A presença de instrumentos públicos acaba por se justificar pela indispensabilidade da existência de alternativas de comunicação.

Nas teses que diferenciam a televisão pública da comercial, o conceito de público sobressai ao entremear as experiências de gestão e administração, a grelha de programação e o financiamento, levando em linha de conta um protótipo de tudo aquilo que é assimilado como “benefício público”. Será que no nosso País a televisão pública não esteve sempre acima das diligências de cariz privado? Será que a qualidade dos programas não deve desfilar num palco mais glamoroso do que aquele que está destinado às prescrições de mercado? Será que a qualidade não deve estar intimamente aglutinada ao âmago do serviço público de televisão? Será que a habilidade para criar altercações de importância social e aumentar a veracidade dos recheios expelidos não constituem condições de suprema importância? Será que a promoção dos valores culturais não deve estar enamorada da qualidade e inovação? Será que a instigação para iterar arquétipos já testemunhados não é demasiado forte e ramificada? Será que a diversidade indumentada de índices de qualidade duvidosa não agasalha mais poder do que a seriedade, a utilidade e o rigor? Será que não é necessário uma efectiva reedificação do conceito de “personalidade pública”? Será que não é obrigatório compreender a função da televisão pública no molde da radiodifusão?


A presença de instrumentos públicos acaba por se justificar pela indispensabilidade da existência de alternativas de comunicação. Será que não são a estabilidade e o comedimento, no campo da comunicação, que irão facilitar a consubstanciação da democracia e da responsabilidade social? Será que a publicidade e o interesse privado não se apresentam como dois dos meios alternativos mais influentes de financiamento da televisão pública? Será que existe algum tipo de unanimidade por parte da sociedade em relação a esta conjuntura de financiamento? Será que esta conjunção contribui para a formação verdadeiramente apreciativa dos portugueses? Será que deste modo se estimula a cultura, pluralidade de opiniões, educação, “alfabetização” e informação? Será que é honesto e profícuo utilizar um instrumento público de comunicação para vulgarizar produtos e serviços privados? Será que as televisões não precisam de afastar o despotismo e prepotência da economia? Será que o serviço público deve ser confundido com propriedade pública? Será que existe a definição perfeita de progresso e ética? Será que o mercado não procura somente respostas objectivas para tudo? Qual é a independência da televisão pública? Quais são os agentes responsáveis por essa situação? Será que a televisão não é um aparelho de comunicação com teias bastante franzinas em relação à sua própria autonomia? Será que a televisão acondiciona algum tipo de travão? Será que a televisão pública não implica um autêntico diálogo com toda a população?


A televisão pública deve cooperar para a estabilidade do processo de comunicação de um País, operando como um contrapeso em relação ao sistema privado. As democracias consolidadas hospedam um método de comunicação contrabalançado porque são consistentes, ou será que essa consistência advém de um serviço de comunicação público rigoroso e íntegro? Será que o serviço público é destinado aos cidadãos ou aos consumidores? Será que a televisão pública não deve agenciar a expectativa e atenção do cidadão, independentemente das audiências que irá ter?


A televisão pública deve servir a sociedade em geral e nunca um grupo de indivíduos. Contudo, não existe uma diferenciação inequívoca entre a televisão comercial portuguesa e a Rádio e Televisão de Portugal (RTP) no que respeita aos conteúdos das suas transmissões. Este encadeamento patenteia a indispensabilidade de a RTP se redescobrir como televisão de verdadeiro serviço público. A televisão pública deve desvincular-se do paradigma dominante das televisões privadas, procriadoras das concepções dominantes do capitalismo global.