É relevante para qualquer concelho conceber alunos que tenham contacto permanente com os livros e com a poesia.

A oficina de declamação, “As Palavras que nos Beijam”, teve início nos meados do mês de Outubro de 2022, sendo fruto de uma parceria entre o Município da Guarda e o Agrupamento de Escolas da Sé. A oficina teve lugar na Escola de São Miguel e os alunos do 7º A foram os participantes.


No dia 21 de Março do presente ano, Dia Mundial da Poesia, pelas 11h30m, fizemos a apresentação pública do projecto na Biblioteca Escolar Carvalho Rodrigues. Uma palavra de apreço para as professoras Carla Tavares e Ana Paula Matos que, juntamente comigo, dinamizaram a oficina de declamação. As professoras foram de uma dedicação e compromisso inquestionáveis. Os alunos da Escola de São Miguel são uns privilegiados por terem professores com esta capacidade, disponibilidade, vivacidade e competência. Contudo, os verdadeiros protagonistas foram os alunos.


Na primeira conversa que tive com os alunos, reforcei a importância da poesia nos caminhos da literacia, da inclusão, da igualdade, da liberdade e do pensamento crítico. Também lhes disse que a leitura de poemas deve ser um projecto de continuidade, pois se os alunos estiverem próximos da poesia conseguem alcançar mais facilmente os seus objectivos.


É relevante para qualquer concelho conceber alunos que tenham contacto permanente com os livros e com a poesia. Qualquer território se torna substancialmente mais rico, pigmentado, magnético e desenvolvido se os alunos que lá residem tiverem hábitos de leitura e de escrita.


Através da oficina de declamação, viajámos, corremos, saltámos, rimos, aplaudimos, caímos, levantámo-nos e trabalhámos. O projecto foi um clamor de compromisso, de confiança, de firmeza, de dedicação, de auto-estima, de motivação e de sorrisos francos. A oficina de declamação constituiu um autêntico espaço de revelação, de libertação e de superação. Divertimo-nos! Fomos cúmplices! Somos cúmplices!


A poesia permite-nos descobrir as formas de ver o mundo, de nos vermos no mundo, de nos percebermos, de compreendermos os outros, de compreender a nossa relação com os outros, de nos respeitarmos e de respeitarmos os outros.


Aquilo que é verdadeiramente importante neste tipo de projectos é o processo, a apresentação do dia 21 de Março, e apesar de ter sido um momento marcante, apenas serviu para dar ainda mais dignidade à oficina de declamação e aos participantes.


Distribuí, de forma aleatória e sem conhecer os alunos, poemas de autores portugueses consagrados, poemas esses que já tinham sido declamados por mim no programa “Reflexo Imperfeito”, da Rádio Altitude. Talvez esse programa me tenha dado a confiança que precisava para apresentar e iniciar a oficina de declamação.


A sala de aula foi o espaço de leitura e de declamação, na qual nos reuníamos às Terças-feiras, entre as 11h30 e as 13h30. A oficina de declamação, “As palavras que nos Beijam”, foi seguramente um projecto inclusivo, no qual, e tal como se pretendia, nenhum aluno ficou de fora.


Ao longo dos ensaios tivemos alguns momentos de tensão. Em algumas ocasiões, proferi palavras duras e olhei para alguns alunos de um modo severo, mas na realidade trabalhámos muito e a evolução, nos campos da leitura e da interpretação, foi mais do que evidente. Os momentos de alegria e de superação foram a nossa motivação. De salientar que não é fácil declamar numa biblioteca repleta de gente. Os alunos estão de parabéns! Foi uma grande vitória!


É relevante e prazeroso presenciar não só por parte do executivo da Câmara Municipal da Guarda, como também por parte dos professores do Agrupamento de Escolas da Sé a sensibilidade para abraçar estas oficinas, assim como para perceber a relevância das mesmas junto da comunidade escolar.


De realçar, e no âmbito da parceria existente entre o Município da Guarda e o Agrupamento de Escolas da Sé, que já apresentámos inúmeros trabalhos, nomeadamente nas superfícies da representação, do desenho e da literatura. Na minha perspectiva, estes projectos também contribuem para esbater os preconceitos e a discriminação em relação aos alunos mais vulneráveis.


Quanto aos professores que trabalham comigo há vários anos, de referir que a nossa ligação se foi solidificando ao longo dos tempos, não sendo, neste momento, uma ligação meramente profissional, mas sim de amizade e cumplicidade. Os alunos, os autênticos protagonistas das oficinas, demostram ter incomensuráveis capacidades, assim como elevados índices de criatividade e de compromisso.


Terminei a minha intervenção no dia 21 de Março, com a leitura do poema “Poeta Castrado, Não!”, de Ary dos Santos.