“A descida gradual do número de desempregados, a partir de 2013, tem sido paulatinamente contrariada pelo aumento do número de desempregados que não é reconhecido pelas estatísticas e, pela primeira vez, os valores do desemprego “não oficial” […] ultrapassaram os números do desemprego “oficial””, alerta o Barómetro das Crises intitulado “Crise e mercado de trabalho: Menos desemprego sem mais emprego?”, divulgado esta quinta-feira.
De acordo com a análise feita pelo Centro de Estudos Sociais (CES) da Universidade de Coimbra, considerando as diversas formas de desemprego, o subemprego e estimativas prudentes sobre a situação laboral dos novos emigrantes, a taxa real de desemprego poderia situar-se, no segundo semestre de 2014, em 29% da população ativa, caso os trabalhadores emigrados tivessem ficado no país.
No entender do Observatório, em vez de uma descida do desemprego, “é talvez mais adequado falar-se numa situação de estabilização do desemprego em níveis bastante elevados e de uma estabilização do emprego num nível bem mais reduzido do que o estimado no início do programa de ajustamento”.
Na análise feita, o Barómetro refere que “a criação de emprego verificada recentemente assenta em bases frágeis”, ou seja, excluindo dos valores oficiais os desempregados ocupados — quantificados como empregados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) — ter-se-ão destruído 463,6 mil postos de trabalho de 2011 até ao 2º semestre de 2013 e criado, a partir daí, apenas 37,9 mil postos de trabalho.
Por último, o Observatório salienta que o desemprego atual “é um desemprego mais desprotegido do que antes da vigência do programa de ajustamento” e que o emprego gerado em Portugal assenta, sobretudo, em atividades precárias e em estágios “mal remunerados e sem perspetiva de continuidade e de verdadeira inserção no mercado de trabalho”.