Passadas mais de quatro décadas após a “Revolução dos Cravos”, confirmamos a presença de viscerais transformações no sistema de ensino.

As representações sociais germinam e medram no quotidiano, ou seja nos encadeamentos e nas interacções que fundamos na família, no grupo de amigos, na escola, no local de trabalho, etc. Na realidade, as representações sociais crescem em todo e qualquer espaço em que desfilem contextos passíveis de serem apropriados, adaptados e partilhados. Será que amiudadamente os cidadãos não analisam e não criticam arquétipos de existência? Será que essas apreciações não acabam por agasalhar um impacto decretório não só nas próprias conexões sociais, como também nas optações dos indivíduos e na configuração perfilhada por estes naquilo que respeita à educação dos seus descendentes?
O ambiente escolar dissemina novos conhecimentos e novas correspondências sociais. A convivência com colegas com mais ou menos idade, docentes, restantes colaboradores da escola e outros intérpretes sociais concebe itinerários de aperfeiçoamento da linguagem; desenvolvimento do raciocínio social, cultural e moral; incremento dos índices de empatia, de identificação e de entendimento; e assimilação do conjunto das disposições que aformoseia a comunicação verbal. Será que estas “fragrâncias” não promovem o desenvolvimento da competência social? Será que não é fundamental estabelecer e compreender as funções de habilidades sociais dos educadores? Será que essas funções não compreendem a promoção dos cenários de motivação, a transferência de informação e de conhecimento, e a concretização da disciplina?
A estruturação dos processos de ensino e de aprendizagem necessita de categorias de interacção entre o educador, o educando e o próprio conhecimento. Na verdade, trata-se de um método que ultrapassa a transmissão de conhecimentos, atravessando mesmo as conexões interpessoais que devem simplificar todo esse sistema. Talvez o professor da escola privada esteja mais vocacionado para os resultados, ou seja progenitores e discípulos “sorridentes”; elevados indicadores de aprovação; reconhecimento da escola pelos seus serviços e valências; e comprovada qualidade em avaliações e intervenções externas. Obviamente que os professores da escola pública também procuram resultados positivos e de destaque. Ambas as escolas devem abraçar a mesma finalidade. Será que a finalidade não deve passar por oferecer educação de qualidade capaz de desenvolver e de potenciar o aluno na sua formação, aprendizagem e educação? Será que antigamente não era a palavra amor que definia a actuação do professor relativamente à sua profissão? Será que contemporaneamente o professor não se vai colocando numa superfície de pigmentação mais profissional?
Passadas mais de quatro décadas após a “Revolução dos Cravos”, confirmamos a presença de viscerais transformações no sistema de ensino. O sector escolar, principalmente o público, teve neste campo um papel importante e deliberativo. Presumivelmente terá sido o “mecanismo” social que mais cooperou para o desenvolvimento cultural dos portugueses, bem como para a edificação e concreção de um País democrático. Algumas das modificações sucedidas na educação foram: o aumento significativo da procura pelo ensino secundário; a abertura constante de instituições de ensino superior; e a implantação de hábitos de formação profissional de muitos milhares de activos. Será que não é pertinente realçar o papel executado pelo Governo no alargamento da oferta? Será que o mesmo, em relação à educação, deliberou sempre bem e de forma equitativa?
É seguramente pertinente e fundamental referir que existiram algumas diligências profícuas, no que respeita ao ensino e à formação, promovidas por entidades particulares. Talvez essas iniciativas tenham sido algo epidérmicas e em número reduzido e, por essa razão, pouco “valorizadas” não só pelos líderes políticos portugueses, como também pela sociedade “ecuménica”. Será que o ensino privado contribuiu decisivamente para o desenvolvimento do sistema educativo nacional? Quais são as transformações que serão necessárias para que este sector de ensino possa incorporar integralmente a rede escolar? Será que essa espécie de indispensabilidade está prescrita na lei? Será que o Estado cumpre com a totalidade das suas obrigações na disciplina educação? Será que existe alguma escola em que a imagem de marca seja a sublimidade? Quais são as texturas incompatíveis relativamente à preferência ou à optação pelo Ensino Privado? Qual foi a função desempenhada pelos estabelecimentos de ensino privado, no que se refere à educação nacional, em Portugal? Como se define o género de conexão fundado, ao longo dos tempos, entre o ensino privado e o Estado? Será que a “moldura” legislativa e normativa tem afectado a conjuntura do ensino privado, assim como a actividade e o funcionamento dos seus estabelecimentos? Em que formatos é exercida essa influência? Quais são os factores de sucesso que embrulham os colégios privados, na perspectiva dos antigos e actuais alunos, dos encarregados de educação e dos docentes? Quais são as razões que levam os pais e os alunos a preferir a escola privada em detrimento da escola pública?
O Estado agasalha a incumbência de edificar conjunções para que a educação aconchegue todos os indivíduos em formatos equitativos. O Estado pode e deve “recorrer” ao sistema privado desde que o incorpore proveitosamente na rede escolar e nos locais onde a configuração escolar pública é deficitária. Analogamente há a necessidade de despertar e valorizar a independência e a inovação que despontam nos seus projectos. Todavia, a disseminação das escolas privadas não teve um planeamento correcto, nem tão pouco uma superintendência “activa” por parte dos nossos Governantes. Será que as escolas privadas não foram ao encontro de interesses privados? Será que os interesses privados não ofuscaram os interesses públicos e colectivos? Será que a escola privada aquartela argumentos para arrogar uma verdadeira postura organizacional? Será que o Estado não continua a ter uma prática antiquada, desfasada e contraditória da legislação vigente? Será que a recente intenção do Governo, em relação ao ensino privado, não é benéfica para todos? Será que devemos ter as escolas privadas cheias de alunos e as escolas públicas às moscas? Quem dá resposta às necessidades determinadas pela sociedade hodierna? Quem acompanha o desenvolvimento do “temperamento” do aluno que escolta essas inconstâncias?
Na realidade, as condições de funcionamento dos estabelecimentos de ensino privado espelham potencialidades que lhes possibilitam servir com algumas doses de eficácia, de competência e de eficiência a educação nacional. Os colégios privados, quando comparados com as escolas públicas, hospedam melhores condições “físicas” em quase todas as vertentes? Será que esta diferença é justa? Será que essas condições não são à custa de todos os contribuintes, ou seja do erário público? Quem regula os interesses públicos e privados, bem como os encadeamentos sociais? Qual é o itinerário honesto para a modernização do ensino e, consequentemente, da sociedade?
A diminuição dos gastos públicos com a educação deve-se ao fracasso da escola pública. Por sua vez, o fracasso da escola pública talvez esteja intimamente ligado aos fundos investidos na escola privada. Será que em Portugal as escolas privadas estão sujeitas ao controlo do mercado? Será que as escolas privadas não deviam ser controladas pela sociedade e pelo conjunto de políticas democráticas? Será que a suposta independência da escola privada não provém dos fundos públicos outorgados pelo Estado? Será que as escolas privadas não gozam de uma autonomia perversa, viciosa e iníqua? Será que as escolas públicas não definem metas transparentes e ambiciosas? Será que os defensores das escolas privadas não cantam de galo? Será que as escolas privadas não são robustamente dependentes de todas as “actuações” do Estado? Será que as mesmas promovem a economia do País?

Será que não é fundamental a promoção das reformas no ensino público e, paralelamente, no ensino privado? Será que as excessivas verbas investidas na escola privada não contribuíram para o ininterrupto debilitamento da economia portuguesa? Será que as escolas privadas não são autênticos “buracos negros”, nos quais grandes somas financeiras se movimentam? Será que tudo corre de feição no ensino público? Será que o ensino público também não fica aquém do esperado? Será que a educação não se metamorfoseia na principal responsável pela crise da economia pelo facto de não responder convenientemente às exigências da própria sociedade, assim como às expectativas do mercado? Será que os sistemas educativos não atravessam uma perigosa e profunda crise? Será que os franzinos degraus de rendimento escolar dos alunos portugueses não comprovam essa análise? Qual é o resultado do peso institucional que a Igreja tem na nossa sociedade? Qual a influência exercida pela mesma no ensino em Portugal? Qual o efeito que produzem as fracturas sociais e culturais? Quem promove essas fracturas? Como se analisam e abreviam as debilidades financeiras que obrigam a intervenção reguladora do Estado? Será que o Estado concilia, de modo profícuo, as deliberações privadas com as necessidades colectivas?