Por todo o lado debate-se a questão energética para fazer face ao aquecimento global do planeta promover o desenvolvimento sustentável com uma economia C02 nula. Mas pelo interior o assunto anda meio esquecido se tivermos em atenção que alguns projetos de que se têm falado pouca expressão têm, salvo os eólicos que saudavelmente se espalharam pelas montanhas circundantes. Urge que a região não perca também este comboio do desenvolvimento energético e sustentável…

A problemática segundo a ONU. Segundo a ONU dirigida pelo português e beirão António Guterres, as projeções para o futuro mundo são sombrias dado que o aquecimento global acelera sem parar com consequências dramáticas “mesmo que ele, aquecimento, se limite a +1,5 ºC, como planeado há anos (2018). De facto, as recentes ondas de calor, inundações e outros eventos extremos vão ampliar-se de forma “sem precedentes” em magnitude, frequência, localização ou época do ano em que ocorrem. O aquecimento global é muito pior e mais rápido do que se receava. Por volta de 2030, dez anos antes do estimado, poderá alcançar o limite de +1,5 ºC, com riscos de desastres inimagináveis há pouco para a humanidade, já sacudida por ondas de calor, inundações, tufões e outras catástrofes, bem sentidas já este ano na Europa e pelo mundo fora. A menos de 3 meses da cimeira do clima COP26 em Glasgow (Reino Unido), especialistas do clima das Nações Unidas (IPCC) responsabilizaram o ser humano por estas alterações e advertiram que não há outra opção que não seja reduzir drasticamente as emissões de gases com efeito de estufa. O 1º relatório de avaliação produzido pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas em sete anos, aprovado sexta-feira por 195 países, analisa cinco cenários de emissões, do mais otimista ao mais pessimista. Em todos eles, a temperatura do planeta alcançará o limite de +1,5 ºC em relação à era pré-industrial por volta de 2030, dez anos antes do previsto nas estimativas de 2018. Antes de 2050, este limite será largamente superado, podendo chegar inclusive a +2 ºC se os níveis de emissão dos gases nocivos para a atmosfera não forem reduzidos drasticamente, cenário que representa um imenso fracasso do Acordo de Paris, que pretendia que o aquecimento global se mantivesse abaixo de +2 ºC e, se possível, de +1,5 ºC.

Os primeiros sintomas graves: Nos dias de hoje o planeta já alcançou uma subida de 1,1 ºC e começa a sofrer as consequências: os recentes eventos extremos como aqueles a que estamos a assistir no mundo deixam-nos imensamente preocipados. São os casos dos incêndios que se verificam nos Estados Unidos, na Grécia e na Turquia, das chuvas torrenciais da Alemanha,China e Índia, os termómetros a registarem os 50 ºC no Canadá e na Sibéria, com o inevitável degelo de milenares glaciares,…. Diz Kristina Dahl da organização União de Cientistas Preocupados (UCS) “Se acham que isto é grave, lembrem- que o que vemos agora é só a primeira amostra”. “Mesmo que se limite o aquecimento a +1,5 ºC, ondas de calor, inundações e outros eventos extremos vão aumentar de forma “sem precedentes” em magnitude, frequência, localização ou época do ano em que ocorrem, adverte o IPCC”. Segundo o climatologista Dave Reay, “Este relatório deveria causar arrepios (…) mostra onde estamos e onde vamos com as mudanças climáticas: para um buraco que continuamos a cavar”. . “Estabilizar o clima exigirá uma redução forte, rápida e sustentada das emissões de gases com efeito de estufa para alcançar a neutralidade de carbono”, na opinião de Panmao Zhai, copresidente do grupo de especialistas que elaborou a primeira parte desta avaliação do IPCC, que vai prosseguir com pelo mensos duas outras partes: uma segunda, prevista para fevereiro de 2022, para mostrar o impacto destas mudanças na vida na Terra nos próximos 30 anos, inclusive menos, e uma terceira parte que apresentará algumas possíveis soluções e que se aguarda para março. Não há que hesitar no caminho a seguir e que não pode ser outro senão impulsionar a transição para uma economia descarbonizada, pondo fim à utilização do carvão e ds energias fósseis quanto antes, e “antes que destruam nosso planeta”, nas palavras do secretário-geral da ONU, António Guterres.


Objetivo COP26: Perante a necessidade de reduzir a metade as emissões antes de 2030 para cumprir com a meta de +1,5 ºC, todos os olhares se voltam para a cúpula de líderes mundiais de novembro em Glasgow. “Não há tempo a perder, nem lugar para desculpas”, insistiu Guterres. Por enquanto, apenas metade dos governos reviu as metas iniciais de redução de emissões. Os compromissos adotados após o Acordo de Paris de 2015 levariam a um aumento da temperatura do planeta de +3 ºC se eles fossem respeitados, “porque no ritmo atual, o mundo aqueceria +4 ºC ou +5 ºC”. As projeções são sombrias, mas o próprio IPCC afirma, num resquício de esperança, que no cenário mais otimista, mas menos realista, o aquecimento poderia voltar ao limite de +1,5 ºC se as emissões fossem reduzidas drasticamente e se fosse absorvido mais CO2 do que o emitido. Mas, e há sempre um mas, as técnicas que permitem recuperar em larga escala o CO2 da atmosfera ainda estão a ser estudadas.


Consequências irreversíveis. O relatório indica que algumas consequências já são “irreversíveis”, como o degelo dos polos que fará com que o nível dos oceanos continue a aumentar durante “séculos ou milénios”. O mar, que já subiu 20 centímetros desde 1900, ainda poderá aumentar mais meio metro até 2100 mesmo que o aquecimento seja mantido a +2 ºC. “Parece distante, mas milhões de crianças já nascidas ainda viverão no século XXII”, destaca Jonathan Bamber, autor do relatório. Pela primeira vez, o IPCC não descarta a chegada de “pontos de inflexão”, eventos irreversíveis pouco prováveis, mas de impacto dramático, como o degelo da calota de gelo antártica ou a morte da floresta amazónica. Mas, afirmam cientistas e ativistas, não são motivos para atirar a toalha ao chão, muito pelo contrário, porque cada fração de grau conta. “Não estamos condenados ao fracasso”, assegura Friederike Otto, uma das autoras do trabalho. “Não deixaremos que este relatório fique na estante (…) Vamos levá-lo connosco aos tribunais”, adverte Kaisa Kosonen, da Greenpeace.

E por cá? Por cá, para além da grande e polémica central produtora de hidrogénio que afinal não é assim tão grande e virou experimental e mais reduzida, os jornais falam, em dois parques para a produção a baixo custo de hidrogénio verde, com tecnologia desenvolvida em Portugal e considerada “inovadora e pioneira” no mundo, em instalação no concelho de Évora, num investimento de 4,8 milhões de euros. Segundo os promotores, “Não há ninguém no mundo a produzir hidrogénio verde utilizando a concentração de radiação solar. A nossa tecnologia é altamente inovadora e pioneira”, pois “é o primeiro projeto mundial à escala de produção”, afirmou o representante da Fusion Fuel, João Wahnon. Esta empresa portuguesa está a desenvolver o projeto H2 Évora, que inclui a instalação de dois parques para a produção de hidrogénio verde, um deles junto ao parque industrial da cidade e o outro perto da localidade de Nossa Senhora da Tourega. O parque de Nossa Senhora da Tourega contará com 15 unidades (painéis) denominadas Hevo-Solar, enquanto o outro, junto ao parque industrial da cidade, terá 40 unidades que captam a radiação solar, concentrando-a 1.500 vezes e, tirando partido dessa energia concentrada e do calor que isso produz”, realizando “a eletrólise para produção do hidrogénio verde em alta eficiência”, reflete com em baixo custo. João Wahnon referiu que o hidrogénio produzido nestes parques, os quais vão começar a funcionar em pleno em setembro, vai ser “comprimido e armazenado” e uma parte será utilizada para a produção de eletricidade com recurso a uma célula de combustível. O hidrogénio da Fusion Fuel será “maioritariamente” para “injeção na rede de gás natural e fornecimento às indústrias consumidoras, como refinarias, cerâmicas, cimenteiras e metalúrgicas” e “estações de serviço para viaturas a hidrogénio”, adiantou.


Salientou ainda que a Fusion Fuel levou “mais de três anos em testes” até chegar à tecnologia Hevo-Solar, e afiançou que esta, “quando instalada em regiões de radiação alta, permite produzir o hidrogénio a preços mais baratos”. O objetivo da empresa “é massificar a produção mundial de tecnologia para produção de hidrogénio” e, “ciente do enorme potencial”, decidiu “cotar a empresa no índice Nasdaq”, cuja operação ficou concluída no final de 2020. “Com essa operação, conseguimos financiar e capitalizar a empresa num valor suficiente para fazer face ao nosso ambicioso plano estratégico, que envolve Portugal, e outros locais no mundo. Além dos dois parques em Évora, a empresa tem também em curso a construção de uma unidade industrial, em Benavente (Santarém), num investimento de 35 milhões de euros, para o fabrico da tecnologia para projetos a desenvolver em Portugal e para exportação. O administrador revelou que a Fusion Fuel tem ainda um outro projeto em Portugal, que está na fase de “licenciamento”, para “a instalação de 624 megawatts de capacidade de eletrólise para produzir 61 mil toneladas de hidrogénio por ano”, num investimento que deverá chegar “a 655 milhões de euros”, nos próximos anos. “Estamos a falar de um investimento que começará pequeno, com 31 milhões de euros, em 2022”, disse. Nesse sentido, acrescentou, a empresa já selecionou “mais de 800 hectares” para a instalação de parques em Sines e Santiago do Cacém, no distrito de Setúbal, na Ota, no concelho de Alenquer, e em Portalegre.

E mais para o Interior da Beira e fronteira?

Enquanto isso pela Beira e seu interior com know-how suficientes na Universidade da Beira Interior e dos Institutos Politécnicos da região pouco se fez, faz e fala no assunto nas foram as centrais eólicas nos cimos dos montes da região a lembra-nos alguns investimentos passados e brindar-nos com energia limpa – que nalguns dias até já chegou a superar o consumo nacional de eletricidade. De energia solar, hidrogénio e outras novas formas de energia CO2 free muito pouco se tem conhecimento… É sabido que há alguns contactos com vista a instalar alguns parques fotovoltaicos nalguns terrenos da Cova da Beira. O mesmo se passa com uma pequena instalação para a produção de hidrogénio verde aproveitando as águas de uma conhecida barragem, rio e luz solar não muito longe deste mesmo sítio eventualmente já no distrito da Guarda. Também é sabido de alguns aproveitamentos mini-hídricos que chegaram a ser estudados nas fraldas da Serra da Estrela mas nunca concretizados e do grande e ainda não rentável Aproveitamento de Asse-Dasse (P(W)=185 e E(GWh/ano)=232) na mesma Serra para além de alguns investimentos em Biomassa (Fundão e Belmonte, a primeira muito contestada mas ativa, a segunda encerrada há vários anos). Muito pouco para o imenso potencial que a região apresenta nestas disciplinas e ainda na energia geotérmica que brota espontaneamente da terra em vários locais, mas que continua a ser ignorada….

Será que também nesta área importantíssima de negócio já presente, vamos desperdiçar estas oportunidades de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa e o consequente aquecimento global, i.é, não apanhando o comboio do desenvolvimento sustentável e o que isso representa em termos de emprego e criação de riqueza?