Trata-se de uma reflexão que, infelizmente, fará parte de tantas outras que acabam por ser de alguém do Interior para outros também do Interior.

Começava este meu artigo de opinião exactamente pelo título que resolvi atribuir-lhe.

Esta é a realidade que nos tem assolado nos últimos largos anos, vivermos num território que é permanentemente conotado e caracterizado com o despovoamento, o isolamento e a falta de oportunidades.

Nos sucessivos responsáveis que têm passado pelos Governos da nação, independentemente das cores políticas, o Interior do País tem contado apenas para o papel, para o embelezamento dos programas de acção política, ficando pelas palavras vertidas num papel de alta qualidade aquilo que se pretendia ver concretizado na simplicidade de várias acções necessárias.

A cada vez que ouvimos alguém com poder falar no Interior, renasce uma nova esperança que é desta que alguém se lembra de inverter as tendências. A última destas situações foi consubstanciada na constituição de uma Unidade de Missão para a Valorização do Interior com vista ao estudo e elaboração de um relatório com medidas concretas para a valorização do Interior. O resultado final de um primeiro relatório foram 155 medidas concretas e passado pouco tempo o pedido de demissão da responsável da Unidade, Dra. Helena Freitas. E porquê? Porque o relatório previa exactamente que não se deveriam encerrar mais serviços no Interior do País, mas as medidas concretas de quem governa continuam tendencialmente a optar por esse fatídico caminho de encerrar serviços e esvaziar o território.

Resumindo e concluindo, continuamos a ver um Interior muito valorizado no papel, no plano das intenções, mas nada valorizado nas acções do terreno. O Interior sofre daquilo que a nossa sociedade hoje em dia sofre, do egoísmo, do egocentrismo, do populismo, da visão curta, do eleitoralismo e nestas circunstâncias são os números que mandam, é a acção por reacção que vigora ao invés da acção pela estratégia e pela coesão territorial que deveria nortear as políticas nacionais.

Neste particular gostaria de destacar o papel e destreza do Dr. Álvaro Amaro, Presidente da Câmara Municipal da Guarda e dos Autarcas Social-democratas, que na sua incessante procura da defesa do Interior enquanto território a valorizar, desenvolver e promover patrocina e lidera um “Movimento pelo Interior – em nome da coesão”, tendo inclusivamente sido recebido no passado dia 4 de Novembro pelo Presidente da República em audiência que pretendeu dar a conhecer este movimento e seus objectivos que visam promover o consenso em torno de medidas políticas concretas que garantam a inversão da actual situação num prazo de 12 anos, ou seja, pensar com clareza, objectividade e realismo um Interior que precisa urgentemente quem o comece a pensar de forma diferente, não para soluções mágicas e imediatas, mas sim soluções estratégicas de longo prazo, sustentáveis, impulsionadoras e que tragam valor acrescentado.

Destacaria deste movimento a intenção de tornar a causa da interioridade uma causa nacional.

A minha expectativa é na verdade que este diálogo deixe de ser um diálogo de surdos, que pese na consciência de quem tem virado as costas a este sério problema e que nos próximos tempos possamos inverter a situação vigente até agora do Interior para…o Interior.