A propósito da pandemia Covid’19 todos ouvimos falar de layouts, de encerramentos, de insolvências e de processos judiciais que afetam as nossas empresas, e dos custos sociais que eles encerram. Mas será que a pandemia teve assim tantos reflexos negativos? Será que os empresários e as associações empresariais estão a exagerar para ‘sacarem’ mais alguns […]

A propósito da pandemia Covid’19 todos ouvimos falar de layouts, de encerramentos, de insolvências e de processos judiciais que afetam as nossas empresas, e dos custos sociais que eles encerram. Mas será que a pandemia teve assim tantos reflexos negativos? Será que os empresários e as associações empresariais estão a exagerar para ‘sacarem’ mais alguns euros ao erário público e ao ‘zé povinho’? Qual é o saldo de nascimentos, encerramentos, insolvências e ações judiciais? Criaram-se ou encerraram mais empresas do que antes da pandemia? Como está a situação no mês de junho pp? E no 1º semestre 20? E no ano que terminou em junho de 2020? E nos distritos do interior beirão, C. Branco, Guarda e Viseu quando comparado com o resto do país, como vai essa dinâmica? Estará o pelotão do litoral, também nesta dinâmica empresarial de criação de empregos, a distanciar-se?


Dinâmica empresarial no país


No mês de junho-20 e no país nasceram 2581 empresas (3259-jun19), encerraram 881 (1079-j19), ficaram insolventes 214 (156-j19) e tiveram processos judiciais 2799 (2985j19). As variações entre os 2 meses homólogos foram -20.8% nasc., -18.4% encer., +37.2% insolv. e -6.2% ações judiciais, a 1ª e a 3ª são variações negativas, a 2ª e a 4ª são positivas. Entre 1/1 e 30/6 de 2020 nasceram no país 17932 (27511/2019), encerraram 5844 (7694/19), entraram em insolvência 1175 (1130/19), e enfrentavam ações judiciais 13940 (15667/19). As variações entre os semestres homólogos foram -34.8% nos nasc. (neg), -24% nos encerramentos (pos.), +4% nas insolvências (neg) e -11% nas ações judiciais (pos.).


No ano que terminou em 30-6-2020 criaram-se 39937 (48657/19) novas empresas no país, 15979 (19142/19) encerraram, 2246 (2227/19) entraram em insolvência 214 (156/19) e tiveram ações judiciais 25512 (26770/19). As variações nos nascimentos foram -17.9% (neg.), nos encer. -16.5% (pos.), nas insolv. 0.9% (neg) e nas aç. judiciais -4.7% (pos). Em síntese, quer ao nível do mês de junho, quer do 1º semestre20 quer do ano 19/20 se verificaram menos nascimentos de empresas, o que é mau, fecharam menos empresas, o que é bom, entraram em insolvência mais, o que é mau, e enfrentaram menos ações judiciais, o que também é bom.


Barómetro ou Dinâmica Empresarial Distrital


No mês de junho de 2020 em Castelo Branco-CB, Guarda-G e Viseu-V nasceram 31, 11 e 77, resp., de um total de nascimentos no país de mais 2581. As variações anuais, face a junho do ano 2019, foram de -6.1% (33), -56% (25) e +5.5% (73), -20.8% (3259, país), resp. De 1-janeiro a 30-junho em CB, G e V nasceram 231, 123 e 416 de um total nacional de 17932, o que representa variações, face a idêntico semestre de 2019, de -28.5% (323), -40.3% (206) e 582 (-28.5%), resp.. No mesmo período a nível nacional criaram-se -34.8% (27511). De 1-julho 2019 a 30-junho 2020 nasceram nos 3 distritos e na mesma ordem 439, 278, 818, resp., de um total nacional de 39937 empresas. As variações anuais foram de -13.6% (508), -23.8% (365), -17.4% (990) e -17.9% (nac: 48657). Houve, portanto, menos criação de empresas no mês de junho, no semestre e no ano, o que é mau para o país e a região.


Encerramentos: No mês de junho corrente encerraram em CB, G e V 17, 9 e 25 empresas, resp., do total nacional de 881. No mesmo período do ano passado eram 12, 11 e 17 e o total 1079. As variações foram de 41.7%, -18.2%, +47.1% e -18.4% (nac). No período de 1-1-20 a 30-6-20 encerraram nos mesmos distritos e pela mesma ordem, 69, 49 e 14 do total de 5844. No mesmo período do ano 2019 foram 81, 63 e 175 e o total 7694, resp.. As variações de 2019 para 2020 no mesmo período foram -14.8%-CB, -22.2% e -18% e -24% (P), resp. Durante o ano que decorreu entre 1-7-2019 e 30-6-2020 encerraram em CB, G, V. e País, resp 182, 123, 398 e 15979. No ano anterior tinham encerrado 203, 175, 450 e 19142 (tot), resp.. As variações entre estes 2 anos foram -10.3%, -29.7%, -11.6% e -16.5% (nac), logo menos encerramentos nas três unidades temporais, o que é bom para Portugal e a região.


Insolvências: No mês de junho corrente entraram em insolvência naqueles distritos e no país 8, 2, 7 e 214 (nac), resp.; em junho de 2019 as insolvências foram 1, 5, 5, 156 (nac), resp.; as variações entre os meses homólogos foram, resp., 700% (CB), -60% (G), 40% (V) e 37.2% (P); a variação da Guarda foi salutar. Entre 1-1 e 30-6 de 2020 ficaram insolventes nos 3 distritos e país 30, 10, 29 e 1175 (nac); em período idêntico de 2019 eram 11, 15, 30 e 1130, resp.; as variações foram 175.7%-CB, -33.3%-G, -3.3%-V e 4.0% (P); G e V com variações boas, CB e P com más. No ano que terminou em 30-6-2020 ficaram insolventes 50, 16, 62 e 2246 (P), resp.; no ano que terminou em 30-6-2019 ficaram insolventes 34, 29, 64, 2227 (nac), resp.; as variações entre os 2 períodos homólogos foram 47.1%-CB, -44.8%-G, -3.1%-V e +0.9% (P); G, V com menos insolvências, o que é bom enquanto CB e o País com mais, o que é mau.


Distribuição por distritos: Por curiosidade refira-se que os nascimentos de junho 31, 11, 77 e 2581 (nac), representam 1.2%, 0.4% e 3% do total 100%, uma ninharia em qualquer dos distritos, particularmente os da BI. Por sua vez os 17, 9, 25 e 881 encerramentos, resp., representaram 1.9%, 1% e 2.8% do total do país, 100%, maus dados para CB e G. Quanto às insolvências de junho (8, 2, 7 e 214 (nac), resp) pesaram 3.7%, 0.9% e 3.3% do total nacional (100%), todos com variações prejudiciais aos distritos do interior.
Nascimentos por cada encerramento: Um indicador interessante é o do nº de nascimentos por cada empresa que encerra seja a nível dos 3 distritos seja a nível do país. Os valores são os seguintes: em junho20 por cada empresa encerrada nasceram 1.8, 1.2, 3.1 nos três distritos (CB, G e V, resp.) e 2.9 no país. No período de 1-1 a 30-6 deste ano por cada empresa encerrada nasceram 3.3, 2.5, 3, resp. nos distritos CB, G e V e 3.1 no país. E por fim, no ano que agora terminou, por cada empresa perdida criaram-se 2.4, 2.3, 2.1 nos distritos C. Branco, Guarda, Viseu e 2.5 no país.


Como considerações finais podemos dizer que tanto no país como nos distritos do interior beirão o saldo ou consequência da pandemia Covid’19 é i) francamente negativo ao nível da criação de empresas, o que está a ter fortes reflexos ao nível da criação e eliminação de empregos, ii) que nuns e noutro a pandemia foi benéfica para o encerramento de empresas (houve menos empresas a fechar), e iii) que foi negativo para C. Branco e País mas positivo para Guarda e Viseu ao nível das insolvências. Por fim iv) que em geral por cada empresa encerrada se criaram menos empresas nos distritos do interior (com exceção de Viseu, mas apenas em junho e C.B. durante o 1º semestre) do que no país, facto que tende a agravar o fosso entre o litoral e interior também ao nível da dinâmica empresarial.