio Televisão Portuguesa (RTP) indumenta-se de uma concorrência totalmente traiçoeira em relação às outras estações generalistas, pois ganha em três superfícies, ou seja na tarifa que pagamos; na parte do orçamento que lhe é destinada; e nos recursos financeiros que recebe da própria publicidade. Será que não é extremamente repugnante que as televisões utilizem concursos, engodando os mais imprevidentes, com a finalidade de alcançar simples, rápidos e adiposos lucros sem qualquer tipo de fiscalização? Será que os portugueses ainda não compreenderam que têm de acordar e açoitar esses infiéis promotores dos contos do vigário a que estão sujeitos todos os dias? Será que para muitas instituições não é fundamental continuar a conservar a população numa “canonizada” insciência? Será que o povo vai abandonar alguma vez essa tela de ignorância? Será que é preferível preservar os olhos tapados porque raciocinar dá muito trabalho?
As televisões encontraram nos sorteios a forma de sobreviver sem grandes dificuldades à crise financeira e adjacente diminuição dos orçamentos publicitários. A caça incessante às chamadas de valor acrescentado desfila na maior parte dos programas das televisões. Qualquer dia são os próprios jornalistas dos noticiários a invocar tais chamadas, ou seja a incitar os telespectadores a ligarem para os números dos sorteios. Será que nessas televisões e nesse tipo de sorteios os mais pobres costumam ter mais sorte?
Quando jogamos ou apostamos num jogo da Santa Casa da Misericórdia conhecemos os regulamentos. Para além de existir um regulamento público, também conseguimos saber qual a percentagem das receitas que está reservada a prémios e que os júris dos concursos são autónomos. Referenciar que nesta moldura as receitas do jogo não podem ser aplicadas e gastas de qualquer modo, uma vez que essa condição obedece a acordos e contratos com o Estado. Será que os proprietários das televisões, incluindo os da estatal, não promovem a miséria humana? Será que os lucros fáceis são dignos? Será que os lucros obesos deste jogo ilegítimo têm algum destino ou fundamento social? Será que no nosso País, os políticos e as empresas não agasalham mais pavor das estações de televisão do que propriamente do terrorismo?
Iva Domingues, Nuno Eiró, Isabel Silva, Hélder Reis, Rita Ferro Rodrigues, Fátima Lopes, Sónia Araújo (agora conhecida “São Rosas”), João Baião, Merche Romero e mais alguns imbecis acabam por ter um papel horrendo nas tardes dos fins-de-semana, nas quais apelam constantemente, e de uma forma vil, ridícula e imunda, ao telefonema. Perspicuidade e idoneidade são vocábulos que estes senhores e programas não conhecem. Será que não devia existir uma compacta comissão de ética para as programações das televisões? Que triste mundo é este que se deixa constantemente subornar? Será que no cosmos da crise, unicamente sobrevivem os gatunos? Porque é que esses apresentadores tão estupidamente simpáticos, já que participam em tantas festas de cariz solidário, não vão vender rifas para o Marquês ou para o Rossio?
Srs. Pivôs não brinquem com as dificuldades dos portugueses, pois o vosso encorajamento para que os cidadãos telefonem unicamente os amputa mais. Jamais jogar esse jogo sórdido é “tábua de salvação” para alguma coisa. Os conteúdos televisivos que escoltam e ornamentam os “760`s” são do mais básico, vulgar e ordinário que se pode conceber em Portugal. Tenham vergonha!