Queijo da Serra gera mais de um milhão de euros de receitas no concelho com maior produção na região demarcada.
«O queijo está sempre vendido, tomara que tivesse mais». Foi a resposta que mais se ouviu na feira de Celorico da Beira, o concelho com a maior produção desta iguaria tradicional na zona da Serra da Estrela. Segundo a autarquia, anualmente saem daqui 120 toneladas que geram mais de um milhão de euros de receitas. O certame decorreu no segundo fim de semana do corrente mês com 21 produtores locais que não precisam de publicidade e têm pouco queijo para vender. É que na feira já se fazem poucos negócios, como confirma Francisco Ramos. «O queijo está praticamente todo escoado para clientes fixos, particulares e comerciantes, que o compram em dezembro e janeiro», explica este produtor da Quinta dos Ramos cuja queijaria fabrica «entre seis a oito queijos por dia». Este ano, no recinto os preços variavam entre os 14 (queijo de ovelha) e 19 euros (Serra DOP velho), mas apenas dois produtores apresentavam queijos certificados ostentando a marca de água nas etiquetas. Uma situação que a diretora regional de Agricultura e Pescas do Centro desvalorizou. «A certificação é um aspeto importante, mas não são só estes produtos que são de qualidade porque há um “savoir faire” e uma tradição no fabrico que é inerente a estas pessoas e que garantem queijos de grande qualidade mesmo não sendo certificados», disse Adelina Martins, que visitou o certame na sexta-feira. Para a responsável, o principal problema deste setor está na comercialização. «Cada vez mais temos que ter produtores que sejam empresários, de forma a definirem a sua estratégia de comercialização e ganharem mais dinheiro», considerou. A diretora regional apelou também aos produtores para se associarem, pois «a produção de queijo da Serra está dispersa e desorganizada quando tem que ganhar escala para podermos exportar e rentabilizar ainda mais este produto que é um ex-libris da nossa agricultura». De resto, Adelina Martins disse acreditar que o Serra da Estrela não está em risco. «Sobrevive há séculos e neste momento estamos a assistir a uma renovação dos agricultores. Mas é preciso uma estratégia globalizadora», recomendou, revelando que, nos últimos anos, se instalaram 18 jovens agricultores com o apoio do PRODER em Celorico da Beira, num investimento de 2,2 milhões de euros. Por sua vez, José Monteiro, autarca local, defendeu que o concelho «nunca perde, só ganha», por manter a sua feira do queijo e não se associar aos municípios de Fornos, Gouveia e Seia. «É imprescindível para Celorico divulgar este “produto-rei”, pois temos o maior número de produtores da região demarcada e também somos líderes em termos de produção. Era muito mau se houvesse apenas uma feira de quatro em quatro anos, isso não gera atratividade ao concelho, nem divulga os nossos produtores», afirmou o edil, garantindo que, por isso, o município vai continuar sozinho. Contudo, o autarca sempre vai dizendo que estaria recetivo se, além da grande feira itinerante, «cada concelho pudesse realizar o seu certame todos os anos».