O bullying ocorre nos locais onde há interacção social e pode ser entendido como a acto de “flagelar” outra pessoa através do desprezo; dos rumores; dos boatos; do escarnecimento; da humilhação pública; da veemência verbal; da perseguição física; da violência emocional; da manipulação; da persuasão; da imposição; e da coacção.

O prevaricador, para atingir os seus objectivos, “invoca” o seu poder simbólico, figurativo, metafórico, estatutário ou de compleição física sobre a vítima. Este fenómeno jamais pode ser considerado como um simples desentendimento entre amigos, devendo ser analisado como um protótipo de intimidação física e psicológica duradouro, pardacento e constante. O bullying acaba por ser uma prática que vai ter consequências devastadoras nas vítimas, levando-as ao desenvolvimento de sintomatologias de stress; ao isolamento social; à vingança; à segregação laboral; à desvalorizada auto-estima; aos esgotamentos; às depressões e frustrações; e aos comportamentos suicidas.

A sociedade capitalista em que vivemos, na qual o triunfo, a competição, o antagonismo e o rédito são a nascente das ambições e das obsessões da maioria dos indivíduos, e num mundo em que constantemente ouvimos e acariciamos enunciações como “o mundo é dos espertos”, que espelham um logradouro favorável para a procriação do bullying, fazem com que nos sintamos apreensivos, ensimesmados e meditativos.

Por exemplo, nas escolas, locais propícios para a prática do bullying, este pode exteriorizar-se através de críticas, comentários e apreciações constantes sobre um determinado indivíduo. É seguramente importante não esquecer que os autores dos massacres ocorridos em algumas escolas dos Estados Unidos foram vítimas de bullying durante longos períodos de tempo. Por vezes, as vítimas de bullying adquirem, pela anotação do comportamento dos outros, um renovado paradigma de conduta e passam a interiorizar as acções de exploração do mais indefeso, do diferente e do incapacitado como legítimas, aceitáveis e convenientes para a sua “confraria”, e, simultaneamente, acreditam que esse tipo de comportamento é autorizado, mesmo tendo a noção de que o mesmo se trata de uma conduta verdadeiramente desviante e contraproducente.

O bullying é um comportamento difícil de controlar e infelizmente fomenta não só o “insofrimento”, o sofrimento, a desconsideração, o desejo consciente e deliberado de crucificar, e a sobranceria, como também a aplicação de um encadeamento de conexões pessoais onde brilha a exploração do mais frágil pelo mais forte. Será que os comentários sobre o vestuário, a aparência física, as proveniências étnicas, a competição desnorteada, o estatuto familiar e o sotaque não constituem o “manancial” do bullying?

Apesar de os comportamentos de bullying variarem conforme as particularidades da escola, é manifestamente evidente, que os mesmos acontecem em todas as escolas e em todas as classes sociais. Todavia, a maioria dos alunos constitui um “genuíno” auditório em relação ao bullying, ou seja eles não sofrem e nem praticam bullying, mas têm receio de se tornarem nas próximas vítimas e, por essa razão, adoptam como estratégia de defesa os mais distintos comportamentos que passam pelo entejo, desagrado, “inoperância”, apoio, incentivo e pseudo diversão.

Sendo o bullying uma conduta de excepcional gravidade, torna-se inadiável uma rigorosa e profunda ponderação acerca dos métodos e padrões a utilizar com o propósito de minimizar o problema. Algumas medidas que se podem implementar para reduzir a violência escolar são: digladiar o fracasso escolar; combater de forma eficaz a “ignorância” da maior parte dos alunos, mesmo daqueles que transitam de ano; sensibilizar e molificar os alunos para os bons costumes e para as boas práticas sociais; consciencializar toda a comunidade escolar para os fenómenos ligados à violência; promover a interligação entre a escola e a família; instigar os alunos para a participação na supervisão dos actos de bullying, pois o arrostar da situação pelas testemunhas evidencia que o grupo não apoia os malfeitores; contratar profissionais especializados para prestar apoio psicológico e educacional; implementar uma superior vigilância dos locais onde supostamente os actos de bullying mais se desenrolam, como são os espaços de divertimento, e apetrechá-los, por exemplo, de equipamentos desportivos adequados; fomentar o diálogo entre alunos e pais; perfilhar políticas de condescendência zero; e promover o sentimento de pertença pelos colegas, pelos profissionais e pela própria escola.

A escola tem um colossal significado para as nossas crianças e jovens, porém aqueles que não simpatizam com ela têm maior tendência para apresentar desempenhos desfavoráveis, acarretando sentimentos físicos e emocionais amargos. A inventariação interpessoal e o aperfeiçoamento académico usufruem de um visceral paralelismo. Neste sentido, podemos afirmar convictamente que o saudável relacionamento com os colegas é indispensável para o desenvolvimento das capacidades intelectuais, das habilidades sociais, das aptidões de reacção, do rigor meditativo e do exercício da cidadania. Será que não é fundamental que os cidadãos agasalhem a consciência de que o combate ao bullying necessita de mecanismos circunspectos e com dissemelhantes essências?

Por decisão pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico.