Há sensivelmente sete anos e meio, em 29 de Março de 2014, estive presente, a convite da Câmara Municipal do Sabugal e do Centro Local de Aprendizagem do Sabugal (Universidade Aberta), na IV edição da Feira do Livro do Sabugal. Na minha comunicação, “OS LIVROS SÃO O MEU ABRIGO”, abordei o enorme sentimento de pertença que tenho pelo Concelho do Sabugal; as minhas vivências no Sabugal, nomeadamente na Freguesia de Aldeia do Bispo; a Capeia Arraiana; a importância dos livros; a relevância das bibliotecas; a pertinência dos hábitos de leitura e de escrita; o meu percurso literário; o mercado editorial em Portugal; a publicação de livros no nosso País; e a importância de incentivar “novos” escritores. Lembro-me como se fosse hoje, o Auditório Municipal do Sabugal estava repleto. Foram seguramente momentos marcantes e pigmentados!
Os jornais locais, regionais e nacionais faziam eco da iniciativa. A Feira do Livro do Sabugal começava a ter visibilidade no cabimento local, regional e nacional, uma vez que a mesma contemplava actividades de excelência. A IV edição da Feira do Livro, que decorreu entre 22 de Março e 6 de Abril de 2014, não fugiu à regra. A partir de 2014, a Câmara Municipal do Sabugal perfilhou outras configurações para promover o livro e a leitura. Essas configurações, apesar de legítimas e pertinentes, podiam perfeitamente “coexistir” com a Feira do Livro. Somente os projectos de continuidade conseguem edificar mais valias para os territórios. Será que o compromisso de dar continuidade às boas práticas não deve assumir um papel fundamental para qualquer Município? Será que a política de continuidade não fortalece e amplia os projectos?
De realçar também que as mesmas entidades promoveram, durante duas edições e com “nomes” diferentes, o Concurso de Poesia “A Minha Terra Natal” e “As Mãos no Mundo”. A terceira edição já não se realizou. A título de exemplo, e comparativamente, o Município de Manteigas promoveu, em 2021, a vigésima segunda edição do Concurso Literário Dr. João Isabel.
A Feira do Livro do Sabugal promovia a importância da leitura, a curiosidade pela leitura e o apreço pelos livros. No entanto, também era possível encontrar na mesma actividades culturais bastante diversificadas, ou seja, actividades que estavam ligadas à leitura e à escrita, bem como a outras manifestações culturais, como a música, a dança, as artes plásticas e o teatro. Será que a elevada receptividade desta iniciativa não era uma condição mais do que suficiente para que a Câmara Municipal do Sabugal outorgasse continuidade à mesma? Será que as Feiras do Livro, ao promoverem a interacção entre a comunidade e o ambiente literário, não assumem grande relevância para a “formação cultural” das populações? Será que as mesmas não proporcionam aos visitantes e aos escritores a disseminação do conhecimento e do encorajamento à leitura? Será que as Feiras Literárias não viabilizam a simbiose entre a leitura e diversas configurações de arte? Será que a arte não é a mais transformadora manifestação do homem?
A leitura constitui um dos mecanismos mais relevantes para a dilatação do conhecimento e da inclusão social, proporcionando a edificação e o robustecimento de ideias, representações e actuações. Através da leitura desvendamos enigmas sociais, edificamos cidadãos analistas e observadores, e amputamos as telas da ignorância. Este requisito acaba por ser imprescindível e capital para a prática da cidadania, da verdadeira democracia e da profícua responsabilidade social, uma vez que somente dessa forma o cidadão é “competente” para interpretar o sentido das incomensuráveis dissertações que desfilam na “discussão” social. As Feiras Literárias são importantes para o aumento dos índices de leitura, na medida em que ninguém se converte em leitor estando próximo de uma tela cultural em que o “livro” esteja mal desenhado ou não exista. As Feiras do Livro, tal como os livros, ajudam-nos a compreender, a amar e a crescer.
As Feiras do Livro, tal como os livros, ajudam-nos a compreender, a amar e a crescer.