Os hospitais, ainda que em alguns casos de forma paulatina, estão a ser apetrechados com novas tecnologias.

As transformações no espaço físico são imprescindíveis, uma vez que todos os índices de progresso, desenvolvimento, renovação e inovação tecnológica provocam um impacto profundo nas superfícies menos “habilitadas”. Infelizmente as novas tecnologias e as metamorfoses nos espaços físicos não desaguam da mesma maneira em todos os hospitais do País. Será que não existem portugueses de primeira e portugueses de segunda? Será que na área da saúde, e para não ser excepção, o litoral de Portugal não é altamente beneficiado quando comparado com o interior? Será que a evolução tecnológica não provoca o incremento dos requisitos de segurança e fiscalização dentro dos hospitais?

O homem agasalha necessidades fisiológicas, psicológicas, imateriais e sociais que devem ser saciadas para que o mesmo sobreviva. A sua inteligência e capacidade de aclimatação ao meio ambiente, que como sabemos está em ininterrupta transfiguração, estão intimamente ligadas ao modo como reconhece, analisa e supera as dificuldades. Estes “atributos” alteram-se de sujeito para sujeito, e num mesmo sujeito de época para época. As funções mentais, como por exemplo a consciência, atenção, memória, afectividade, pensamento e linguagem, acabam por fundar os processos que se iniciam da indispensabilidade dos indivíduos em adaptarem-se, face às barreiras estabelecidas pelo mundo “extrínseco”, às exigências involuntárias. Será que no ambiente hospitalar todos os profissionais de saúde se desassossegam, sempre com um intenso sentimento de pertença, com a segurança e bem-estar dos seus pacientes? Será que contemporaneamente os pacientes não estão bastante mais informados, impugnadores e exigentes? Será que esta conjuntura não acarretou e exigiu algumas mudanças de atitude aos profissionais de saúde?

Ao enfermar, especialmente em situações de hospitalização, os cidadãos são demitidos das disposições que até essa fase preenchiam na comunidade, passando a incorporar um conjunto ou grupo social específico, ou seja o dos doentes internados. Nesta conjunção são “decretadas” funções embebidas em espaçosos degraus de dependência. Geralmente nos hospitais o espaço físico é franzino e insuficiente; o horário das actividades é rígido e previamente definido; o vocábulo optar não existe; as indumentárias dos doentes deixam de fazer sentido; e os bens pessoais são “embargados”. Em algumas circunstâncias específicas, por exemplo naquelas que envolvem enfermidades infecto-contagiosas que requerem isolamento absoluto ou parcial, os dilemas psicológicos e sociais acabam por sofrer um forte agravamento. Será que a condição motivacional nos doentes hospitalizados não é peculiar? Será que a mesma não aconchega avultadas telas de insegurança, dependência e subordinação? Será que os doentes hospitalizados não aquartelam esguios padrões de auto-estima, de identidade e de reconhecimento social? Será que os mesmos não sentem a falta de algumas actividades, espaços “coloridos” e “simpáticos”, divertimento e correspondências sociais afectivas? Será que a ausência destas configurações não constitui uma cominação à sua identidade social? Será que a identidade social não pode ser degustada como o conjunto de conhecimentos e aprendizagens que o indivíduo abriga sobre si mesmo, resultado do “encadeamento” com os outros indivíduos?

Analisando as necessidades psicossociais elementares, podemos certamente referenciar que a estima constitui o contexto que mais directamente se relaciona com a identidade social, uma vez que “compromete” a avaliação dos indivíduos e a convivência com os outros. Será que os cidadãos hospitalizados não transportam um conjunto de valores, expectativas, hábitos e “protocolos”? Será que os mesmos não transmovem uma “sequência” de dinâmicas de comportamento e de comunicação?

É fundamental que os profissionais de saúde saibam e compreendam o porquê de determinado doente se comportar desta ou daquela forma, bem como qual a finalidade desse comportamento e como essa informação pode ser usada de modo favorável. Na realidade, os equívocos na recognição e compreensão dos comportamentos dos pacientes acabam por formalizar um manancial de voltagens psicológicas não só para os mesmos, como também para os próprios profissionais.

Na última década do século passado, os cidadãos começaram a assistir a um conjunto de abordagens sobre enganos na saúde, de carácter sensacionalista, nos meios de comunicação social. Esta conjunção “promoveu” o número de processos judiciais, assim como os valores financeiros das indemnizações. Os profissionais de saúde associam os insucessos profissionais à vergonha, aos castigos e à diminuição de notoriedade. Será que boa parte dos episódios de fracasso não podia ter sido evitada? Será que a maioria dos mesmos não foi o resultado da existência de corpulentas insuficiências no sistema? Será que a “notificação” de erros não é uma medida importante para a redução dos mesmos? Será que a identificação das causas não é fundamental para a implementação de estratégias de acção e correcção que impeçam que as falhas venham a desfilar novamente? Será que a elaboração de acções preventivas não assume um papel fulcral no combate aos erros?

A verdadeira e profícua gestão de risco somente é possível quando existe comprometimento de todas as partes envolvidas, ou seja administradores hospitalares, fabricantes, fornecedores e profissionais de saúde. O homem pretende, em formatos reiterados, encontrar o culpado desta ou daquela falha, ou seja o autor directo ou indirecto que irá receber punição. Torna-se relevante permutar essa ilustração castigadora por uma de supervisão ininterrupta dos riscos verdadeiros e potenciais. Será que esta empreitada é de fácil concretização? Será que a mesma não deve obedecer a algumas etapas de aperfeiçoamento? Será que as modificações organizacionais não devem promover os índices de qualidade e de segurança? Será que nas superfícies de saúde não é fundamental educar para a qualidade? Será que os hospitais actuais não podem ser degustados, em alguns pontos, como empresas? Será que os mesmos não se preocupam com a concorrência, a determinação de metas e objectivos, a previsão de tendências e movimentos, e a satisfação do cliente? Será que estas “condições” não podem ser contempladas como vigorosos instrumentos que permitem aos administradores compreenderem se a humanização desfila em todos os departamentos da instituição? Será que a humanização não é um contexto de qualidade?

Na realidade, uma qualidade não pode ser mensurada em quantidade, todavia pode ser computada pelo escalão de satisfação de quem utiliza o hospital, bem como pela lealdade, competência, generosidade e benevolência do atendimento realizado ou do serviço efectuado. O sector da saúde embrulha o ambiente físico, a climatização, a luminosidade, as decorações e as conexões humanas. Os encadeamentos interpessoais, assim como as atitudes alicerçadas na consideração, ponderação, respeito, proficiência profissional, afabilidade e afecto acabam por ser responsáveis pela cumplicidade e aproximação entre a qualidade e a humanização. Será que a qualidade se reflecte unicamente naquilo que é material? Será que a qualidade não se espelha também naquilo que é imaterial? Será que a humanização dos hospitais não deve ser o itinerário a seguir?

A humanização, no meio hospitalar, deve representar uma metodologia para atenuar o sofrimento dos pacientes internados. A humanização provoca a diminuição de custos, uma vez que através da mesma verifica-se a diminuição do período de tratamento e, consequentemente, de continuidade dos pacientes nas instituições hospitalares. Logo, é extremamente necessário que a instituição hospitalar esteja verdadeiramente comprometida com o processo de humanização e que os seus profissionais transmitam aos doentes elevadas doses de alegria, tranquilidade e segurança. É essencial ter a noção de que a humanização hospitalar está arrolada tanto com a qualidade no atendimento, como com o serviço que é prestado. Os gestores hospitalares devem embrulhar-se com o trabalho de toda a equipa e proporcionar uma gestão diligente, activa, humanitária, ousada e moderna.

O processo adoecer embrulha o doente que se encontra internado, bem como toda a família do mesmo. A família também acaba por viver a hospitalização diariamente. Neste contexto, será pertinente referir que existe a necessidade de encaminhar a observação à família, uma vez que a mesma sofre com os resultados da internação.

A família é fundamental para a recuperação e reintegração do paciente, pois colabora para a consecução da harmonia psicológica e diminuição dos índices de sofrimento. Será que a família não proporciona ao doente telas de ânimo, tranquilidade e esperança? Será que essas telas não são importantes para que a recuperação do mesmo seja bastante mais célere? Será que o hospital não é um espelho da debilidade física e intelectual dos indivíduos? Será que não é no seio dos hospitais que conseguimos contemplar, em formatos extremamente límpidos e cristalinos, a debilidade, a resistência e o vigor do ser humano na peleja constante para derrotar a morte?

A família pode ser definida como uma unidade capital e intrincada, com espaçosa multiplicidade de estruturas e configurações de organização do seu padrão de vida. A família engloba conceitos contemporâneos e é degustada como algo muito peculiar, especial e relevante para a esmagadora maioria dos cidadãos. O núcleo familiar deve ser o pilar da nossa existência, uma vez que no mesmo os compromissos e os vínculos são, ou deviam ser, muito mais espessos e sinceros. Quando um doente está internado, há uma separação do mesmo com a sua família, uma vez que não é consentido o acompanhamento constante, mas sim o horário de visita. Deste modo, a família não tem possibilidade de tratar directamente do doente, podendo esta conjuntura provocar na mesma um sentimento de impotência, desconsideração, afastamento e ausência de controlo. Será que a presença assídua da família no hospital não incrementa a humanização hospitalar em relação ao próprio doente? Será que não é no hospital que a humanização nunca pode escassear? Será que a humanização no hospital não pode ser degustada como uma acção solidária? Será que a humanização não é uma teia de edificação constante de vínculos de cidadania? Será que a humanização não pode ser considerada um instrumento de construção orgânica e “legislativa” do sistema clínico de saúde?

O temor é uma “dissertação” que agasalha elementos psicológicos e fisiológicos, sendo aguilhoado por percepções de risco iminente. Pode ser considerado como um sentimento natural quando existe um perigo autêntico que ameaça e intimida a nossa própria existência. Por sua vez, o pânico envolve uma condição mórbida, por vezes patológica, caracterizada por indicadores de medo, perturbação ou ansiedade altamente exagerados que provocam uma desarrumação, quase sempre interina, da personalidade. Será que a humanização hospitalar, bem como a presença da família não vão colaborar, de modo significativo, para a recuperação e satisfação do paciente internado? Será que as mesmas não contribuem para suavizar, nos doentes, os contextos de medo e pânico? Será que a humanização hospitalar não “homenageia” os direitos constitucionais dos pacientes, assim como o aprimoramento dos serviços hospitalares prestados? Será que o tratamento humanizado só deve desaguar nos pacientes? Será que quem labora na instituição não necessita também desses traços de humanização? Será que a sociedade caminha na direcção da consideração, ponderação, respeito, proficiência profissional e afabilidade? Será que por vezes não é importante debater o encadeamento entre profissionais e doentes, assim como entre administradores e funcionários? Será que administrar e humanizar não deviam ser “sinónimos”? Será que durante longos períodos de tempo, os hospitais não foram unicamente armazéns, nos quais se empilhavam os doentes? Será que os recursos financeiros do paciente não promulgavam a humanização em relação ao próprio?

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.