A Distrital do PSD da Guarda acusou hoje o Governo de fazer um “mau uso” dos dinheiros públicos no troço ferroviário entre a Guarda e Covilhã, por o investimento de 77 milhões de euros só garantir velocidades do século XIX.
Em nota de imprensa enviada à agência Lusa, a Comissão Política Distrital do PSD da Guarda sublinha que a obra de eletrificação e modernização, que foi na terça-feira inaugurada e que liga as duas cidades, só permite que os comboios intercidades demorem menos de 41 minutos e os regionais 50 minutos.
“São velocidades do século XX e do século XIX. Não se compreende a execução de raiz de um projeto tão caro que – em pleno século XXI – inexplicavelmente considera 50 minutos um tempo adequado para percorrer 50 quilómetros em modo ferroviário”, afirma o presidente da Distrital do PSD da Guarda, Carlos Condesso, que é citado na nota.
Aquela estrutura partidária diz que se tivesse existido “planeamento adequado, com visão política e com uma boa gestão dos recursos nacionais e europeus, teria sido possível obter uma velocidade comercial superior a um quilómetro por minuto”.
“Infelizmente, este é um serviço ferroviário que já está obsoleto no próprio dia em que começou a funcionar”, afirma Carlos Condesso.
O social-democrata defende que a velocidade adotada não tem nada a ver com qualquer padrão europeu e diz que se fosse, por exemplo, a mesma que é praticada em Espanha, a viagem podia ser feita em apenas 30 minutos, “o que faria todo o sentido”.
Entre os exemplos, aponta a viagem em Espanha dos comboios regionais entre Salamanca e Ciudad Rodrigo, que tem a extensão de 90 quilómetros e demora apenas 54 minutos: “É quase o dobro da velocidade dos comboios intercidades que vão fazer as ligações diretas entre a Guarda e a Covilhã”, fundamenta.
Salienta ainda que a limitação da velocidade “podia e devia” ter sido superada logo na conceção do projeto.
“É isso que nos perturba e que nos modera a alegria de voltar a ver os comboios a circular entre a Guarda e a Covilhã. O que perturba é termos a consciência de que vamos ter um serviço que, desde o seu primeiro dia, é anacrónico”, aponta.
O PSD considera ainda que “este anacronismo da velocidade comercial do novo comboio faz com que haja o risco de este não ser sustentável no que diz respeito ao transporte de passageiros”.
“Isso é mau para a Guarda e é mau para a Covilhã: será sobretudo mau para o país que um investimento tão avultado caia em desuso pouco tempo depois, por um erro original de conceção”, acrescenta Carlos Condesso.
Salientando que este troço da Linha da Beira Baixa é importantíssimo e estruturante para toda a região e para o país, Condesso sublinha ainda que “com um pouco mais de investimento e melhor gestão, poderia alterar completamente a articulação social e económica entre as duas cidades”.
O troço ferroviário da Linha da Beira Baixa entre as cidades da Guarda e da Covilhã, que estava fechado desde 2009, reabriu no domingo ao serviço comercial após obras de requalificação e de eletrificação.
A cerimónia oficial que assinalou a reabertura deste troço realizou-se na terça-feira, com a presença do ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos e da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa.
Segundo informação disponibilizada pela CP – Comboios de Portugal, com esta reabertura passa a existir uma “oferta integrada” dos serviços Intercidades e Regional das Linhas da Beira Baixa e Alta.
Para incentivar a mobilidade regional no novo percurso, o preço aplicado nas viagens entre as duas cidades “é sempre de tarifa Regional, quer os clientes viajem em Serviço Intercidades ou Regional”.