Trata-se de uma realidade incontornável da nossa história. A França foi nitidamente o destino principal dos nossos emigrantes. Portugal era um País politicamente e economicamente fechado, bem como predominantemente rural. Na França, o amplo desenvolvimento económico requisitava o recrutamento de mão-de-obra pouco qualificada para exercer funções nas áreas da construção civil, da indústria transformadora ou das tarefas domésticas. Foram seguramente tempos de diversas experiências e vivências não só nas curvas sinuosas da emigração “a salto”, como também nas teias de recrutamento alicerçadas nos conterrâneos e compatriotas.
A Nação adiada que era Portugal; a necessidade de reconstrução da Europa devido à II Guerra Mundial; os obstáculos que emergiam no âmago da agricultura; o começo da guerra colonial; o “fortalecimento” político da ditadura; a incómoda estrutura fundiária; o medo que circulava em cada viela; a parca liberdade de expressão; e a pobreza espelhada na maior parte dos rostos constituem configurações que contribuíram de modo significativo para a forte emigração ocorrida nas décadas acima referenciadas.
A emigração portuguesa ostenta características e dissemelhanças muito expressivas em toda a superfície territorial. Todavia, as regiões mais afectadas por estas deslocações foram as localizadas no norte e centro do país, particularmente em Trás-os-Montes e Beira Alta. De salientar também que boa parte da população que emigrava era jovem e com idade para constituir família.
O iluminado Passos Coelho, em tempos, aconselhou os portugueses, principalmente aqueles que eram mais qualificados, a emigrar. Um Primeiro-ministro que amiudadamente, por vezes de forma dissimulada, prescreve emigração não só é apático, bacoco e ingénuo, como também não tem categoria, nem acredita no seu País. Estes governantes da tanga, em vez de proferirem discursos de apoio e de esperança optam por prédicas impregnadas de desalento. A honestidade e a integridade são um “artefacto” fundamental no mundo da política, contudo a estupidez dispensa-se. Será que no fim desta legislatura ainda vai existir o País de nome Portugal?
A conjuntura actual já é tão crítica para a maior parte dos portugueses que é triste ouvir do Governo tamanha “extravagância”. O chefe do Governo, ao invés de arremessar despautérios, que encontre verdadeiras, e profícuas, políticas de emprego e de aperfeiçoamento económico. É isso que os portugueses precisam de ouvir. Emigrar constitui uma “miraculosa”, vergonhosa e pudica solução do Governo.
Passos Coelho aconchega a obrigação de apresentar alternativas vantajosas para que Portugal possa crescer com a ajuda daqueles que mais estudaram. Gastar dinheiro a formar os cidadãos e posteriormente “expatria-los” para criarem riqueza em outros países parece-me, no mínimo, um paradoxo. Enfim, governantes fraquinhos e inconsequentes que somente erraram na profissão.
O prestidigitador Passos Coelho, que aqui para nós até fazia bem em emigrar, devia era anunciar que finalmente arranjou mecanismos adequados para “extraditar” o desemprego, a corrupção, os compadrios, a incongruência, a incompetência, os ladrões, os políticos incapazes, as políticas desastrosas, as falências, as loucuras de Jardim, os gabinetes de veludo e a pobreza.
No caso específico da educação, mais do que o triste apelo à emigração, devia já ter sido confeccionada uma planificação coerente e rigorosa sobre os cursos via ensino que existem, e quiçá uma implementação de interregnos e reformulações dos mesmos. Porém, a “amálgama” emigração é menos burocrática. Depois do conhecido slogan “vá para fora cá dentro”, eis que surge outro com feições renovadas, “brilhantes” e diferentes “vá trabalhar lá para fora”. Coelho, tão desembaraçado a ordenar aos outros que trabalhem longe de Portugal e tão ágil a dizer que as fronteiras são serventia da casa, ainda não apresentou qualquer tipo de trabalho profícuo.
Esta pertinaz invitação à emigração acarinha a dissertação de impotência do país, ou seja inapto para reprimir o crescimento da taxa de desemprego. Na realidade, são fundamentais as palavras e as prédicas indumentadas de coragem, bem como os discursos concretos nos investimentos entre portas e assentes nos recursos humanos qualificados. O Governo olvida-se que a maior riqueza que um País pode possuir é a mão-de-obra qualificada, especializada e competente.
Em 2011, um elemento do Governo aconselhou os portugueses, principalmente os mais jovens, a fazerem-se à vida. Esta pregação foi interpretada pela generalidade da população portuguesa como uma espécie de escorregadela, ou um momento mais descontraído e incauto, de um secretário de Estado com escassa prática política e pouco habituado à exposição pública. Contudo, algum tempo depois foi também o próprio Primeiro-ministro que referiu esse tópico. Posteriormente foi um eurodeputado do PSD a propor a edificação de uma entidade oficial de auxílio e “emolduramento” dos emigrantes portugueses. A este último comuniquei na altura que emigrar não era precisamente a mesma coisa que ter um tacho em Bruxelas. Isso era uma emigração muito saborosa e suculenta, uma vez que o senhor abandonou uma “cinta” de conforto para ir para outra com superior conforto. Emigrar é aquilo que os meus queridos avôs, Manuel e Matilde, fizeram no tempo da clandestinidade. Deixaram, por força da situação em que viviam, a família e os amigos, não tendo o mínimo conhecimento sobre a Nação de acolhimento.
O acto de emigrar não pode ser considerado um processo descomplicado, pois embrulha na grande maioria dos casos colossais abdicações pessoais. Foi uma “cronografia”, cimentada na fuga à miséria e no afunilamento que Portugal sofreu antes de Abril, que espelha ousadia e determinação. Muitos portugueses não tiveram outra alternativa que não fosse procurar no estrangeiro o alimento ou os contextos de vida que o seu país teimava em não oferecer. A emigração acabou por estar ininterruptamente no caminho de salvação dos portugueses. Nunca foi necessário que os governantes apontassem para a janela da “exportação”. Neste contexto, será oportuno referir que emigrar deve ser uma escolha pessoal muito bem fundamentada e jamais uma obrigação imposta por políticos franzinos.
A determinação em emigrar será constantemente uma atitude pessoal, resultado de um esboço de vida ou unicamente da carência económica. A agência de apoio à emigração jamais abrigará a experiência, o carácter, o cunho e o contexto histórico português, na medida em que os portugueses sempre exibiram arte e engenho para ultrapassar dificuldades.
Os nossos “audazes” políticos devem olhar com outros olhos para os Institutos de Emprego e Formação Profissional espalhados por todo o país, no sentido de os mesmos laborarem com outra dinâmica e não se abandonarem os incentivos à empregabilidade dos jovens. Se continuarmos a navegar nestas águas turvas, ou seja com a política social e económica que o Governo tem vindo teimosamente a defender, não usufruiremos de quaisquer oportunidades para os jovens qualificados deste País. Devemos ter orgulho e aproveitar aquilo que as últimas décadas nos proporcionaram. A escola e a democracia ajudaram a formar os nossos cidadãos, e esta conjuntura tem obrigatoriamente que ser sinónimo de desenvolvimento. O País tem forçosamente que contar com a geração mais habilitada de toda a história portuguesa.
Os cidadãos portugueses vivem permanentemente apavorados, as fragrâncias têm mau odor, o ambiente psicológico é pérfido e a população têm a impressão que habita num círculo bastante restrito. Com a emigração, temos menos pessoas a encher os hospitais, a solicitar subvenções e a criar despesa ao Estado. A verdade é que se economiza em tudo. O Governo arranjou uma “extraordinária” estratégia de crescimento, uma vez que ao exportar os desempregados vai diminuir consideravelmente os altos índices de desemprego. O Governo também deve ter pensado que com a diminuição do número de habitantes, o Produto Interno Bruto iria aumentar. Com estes prodígios das finanças, que somente desgovernam, já não me admiro de nada.
Será o povo português demasiado grande e ambicioso para a escassa terra de que dispõe? Mas que espécie de governantes são estes que querem afugentar o povo que os elegeu? Será que eles pensam, no cume da sua imensa sabedoria, que um indivíduo quando se forma é para emigrar? Pretenderão governar um País deserto? Ainda bem que desfrutamos de muitos cidadãos qualificados, pois os mesmos são seguramente o maior trunfo que Portugal possui para combater as texturas do insucesso escolar e das diversas carências que desfilam diariamente no País.
Para sermos imparciais é necessário salientar que o guru dos professores, Mário Nogueira, recomendou, noutros tempos, o voto nesta malta. E porque continuamos numa de honestidade, apesar de não ter “ligação” muito directa com o tema, a história das “novas oportunidades” também está muito mal contada, uma vez que não se formaram pessoas, unicamente se distribuíram títulos estatísticos sem o mínimo rigor e credibilidade.
Se no universo futebolístico português se requisitam grandes quantidades de vedetas estrangeiras, será que não podemos “importar” políticos das mais variadas localizações? Em contrapartida, tendo em conta o reflexo do nosso futebol e para equilibrar a balança das transferências, os nossos políticos, de tão astutos que são, teriam perpetuamente lugar nos grandes clubes de Espanha, Inglaterra, Alemanha, França e Itália.
O Primeiro-ministro profere frequentemente uma espécie de “lição” de vida àqueles que por culpa dele somente conhecem o caminho do óbito. Estimado Governo deixo-vos uma mensagem que por sinal é bastante “aprazível: hoje, eu e a minha família vamos apresentar a nossa demissão ao prezado Cavaco Silva. Vamos emigrar para um desses Países que Passos Coelho “impulsionou”. Lá tratarei de assinar inúmeros e sucessivos acordos para que outros portugueses consigam emigrar com o meu auxílio. Serei desta forma um dos responsáveis máximos pelo desenvolvimento do meu País.