Racional e objetivamente, parece existir espaço para mais candidaturas, pois isso decorre das elevadas taxas de abstenção.

Pedro Santana Lopes, um político com vasta carreira, obra feita e ocupação de cargos desde as importantes Câmaras Municipais de Lisboa e da Figueira da Foz, passando pelo Governo – tendo mesmo sido Primeiro-Ministro – e pela Assembleia da República, decidiu deixar o PSD para criar um novo partido político. As razōes para a sua decisão foram explicadas pelo próprio em carta aos militantes. Do que li, sai de bem consigo próprio e com o seu PPD de sempre.

A questão agora é se há em Portugal espaço para um novo partido que, neste caso, será social-liberal, ou seja de centro-direita, pela transparência, pelo respeito dos valores da cidadania, mas com enorme pendor social, ou não tivesse Santana Lopes sido Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, onde tomou conhecimento e contato com os mais vulneráveis da nossa sociedade.

Frequentemente, dizemos que já há partidos que cheguem na nossa jovem democracia, mas depois as taxas de abstenção – brutalmente elevadas – apontam no sentido de que, afinal, quase metade dos eleitores não se revê nos partidos existentes e não se sente representado por nenhum, optando por não votar, que o mesmo é dizer, por não legitimar qualquer representante.

É, pois, uma verdade absoluta que entre 30 a 50% (consoante os atos eleitorais) simplesmente não votam e voltam costas à democracia. As eleições para o Parlamento Europeu estarão aí na próxima primavera e veremos as “vergonhosas” taxas de participação…

Também é verdade que mesmo os que votam gostariam de ter por vezes outros candidatos, mas na falta desses outros, votam na ” escolha possível”, pois nem sempre os melhores estão disponíveis para a causa pública. São as regras da democracia.

Racional e objetivamente, parece existir espaço para mais candidaturas, pois isso decorre das elevadas taxas de abstenção. Talvez a nossa jovem democracia tenha mesmo de dar esse espaço a novos movimentos através dos quais se sintam representados os que normalmente militam na abstenção. No fundo, um pouco por toda a Europa é isto que está a acontecer… E por que haveria de ser diferente por cá?!

Mesmo nas nossas vilas e cidades, nas escolhas autárquicas, as pessoas por vezes queixam-se das limitadas opções que os partidos tradicionais lhes propõem e muitas vezes acabam por se abster ou por votar nos “menos maus “. E é assim porque a sociedade não se mobiliza para além dos partidos “tradicionais”, e também porque as regras parecem feitas para a hegemonia destes.

É neste quadro que surge e se explica a posição de PSL e a sua decisão. Ela não parece revestir-se de mero oportunismo, antes parecendo vir de um homem com grandes convicções e com ideias, que quer elaborar e construir no seio da discussão democrática, e fora dos partidos tradicionais. E, se para tal objetivo tiver de criar um partido político ou uma iniciativa cidadã, ele não hesitará e irá por esse caminho. É um homem de conhecimento e que se sente com muito para dar e sem nada a perder!! Quem parece perder, neste caso, é o PSD. Mas falta saber se poderá ganhar a democracia. O tempo o dirá.