Actualmente são utilizados, com a finalidade de defesa, de ataque e de combate, dispositivos não tripulados que permitem evitar perdas humanas do lado ofensivo.

Vivemos e convivemos na época digital, na qual a dinâmica e a intensidade apresentada pelo cenário cibernético depreende e anuncia um temperamento desafiador, provocante, inquietante e despontante para a confecção e a vulgarização das políticas públicas, nomeadamente as que embrulham as superfícies de segurança e de defesa. Os drones simbolizam uma espécie de repto moderno para os espaços da segurança e da defesa nacional, muito por culpa da sua indefinição e da sua inconciliabilidade com os regulamentos e os princípios internacionais já estabelecidos referentes a equipamentos análogos. Será que sobre este tema não desfilam mais perguntas do que propriamente respostas? Será que os antagonismos hodiernos não estão a metamorfosear a meditação a abordagem e a abrangência da segurança internacional?
Salientar que o fim da guerra fria transformou-se e posicionou-se como uma espécie de fronteira temporal das metamorfoses contemporâneas, em que a reformulação e a reorganização do sistema e do planeamento internacional implicam novos contextos de defesa e modernos arquétipos de segurança. Os inimigos, visivelmente definidos e configurados durante as mais de quatro décadas concernentes à guerra fria, já não são facilmente identificados e compreendidos. Este género de dificuldade acaba por requisitar algumas alterações na própria capacidade de análise e de reacção dos Estados em se adaptarem às inúmeras e perigosas ameaças actuais. Será que a agenda de segurança não sofreu uma volumosa ampliação ao longo dos tempos? Será que a mesma não ultrapassa, em grande escala, as abordagens fundamentalmente militarizadas?
Ainda podemos considerar os Estados como os elementos fulcrais da segurança nacional e internacional, contudo os mesmos deixaram de figurar como os únicos protagonistas do jogo. Na realidade, o palco digital não constitui um novo assunto de investigação, no entanto deve ser degustado como um tópico em crescimento de pertinência e de relevância nos mais dissemelhantes cabimentos de análise devido não só aos seus vértices dinâmicos, bem como à sua capacidade de modificação das interacções humanas. Será que não é elementar perceber como a cibernética agasalha capacidade para afectar e transformar a configuração e a disposição da organização mundial, bem como para condicionar e influenciar a própria existência humana? Será que o campo de operação da cibernética não se denomina ciberespaço? Será que os estudos teóricos e conceituais sobre toda esta matéria são dispensáveis? Será que o conceito cibernética não transmove alguns ideais de governação, de comando e de projecção de poder?
Contemporaneamente a rede informacional, sobre a qual se procura governar e supervisionar, é degustada tanto como uma ferramenta utilizada pelos agentes políticos para alcançar algumas finalidades estratégicas, como uma extensão espacial bastante peculiar. Portanto, a cibernética pode ser cogitada e degustada como um instrumento de projecção espacial de poder, traduzindo-se essa comensuração no conceito de ciberespaço. Será que um dos aspectos mais importantes para a percepção do ciberespaço não é a sua natureza artificial? Será que a natureza artificial não é manipulada pelo homem? Será que o homem tem controlo total sobre a mesma?
Embora desfile o domínio humano sobre os cabimentos tradicionais, como sejam o ar, a água, a terra, a guerra, a paz e o próprio espaço, este nunca conseguiu manuseá-los integralmente de forma a atingir objectivos efectivamente abrangentes, prioritários e estratégicos. De modo inverso, o ciberespaço aquartela como particularidade capital a sua essência planeada. A noção de que o ciberespaço exprime a presença de uma extensão espacial acabou por ser abundantemente disseminada, logo é normal elevar e considerar uma concepção tradicional que conjecture a existência de fronteiras. No que respeita ao ciberespaço, por se tratar de uma realidade virtual que requisita uma interligação entre mecanismos computacionais via redes, as fronteiras na circunferência virtual e a questão da administração deste espaço tornam-se complexas, ainda mais quando se tratam de factos e de texturas primordiais para a segurança interna dos Estados. Será que o ciberespaço não se apresenta como uma espécie de tentação ou de desejo para todos aqueles que têm de tomar deliberações importantes relativamente às eventualidades de avanços estratégicos? Será que neste delineamento não desferra a paisagem da ciberguerra? Será que somente existem quatro dimensões tradicionais no que toca às operações militares, ou seja a terrestre, a de satélites, a marítima e a aérea? Será que o ciberespaço não é meditado e degustado como a quinta dimensão espacial? Será que o ciberespaço não interfere na ordem e na “arrumação” mundial? Será que o mesmo não hospeda capacidade intrínseca de intromissão na “convivência” internacional? Será que o ciberespaço não proporciona operações que eventualmente podem comprometer as actividades económicas, políticas e militares dos Países? Será que as interacções intercedidas pelo ciberespaço não deviam estar subordinadas a um conjunto de concordâncias internacionais? Será que o ciberespaço não abarca a totalidade dos indivíduos e dos sectores da sociedade? Será que ao longo dos tempos não aumentou significativamente a substituição de processos rudimentares por processos informatizados? Será que actualmente não existe uma clara dependência em relação ao ciberespaço? Será que não é elementar elaborar um género de classificação relativamente ao conjunto de vulnerabilidades ao qual os Estados se expõem? Será que essas debilidades não diferem de País para País? Será que as mesmas não dependem da maior ou da menor subordinação em relação aos sistemas computacionais?
Através da cibernética, os indivíduos controlam consideráveis aglomerados de actividades e de movimentos fundamentais para a sobrevivência e para a própria governação estatal. A cibernética somente ingressou na agenda da segurança nacional porque na verdade labuta com vértices preciosos de conveniência nacional, promovendo, desse modo, a sua própria inserção na formulação de políticas públicas. Cada vez vão sendo mais volumosos os esforços para a consolidação do sector cibernético. Esta condição acaba por criar emprego aos cidadãos especializados no desenvolvimento de soluções de elevado grau tecnológico. Realçar igualmente que esta conjuntura também provoca, dissemina e incute elevados graus de confidencialidade, de disponibilidade, de flexibilidade, de incorruptibilidade e de legitimidade às informações que circulam nas redes. Será que a ética e a moral, na medula dos encadeamentos internacionais, não constituem conceitos relativos? Será que a prática militar não foi obrigada a adaptar-se aos novos parâmetros de combate alicerçados nas novas tecnologias? Será que com o aparecimento dos mecanismos tecnológicos e autónomos, como os armamentos e os equipamentos de precisão, o procedimento militar não deve ser reformulado?
Actualmente são utilizados, com a finalidade de defesa, de ataque e de combate, dispositivos não tripulados que permitem evitar perdas humanas do lado ofensivo. Com o advento de novas ameaças à segurança internacional; de novas guerras económicas, políticas e religiosas; da declaração da guerra ao terror e ao ódio; do significativo incremento do número de grupos terroristas; de novos conflitos transnacionais; e da gradual relevância de grupos privados que actuam como verdadeiros agentes políticos de intervenção no panorama internacional, o combate militar tornou-se bastante mais intrincado, não tendo precedentes na biografia da humanidade. Será que as guerras não abandonaram os cânones tradicionais? Será que alguns dos livros clássicos que focam, debatem e controvertem a guerra e a paz nas correspondências internacionais não se metamorfosearam em obsoletos?
Com o surgimento de uma tecnologia como os drones, percebe-se que existe uma inclinação para a diferenciação entre a realidade real e a realidade virtual, condição que transporta algumas alterações na própria percepção da liberdade moral do mundo virtual, uma vez que a interacção pessoal é intermediada pelo ciberespaço e pelas incumbências morais do mundo real ou corpóreo. As “nascentes” da ética acabam por ser as conexões pessoais olhos nos olhos, logo podemos seguramente asseverar que a cibernética, ao intermediar essas conexões através da esfera virtual do ciberespaço, modifica essas ligações físicas e directas e, naturalmente, transforma a própria questão da moral. Será que a moral não está intimamente associada aos reflexos das nossas acções nas outras pessoas? Será que os princípios morais não devem ser compreendidos como construção social?