A inteligência e o espírito crítico devem ser aplicados de uma forma producente na transformação da sociedade.

O povo de Deus tem perdido a “estabilidade” bíblica, privilegiando a conquista dos indivíduos em benefício da simples ampliação numérica. Contudo, é certamente legítimo afirmar que o mesmo acaba por menosprezar o discipulado, assim como o crescimento alicerçado na qualidade e na competência.

O homem não deve ser unicamente razão, mas também não pode ser somente sentimento e emoção. Será que a religiosidade do coração é mais importante do que a da mente? Será que uma consegue sobreviver sem a outra? Qual delas é a mais terapêutica? Qual delas é a mais teológica? Será que a reacção e os paradigmas de reflexão são sempre resultado de uma reflexão bíblico-teológica?

A “mercadoria” que sai da Igreja Católica acaba por ser um cristão franzino, com uma vida imediatista, epidérmica e delicada, sem capacidade de transfiguração para a própria existência e para a sociedade. Os cânones que indumentam a pós modernidade narram uma teologia ténue com escassa intervenção divina na história, sem o miraculoso, a certeza absoluta e o preponderante, ou seja um Evangelho sem Governo.

Será que a Igreja Católica nunca foi autoritária, tirana, intimista, materialista e egocêntrica? Será que os líderes da mesma não são, na maioria das ocasiões, seduzidos pelo dinheiro e poder? Será que os contextos de oração não podem ser definidos como um autêntico mercado?

As cadeias de televisão cristãs que divulgam os seus programas em diversas Nações, ao contrário daquilo que as mesmas pensam, constituem um mecanismo privilegiado para a transmissão do Evangelho cultural americano.

Será que a Igreja Católica não tinha um tesouro? Será que a mesma algum dia pensou que esse tesouro pudesse vir a ser furtado? Será que os altares são lugares de defunção ou de recompensa? Será que o Vaticano não está a ser controlado pelas sociedades secretas?

Será que a separação entre fé e razão não edificou uma espécie de racionalismo? Será que a audácia da razão não se tornou uma ameaça para a fé? Será que a proclamação da independência da razão, da liberdade da fé e da autonomia de pensamento não provocaram algumas voltagens imprevistas?

A modernidade, com o seu processamento cultural e histórico intrincado de transmutação de mentalidades no Ocidente, acabou por transportar inferências para a fé, uma vez que as mesmas espicaçaram os indivíduos para índices maiores de probidade intelectual, bem como para patamares maiores de observação e apreciação da própria história e das transformações que ocorrem na sociedade contemporânea.

Será que não é fundamental que os cidadãos duvidem e ataquem, tendo em conta a chancela da razão crítica, os mitos, as prescrições e as superstições das religiões? Será que a incredulidade não é sinónimo de progresso e justiça?

Será que o cepticismo e a crença não se podem mesclar? Será que a reacção da Igreja Católica, em relação a alguns delineamentos de desconfiança, não foi altamente negativa? Será que essa condição não provocou um distanciamento da Igreja em relação à ciência, à vida e à própria experiência humana corpórea?

Será que a Igreja Católica não condenou o modernismo? Será que a mesma, pela adopção de comportamentos repressivos incorrectos, não acabou por se tornar a vítima? Será que a Igreja Católica não desalinhou a experiência religiosa? Será que a modernidade não insistiu na experiência e meditação pessoal como formas de cada indivíduo compreender a realidade e a ficção existente em redor de Deus?

A Igreja Católica foi reconhecida como parte integrante das teias da anti modernidade, e, por esse motivo, passou a ser saboreada como conservadora e retrógrada. Na realidade, estabeleceu-se uma dualidade entre fé e ciência, ou seja entre subjectividade e objectividade.

Será que o excessivo dogmatismo e a desvigorosa argumentação não constituíram contextos de retrocesso cultural e social? Será que o Vaticano não silenciava os católicos? Será que a modernidade não constituiu um processo que invalidou convicções oriundas do passado? Será que a Igreja Católica não fragilizou os atributos de vida e a avaliação moral?

A Igreja Católica parte da pressuposição de que a fé em Deus constitui quase a única condição para se edificar uma sociedade fraterna e pacífica. A mesma também defende que apenas onde os indivíduos legitimam um Pai comum é que todos se reverenciam como irmãos. Será que em muitas circunstâncias não se usa o vocábulo Deus com a finalidade de perscrutar e explorar os “irmãos”?

Infelizmente, a Igreja Católica está longe de nos presentear com princípios de reflexão, critérios de julgamento, índices de apreciação e verdadeiras instruções que sejam capazes de metamorfosear a sociedade numa superfície mais humana, digna e pigmentada.

Será que a Igreja Católica não se devia preocupar mais, utilizando até o seu próprio património, em reduzir a fome, a indigência, a marginalidade e as iniquidades sociais? Será que o Deus da fé cristã não permanece ainda como um autêntico enigma?

Será que esse mistério se conhece ou simplesmente se reconhece? Será que a fé cristã não deve ser de decisão livre e responsável? Será que a crença embrulha toda a nossa existência, razão e coração? Será que a fé impulsiona o cristão a transfigurar o mundo? Será que não é difícil acreditar em Deus? Será que é difícil viver sem o mesmo? Será que dizer sim a Deus faz algum sentido?

Os cidadãos compõem a sociedade, uma vez que na realidade ninguém se “concretiza” sozinho. À honorabilidade está associado o princípio da solidariedade humana. Cada homem deve contribuir para o bem comum.

Os encadeamentos entre fé e razão podem perfilhar múltiplos vértices e fisionomias. Podem ser de neutralidade, quando a razão desponta com o procedimento exclusivamente racional e com a renúncia à fé. Essas concatenações também podem ser de hostilidade ou de congruência.

Ao contrário daquilo que muitas vezes acontece, a doutrina social da Igreja Católica pressupõe uma convenção dos católicos com o uso da razão no aperfeiçoamento técnico e científico do Universo. A inteligência e o espírito crítico devem ser aplicados de uma forma producente na transformação da sociedade.

O racionalismo moderno, através da ciência e da técnica, proporcionou ao homem a criação e o planeamento racional. Será que não é elementar estudar as disposições da convivência humana que se devem estabelecer em todo e qualquer sistema social, cultural e político? Será que a sociedade não necessita de uma teologia crítica? Será que a Igreja Católica não agasalha avultadas doses de simulação?

Sem entrar em nenhum género de contradição, podemos certamente afirmar que a crença acaba por fundamentar, ainda que historicamente, a própria ciência. Contemporaneamente a concepção científica desfruta da preferência da opinião pública.

Acredito, sinceramente, que não haverá mais gerações que interpretem o mundo e a sociedade a partir dos modelos religiosos. Será que religião e fé são duas palavras sinónimas? Será que não existem religiões nas quais a fé nunca foi o alicerce e o âmago das mesmas?

A “doutrina” até pode ser necessária no seio da Igreja Católica, todavia jamais será suficiente para instruir as novas gerações, bem como nunca terá competência para fazer o mundo progredir.

Desafortunadamente, ao contemplarmos o espaço social e político, facilmente se comprova uma enorme separação entre a doutrina da Igreja Católica e a realidade.