Na realidade, existe uma indústria que está coligada ao turismo e que forçosamente tem que ser alvo de análise e investigação, pois, somente desse modo, pode ser perfectibilizada.

O turismo é benigno para a cultura e o inverso também é uma realidade. Só recentemente é que nos apercebemos que a vertente cultural pode ser uma pedra nuclear para o próprio ordenamento do território. Em Portugal esta simbiose agasalha, de modo sincrónico, enormes carências e gigantescas potencialidades. Realçar que o turismo é uma alavanca fundamental de desenvolvimento económico. Será que a cultura não deve desfilar na superfície basilar e estratégica de actuação do sector do turismo? Será que a cultura não deve ser financiada de modo mais congruente? Será que não devemos outorgar à cultura um papel mais preponderante? Será que não devemos amplificar, no âmago do planeamento e gestão regional do turismo, os índices de influência dos cabimentos cultura e património? Será que os processos de financiamento não necessitam de ser revistos e harmonizados?

O vínculo entre o turismo e a cultura deve ser uma das prioridades no futuro, especialmente pelo facto de o “mercado clássico” estar em desmoronamento crescente. Entende-se por “mercado clássico”, o mercado do sol e da praia. A observação que transpõe os horizontes possibilita que a civilização humana progrida e sonhe. Torna-se essencial, mais do que optar por uma mera política de preços franzinos, edificar e garantir contextos de competitividade perduráveis no tempo e alicerçados na qualidade, sustentabilidade, diferenciação e identidade. Salientar que a conjugação do “tradicional” com o “moderno” assume um papel cada vez mais preponderante. Será que o conceito de cultura não deve ser objecto de profundas reflexões?

Na realidade, existe uma indústria que está coligada ao turismo e que forçosamente tem que ser alvo de análise e investigação, pois, somente desse modo, pode ser perfectibilizada. A cultura autoriza o entendimento da forma como as comutações entre culturas, que o turismo acaba por facultar, influenciam a cultura do visitante e do visitado, possibilitando o engrandecimento das “perspectivas” de uns e de outros. Qual é o potencial dos itinerários literários para a criação de redes de negócio? Qual é a importância da criação de redes de negócio para o fortalecimento das economias locais e regionais face à globalização?

Somente conseguimos apresentar o potencial concreto do turismo literário se acolhermos exemplos, tanto de natureza pública, como privada, de boas práticas na superfície internacional. A compreensão, apreensão, interpretação e edificação de conhecimento, em todo e qualquer contexto, exige amiudadamente um mediador que simplifique esse processo ou trajecto. Será que conhecemos os principais itinerários literários existentes em Portugal?

É necessário cooperar no processo de compreensão do turista, concebendo construções e experiências para que o mesmo consiga interpretar e adjudicar um significado aos cenários, aos contextos, aos argumentos, às representações e às pessoas. Fornecer ou arremessar simples e desagregados relatos históricos não é seguramente o caminho. Mais importante do que instruir o turista é “espicaçar” o seu pensamento e reflexão. Será que uma interpretação valorosa não deve deixar sempre espaço à imaginação? Será que os itinerários literários não outorgam um contributo determinante na divulgação do património cultural das regiões? Será que não podemos elevar alguns itinerários ao estatuto de género literário?

Contemporaneamente as tendências e atracções patrimoniais procuram seduzir cada vez mais os turistas, outorgando simpatia, significação, sensação e agradabilidade à história e ao património. Esta conjuntura está intimamente confederada às actuais exigências de carácter comercial. Todavia, este cenário não pode significar que a imparcialidade da interpretação tenha de ser imolada em nome do consumismo hodierno, uma vez que não existe uma configuração singular de patentear e relatar o passado. Na verdade, o passado pode ser narrado em moldes mais interactivos e menos expositivos, e vice-versa. Será que todos os turistas têm os mesmos desejos e necessidades? Será que alguns turistas não procuram experiências interactivas e outros experiências mais tradicionais? Será que o raciocínio de protecção da cultura material e imaterial de uma comunidade, e o raciocínio de desenvolvimento turístico e económico de um determinado local com alicerce no seu património são incoadunáveis? Será que um percurso literário não precisa de ser “palmilhado”? Será que os turistas procuram provas científicas sobre factos históricos? Será que os mesmos não procuram e anseiam experiências fundamentadas nos relatos do passado que desafiem a interpretação, a lembrança e o reviver? Será que o passado “autêntico” existe? Será que a memória não sofre metamorfoses? Será que a memória não está condicionada historicamente? Será que os historiadores não reinventam o passado? Será que os historiadores não recongraçam o passado e o presente; a reminiscência e a quimera, e a palavra escrita e a falada? Será que a palavra falada não é um fenómeno natural e a palavra escrita um fenómeno cultural?

Torna-se fundamental estabelecer redes de turismo literário e artístico nos âmbitos local, regional e nacional, de forma a que a cultura e a arte possam influenciar e promover o turismo nos cabimentos estratégico e de marketing. Destacar que as entidades envolvidas devem procurar que as parcerias entre o turismo, a cultura e a arte sejam mais ponderadas e contrabalançadas. Será que as entidades culturais e artísticas não devem abrigar estratégias e finalidades muitíssimo bem esquematizadas? Será que essa condição não é essencial para que as mesmas consigam beneficiar do turismo? Será que não é relevante afiançar o financiamento, a investigação e o apoio necessário ao turismo literário e artístico? Será que a arte e a cultura não hospedam a missão de facultar experiências criativas, positivas e participativas? Será que a arte e a cultura devem ser uma espécie de produto estático?

O turismo cultural necessita agrupar a economia do alojamento e da alimentação e bebidas à economia da experiência, uma vez que os turistas para visitar e conhecer uma determinada atracção ou espectáculo não dispensam alguns recursos de “segunda ordem” que os abasteçam de diversos serviços. Existem inúmeros e rigorosos estudos acerca das disposições de vida e das inclinações de consumo na contemporaneidade que apontam para a importância de as empresas priveligiarem a venda de experiências únicas e de emoções inesquecíveis. Será que esta não é uma das formas de atrair e fidelizar consumidores?

Portugal começa a despertar para a importância do património cultural e literário, bem como a reconhecer o seu potencial turístico. Muito se poderá aprender com exemplos internacionais na área do turismo literário, sabendo que o sector privado tem obrigatoriamente de ser espicaçado. A recolha de bons exemplos internacionais permite inovar e projectar os itinerários de turismo cultural e literário. As agências de viagem e de turismo também devem hospedar um papel importante na “sinuosidade” do turismo literário.

O Instituto do Turismo de Portugal, mais conhecido como Turismo de Portugal ou ITP, nomeadamente nas suas áreas de actuação deve promover os roteiros literários. Infelizmente as estratégias de desenvolvimento para o turismo literário que esta entidade desenvolve são manifestamente pouco visíveis, ficando muito aquém do desejável e expectável. Será que o Instituto do Turismo de Portugal não é uma entidade com elevadas responsabilidades no que toca ao desenvolvimento do turismo em Portugal? Será que o mesmo não tem apostado sobretudo na promoção do turismo patrimonial? Será que essa condição não é bastante redutora?

A esmagadora maioria das Câmaras Municipais também acaba por desconsiderar ou desacreditar o potencial do turismo literário. São poucas as Câmaras Municipais que têm disponíveis no seu site alguns percursos literários. Será que não estamos a ignorar e a hipotecar este importante vértice do turismo cultural?