Antecipámos aqui o que seria o resultado dos censos de 2021. Fizemos igualmente uma projeção dos últimos 20 anos, na qual previmos uma perda populacional máxima, no nosso distrito, de 37 939 pessoas, desde 2001. Agora que já são conhecidos os dados oficiais avançados pelo INE, sabemos que perdemos, efetivamente, nas últimas 2 décadas, 36 324 pessoas. O aumento da esperança média de vida poderá justificar o pequeno desvio daquela previsão inicial, ou mesmo o momento em que o “retrato” censitário se torna oficial. Seja como for, o distrito perdeu no Séc. XXI, cerca de 5 pessoas por dia.
Perdemos nos últimos 10 anos, 17 920 pessoas. Sabíamos que os dados, logo que divulgados gerariam um sobressalto cívico, pois ninguém quer acreditar num posicionamento tão severo, apesar dos cenários estatísticos apontarem para ele desde há muito tempo. Quase 18 mil pessoas em 10 anos, é perder dois ou três pequenos concelhos…
O distrito vem ficando mais pequeno, incluindo em representatividade política, com a passagem em 2019 de 4 para 3 deputados, mas vem ficando mais pequeno em oportunidades e em viabilidade económica para os negócios e serviços. Menos procura gerará menos oferta e menos investimento e consequentemente menos empregos. Um ciclo tremendo, portanto.
Numa próxima crónica tentarei dar aqui algumas pistas do que deve ser feito para minorar o problema. Atenção, apenas minorar, pois inverter começa a ser mais difícil e só com “políticas de peso”, nacionais e europeias, poderia ser alcançado. Parece estar alcançado um ponto de não retorno demográfico. Por muito que os autarcas façam, e sabemos que fazem, a alteração desta longa tendência não vai ser conseguida só com políticas locais. Serão importantes, mas não chegam para inverter o “destino”. Este tema é tão importante que obrigará à união de esforços e a muita cooperação interorganizacional.
Para já, e em linha com a inquietação pública dos números, antecipo no quadro infra o cenário para os próximos 10 anos. A metodologia seguida limitou-se a continuar a tendência das duas últimas décadas. Nada leva a crer que os próximos 10 anos possam ser muito diferentes dos últimos 10 anos (ou dos últimos 20). Em 40 anos o distrito perderá mais de 70 mil habitantes, ou 5 em cada dia que o sol se põe.
Não estamos sozinhos nesta tendência que alguns teimam em não querer ver. Também o país não está bem do ponto de vista demográfico, tendo perdido 2% da população nos últimos 10 anos. Até o Litoral já vem perdendo população, apesar da chegada aí de dezenas de milhar de emigrantes. Lisboa e Porto perdem população. Alterar este paradigma vai exigir concentração de esforços. Falta de gente, num mundo sobrepovoado é o maior dos nossos problemas, seguido de perto pelo endividamento ao estrangeiro.
No quadro infra, partimos dos dados oficiais de 2001, 2011 e 2021, e, seguindo a tendência dos últimos 20 anos, limitámo-nos a antecipar com alguma objetividade o que vai acontecer em 2031. Não está assim tão distante…O relógio da contagem dos próximos 10 anos já começou. Há territórios que vão nos próximos anos ficar tão despovoados que a densidade populacional será das mais baixas do mundo, pois são territorialmente extensos (com centenas de km quadrados de área).
Projeção populacional a 10 anos – Distrito da Guarda
2001 | 2011 | 2021 | 2031 | |
Almeida | 8 402 | 7 242 | 5 882 | 4 622 |
Aguiar da Beira | 6 227 | 5 473 | 5 228 | 4 729 |
Celorico da Beira | 8 818 | 7 693 | 6 582 | 5 464 |
Figueira de Castelo Rodrigo | 7 134 | 6 260 | 5 150 | 4 158 |
Fornos de Algodres | 5 606 | 4 989 | 4 398 | 3 794 |
Gouveia | 16 059 | 14 046 | 12 221 | 10 302 |
Guarda | 43 811 | 42 541 | 40 155 | 38 327 |
Manteigas | 4 071 | 3 430 | 2 909 | 2 328 |
Mêda | 6 197 | 5 202 | 4 632 | 3 850 |
Pinhel | 10 911 | 9 627 | 8 099 | 6 693 |
Sabugal | 14 799 | 12 544 | 11 281 | 9 522 |
Seia | 28 014 | 24 702 | 21 759 | 18 632 |
Trancoso | 10 846 | 9 878 | 8 419 | 7 206 |
V. N. Foz Côa | 8 448 | 7 312 | 6 304 | 5 232 |
Total | 179 343 | 160 939 | 143 019 | 124 857 |
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