O mundo litoralizou-se, pois, nos últimos séculos e sempre junto a grandes rios que traziam a água tão necessária e escoavam o saneamento dos aglomerados populacionais cada vez mais numerosos.

Nos últimos 500 anos todo o mundo chegou a todo o mundo e aí se estabeleceram novas cidades. As cidades portuárias foram as que mais se desenvolveram e as primeiras a ter aeroportos em complemento dos portos marítimos, com a chegada de pessoas de todo o mundo e, também, do interior dos respetivos países em busca das oportunidades da industrialização e dos novos serviços.


O êxodo rural começou nos Descobrimentos… e intensificou-se com as oportunidades que os novos mundos geraram. Sobretudo no Brasil e em África, numa primeira emigração e, já em tempos mais recentes para a Europa, face às oportunidades surgidas com a reconstrução pós-Guerra mundial.


O mundo litoralizou-se, pois, nos últimos séculos e sempre junto a grandes rios que traziam a água tão necessária e escoavam o saneamento dos aglomerados populacionais cada vez mais numerosos. O oceano, ali tão perto faria o resto, acreditando-se na sua capacidade regeneradora ilimitada… Essa aglomeração de pessoas ocorreu em praticamente todo o mundo. Só algumas grandes cidades históricas, capitais de países, regiões ou mesmo impérios (Madrid, Paris, Roma, Cidade do México, por exemplo) continuaram igualmente a crescer. Mas cresceram muito mais as cidades do litoral. O mundo hoje vive-se perto do mar, infelizmente para os territórios do interior.


Agora, sempre que uma catástrofe natural surgir – e sempre surgiram no passado e vão surgir no futuro – as perdas humanas e materiais serão sempre imensas. Construiu-se no leito dos rios e acumulámos milhares de milhões de pessoas em cidades, a maior parte delas nas costas marítimas. 2 em cada 3 pessoas vivem em cidades e estas localizam-se maioritariamente em zonas de baixa-altitude e propensas a inundações. Será assim, por mais diques que sejam erguidos…


Evitar este risco apontado desde há muito por quem investiga o tema das alterações climáticas, vai custar muito dinheiro. Recursos públicos que serão encaminhados para as cidades do litoral. E esses recursos ajudarão a acumular aí mais pessoas pelas oportunidades que vão gerar, como antes geraram as grandes infraestruturas portuárias, aeroportuárias, pontes e vias de comunicação.


Olhando aos programas eleitorais autárquicos das principais cidades do litoral, percebe-se que se vai apostar muito nos próximos anos – em linha com os ditames europeus – em habitação social e habitação a custos controlados. Ora, a carência de habitação era talvez o único e o maior impedimento a uma crescente acumulação de pessoas no litoral. Se o investimento público vai resolver esse impedimento, já se sabe o resultado. Um ciclo…