Os preços subiriam desmesuradamente após as limitações pandémicas. Seria assim em todo o mundo onde a economia de mercado estivesse estabelecida. A Covid retirara esse prazer de comprar, fruir e vivenciar durante dois longos anos.
Todos os agentes económicos se aperceberam de que havia muito dinheiro acumulado (à ordem) para levar para consumo. Por cá, e em média, cada português tinha 18 mil euros na sua conta à ordem; (são médias, eu sei…).
Logo todos trataram de dar “fogo à peça”. Os consumidores desatando a consumir como se não houvesse amanhã e as cadeias de fornecimento, ajustando os preços às disponibilidades financeiras dos consumidores.
O Verão bateu todos os recordes de consumo. o Algarve estaria em pleno, fosse a que preço fosse…
Pelo meio uma guerra com grandes implicações energéticas. Nada melhor do que pôr todas as culpas ao maldito petróleo (já assim tinha sido nos anos 70 e 80 do século passado). Estavam assim criadas as condições para subir todas as margens. Os atrevidos e “irresponsáveis” consumidores iriam pagar 10% a mais nos seus consumos. Foi assim em todo o mundo desenvolvido. Era também possível aumentar as taxas de juro para que o capital passasse a gerar rendimento para os aforradores de médio e longo prazos. Desse modo retirar-se-ía alguma dinâmica ao consumo, fomentando poupanças em produtos de prazo mais dilatado do que a disponibilidade dos depósitos.
Perante esta abundância comercial, a economia gerou empregos, as distribuidoras – da energia à alimentação – geraram lucros consideráveis de centenas de milhões de euros e as receitas de impostos aumentaram sem paralelo.
O problema é que nada disto pode ser sustentável a prazo. O desenvolvimento não pode sustentar-se apenas em consumo. A produtividade e o investimento são premissas mais importantes para assegurar curvas longas de crescimento económico. O que é efémero… já foi!
Para retirar o aumento dos preços do cenário macro-económico, sem debilitar a economia, poderia em governos de esquerda sobretudo, passar por uma maior regulação dos setores, podendo no limite fixar-se margens de lucro para os preços praticados pelos agentes económicos, sobretudo as grandes distribuidoras de energia e bens alimentares. Mas não. Espanha, Portugal e outros, preparam-se para subsidiarem o aumento dos preços, dando apoios aos mais desfavorecidos, até porque há muito dinheiro acumulado em receita de impostos para redistribuir.
Controlar a inflação colocando dinheiro em circulação nas famílias com maior propensão ao consumo, pode parecer socialmente adequado, mas não resolve o problema do aumento generalizado dos preços. Preferia ver as margens de lucro conformadas com a objetividade económica do que estas “esmolas” direitinhas ao consumo a preços exagerados. Note-se que muito desse elevado preço final não chegou ao produtor, que vende barato o leite, os legumes ou a fruta, não obstante os custos de produção, sobretudo a energia tenham aumentado muito.