Este texto pretende abordar as consequências da COVID’19 no emprego e desemprego dos habitantes residentes nos concelhos da B. Interior. E também na R. Centro e no Continente.

Desde o fim de fevereiro passado que Portugal começou a ser afetado pela pandemia do Covid’19. Foi declarado o estado de emergência durante um mês e o de calamidade a partir daí.

No seguimento destas declarações quase tudo fechou: centros comerciais, comércio (com exceção dos estabelecimentos do ramo alimentar), indústria, escolas e serviços públicos (exceto hospitais e c. de saúde), proibiram-se visitas a IPSS, hospitais e outras instituições e as pessoas foram confinadas ou impedidas de sair de casa, e nalguns dias até de sair do seu concelho (nos fins de semana de Páscoa e do 1º de Maio): apenas se podia ir às compras de produtos alimentares, de medicamentos e prestar apoio a familiares necessitados. Em estudo anterior provamos que isso teve reflexos ao nível do encerramento de empresas, que aumentou, e da criações de empresas, que baixou. Este texto vem no seguimento desse outro e aprecia basicamente as implicações ao nível do emprego e do desemprego registado nas estatísticas do IEFP do passado mês pós Covid’19 (abril) deste ano por comparação com idêntico mês do ano transato (2019).

Comecemos pelo desemprego registado aos níveis nacional, regional (centro), Beira Interior e concelhos em que esta se divide. Assim, no passado mês de abril estão registados 368925 desempregados em todo o país, 50807 na Região Centro e 9267 nos concelhos da Beira Interior (nusts III Beiras e Serra da Estrela, incluindo a Cova da Beira, e Beira Baixa). No mesmo mês do ano passado, pela mesma ordem, tínhamos 297625, 43663 e 9103. Estes valores traduzem agravamentos do desemprego de 71300 pessoas (24%) no Continente, de 7144 (16%) na Região Centro e 164 (2%) na B. Interior.

No Continente em abril-20 os homens desempregados eram +35570 do que em abril-19  (165620-130050, cotas de 45%, 43.7%, resp) do total e as mulheres eram +35730 (203305-167575, 55% vs 56.3%). Proporcionalmente, no país as mulheres sofreram mais com o desemprego do que os homens, +1.3%. Na R. Centro e no mesmo mês de abril-20 os homens sem trabalho eram 22843 enquanto um ano antes eram 19363 logo são +2480 desempregados (+18%), enquanto as mulheres eram 27964 quando em abr-19 eram 24300, logo são +3664, ou +15%. Também aqui se vê que o desemprego dos homens é mais baixo do que o das mulheres apesar de a subida em termos relativos ter sido maior para os homens (18% vs 15%, resp., em termos absolutos são +2480 homens e +3664 mulheres).

Como era de esperar a maioria dos desempregados no Continente 66% (244142) eram desempregados de curto prazo, há menos de um ano, contra 56.2% (167289) há um ano ou mais, i.é, +76853 ou +46% do que há um ano. Os restantes 124873 eram desempregados de longo prazo contra os 130336 ou 43.8% de há 365 dias, uma redução de 5553 ou -4% nos de longo prazo. Por sua vez na R.C. o desemprego de curto prazo era de 33705 em abr-20 contra 24952 em abr-19, i.é, +8753 ou +35%. Os desempregados de LP eram de 17102 (em abri-20) vs 18711 (abr-19), ou -1609 pessoas sem trabalho, -9%.

De referir que no Continente e por faixas etárias, a faixa que mais sofreu foi a dos 35-54 anos cujo desemprego aumentou 447% (de 29 mil para 158 mil), todas as outras reduziram o nº de desempregados. Por sua vez no R. Centro quem mais sofreu foi a faixa dos 25-34 anos, +30%, seguida da dos 16-24 anos +22% e da dos 35-54 anos +20%.

No Continente e por habilitações escolares os que mais sofreram foram os habilitados com o E. Secundário +43%, seguido dos do 3º CEB +32%, do 2º CEB +24%, dos que têm menos do que o 1º CEB +12%, dos que têm ensino superior +11% e por fim dos que têm o 1ºCEB, apenas, +2%. Por sua vez na RC foram também e em 1º os habilitados com o E. Secundário +32%, depois os do 3ºCEB +23%, depois os 2ºCEB +22%, em seguida o ES +4% e por fim os <1ºCEB +1%; os do 1ºCEB reduziram o desemprego em 2%.

No Continente e no mês de abril-20 face ao mesmo mês do ano passado inscreveram-se no desemprego +27952 ou + 78% (32% dos quais arranjaram colocação no mês), sendo +15521 ou +96% homens (35% colocações) e +12431 ou +64% mulheres (30% colocadas). Por sua vez na RC e nas mesmas condições inscreveram-se +2350 ou +42% (das quais arranjaram colocação 41%), +1335 ou 51% homens (colocados 44%) e +1015 ou +34% mulheres (colocadas 38%). Em ambos os casos os acréscimos absoluto e relativo foram maiores para os homens.

Sobre as causas dos despedimentos no Continente e no mês de abril-20 face a abril-19 houve +276% de despedidos, +134% que foram dispensados por fim de trabalho não permanente, +70% eram trabalhadores por conta própria que não resistiram à Covid’19 e +45% por alegado mútuo acordo; e reduziram-se -7% os ex inativos inscritos, -3% os que se despediram por iniciativa deles e -40% os que alegaram outros motivos. Ao mesmo tempo na RC dos +42% de novos desempregados houve +198% que foram despedidos, +104% que alegaram fim de trabalho permanente, +52% por despedimento por mútuo acordo e +6% trabalhadores por conta própria que pararam a atividade; e reduziram-se -70% os ex inativos inscritos, +22% os que se despediram e +50% os que alegavam outros motivos. A maioria dos novos sem-trabalho foram despedidos (+278% e +198%, resp).

No que diz respeito ao desemprego jovem, ou de pessoas que procuram o 1º emprego, no Continente havia neste abril-20 e abril-19, resp., 26441 contra 28916, -2475, uma variação de -9%. Na RC eram 4701 vs 5191, i.é, -490 pessoas ou -9%. Quanto aos que procuravam outro emprego eram 342484 vs 268709, no Continente, uma variação de +73775 (+27%) e na RC eram 46106 vs 38472, resp., uma variação de +7634 pessoas ou +20%.

Entretanto segundo dados acabados de publicar pelo INE, “apesar das medidas adotadas para evitar a entrada direta no desemprego de muitos trabalhadores, a travagem brusca na atividade económica trazida pela pandemia do novo coronavírus conduziu mesmo assim ao desaparecimento, entre janeiro e abril deste ano, de mais de 100 mil empregos em Portugal, fazendo recuar este indicador para o nível em que se encontrava há dois anos”. De acordo com o INE entre janeiro e abril deste ano perderam-se 103 mil empregos. A diminuição foi de 26 mil em março e 58 mil em abril.

Consequências ao nível da Beira Interior e seus concelhos

Dos 22 concelhos considerados na análise temos alguns cujo desemprego aumentou muito em termos relativos e temos outros em que até subiu o emprego. No total o desemprego pouco variou nestes concelhos em abril-20 face a abril-19 pois foram apenas +164 pessoas (9267-9103), i. é, +2% apenas, 4314 homens e 4950 mulheres (47% e 53%, resp). Destes 59% eram desempregados de curto prazo (<1 ano) e 41% de longo prazo (+ de 1 ano), 13% eram jovens à procura do 1º emprego, e 87% eram desempregados que procuram novo emprego.

Em termos individuais o concelho que mais sofreu neste período por ter visto aumentar mais o desemprego foi Almeida +32,5%, seguido de Aguiar da Beira +22,8%, do Sabugal +15,7%, de Manteigas +12,8%, de Castelo Branco +10,4%, de Celorico da Beira + 6,9%, da Covilhã +5,5%, de Proença-a-Nova +5,4%, da Guarda +3,8% e de Belmonte +2,2%. Os restantes 12 concelhos até viram reduzir-se o desemprego neste período pandémico. São os casos de Trancoso com -0,6%, de Gouveia -0,9%, Vila Velha de Rodão -3%, Meda -3,2%, Seia -3,3%, Fundão -6,4%, Idanha-a-Nova -9,8%, Fornos de Algodres -15,9%, Penamacor -16,9%, Pinhel -17,1%, Figueira de Castelo Rodrigo -19,9% e, por fim, Oleiros -20,5%.

Claro que destes são os principais centros urbanos os que têm mais desemprego em termos absolutos, casos de C. Branco, Covilhã, Guarda, Fundão e Seia como se pode ver pelo gráfico seguinte. O concelho onde as variações (absoluta e relativa) foram maiores foi o de C. Branco, seguido da Covilhã, da Guarda, depois do Fundão e de Seia. Mas no cômputo geral o seu efeito foi diminuto pois não foi além de +2% o impacto do Coronavirus’19 no desemprego nesta região interior do país que, em termos epidemiológicos, foi igualmente, e desta vez felizmente, foi poupada pela própria pandemia.