O Mosteiro de Santa Maria da Estrela situava-se na Boidobra e terá sido uma das estruturas com importância na fundação da nacionalidade. Foi o único mosteiro da Ordem de Cister na Cova da Beira, possuiu várias terras na região e teve património em locais tão distantes como Moimenta da Beira ou Lamego. Hoje, contudo, desconhece-se até o local exato onde foi construído o Mosteiro de Santa Maria da Estrela, na Boidobra, uma realidade que deverá mudar com o trabalho que vai começar a ser feito por dois docentes da Universidade da Beira Interior (UBI), no âmbito de uma parceria com a Câmara da Covilhã. Um projeto que poderá lançar novas luzes sobre a casa monástica que remonta aos inícios da nacionalidade e que terá tido um papel de grande importância na génese e desenvolvimento do concelho.
O trabalho com equipamento da UBI está previsto para começar no mês de abril, apesar das condições atmosféricas poderem condicionar o início da procura das fundações do Mosteiro. Certo é que estão já definidos dois locais onde a casa que terá resultado de uma promessa de Egas Moniz, preceptor de D. Afonso Henriques, terá existido.
Os indícios “são fortes”, como refere Ana Maria Martins, docente do DECA – Departamento de Engenharia Civil e Arquitetura, que juntamente com Paulo Maia Carvalho, presidente do mesmo Departamento, vão procurar contribuir para que se saiba mais sobre o mosteiro que, pelo menos em 1533, ainda era habitado.
“Temos duas áreas possíveis: uma é próxima da ETAR, onde está a capelinha de Nossa Senhora da Estrela, outra é a Quinta da Abadia”, refere a docente que no âmbito do doutoramento estudou a arquitetura cisterciense em Portugal.
MOSTEIRO EXISTIU
Não há é dúvidas acerca da existência do Mosteiro. Tanto a atual capela como a toponímia atestam-no e até as condições geográficas do terreno dão essa indicação. “Temos a capela, que pode ser uma reconstrução adulterada da igreja do mosteiro, ou a capela de fora da cerca. Depois, os mosteiros de Cister ficavam sempre junto de uma linha de água, que também ali temos”, enumera Ana Maria Martins, acrescentando: “Por outro lado a Quinta da Abadia leva-nos a pensar que estes terrenos eram extensos e que apesar da proximidade da linha de água, podia estar um pouco mais retirado para essa zona”.
Essas dúvidas começarão a ser tiradas com a prospeção de Paulo Maia Carvalho que através de equipamento existente no DECA e que tem a vantagem de “não ser invasivo, nem causar qualquer dano, caso exista exploração agrícola, porque não exige escavação”, irá procurar vestígios da casa monástica.
“Introduzo corrente elétrica no terreno e vou medir a resistividade ou o inverso dos diferentes terrenos que a corrente elétrica atravessar”, explica. A expetativa é encontrar as fundações da instituição, mas o docente admite que podem ser revelados “objetos de maior ou menor dimensão, ou o cemitério, cuja localização também é ainda desconhecida”.
Depois caberá à equipa de historiadores analisar os dados. Uma formação onde Carlos Madaleno, da parte da autarquia, terá um papel importante e que já reúne um número considerável de especialistas de outras instituições.
RECONSTRUIR A PLANTA
A expetativa é que se consiga fazer a reconstrução “da planta hipotética do mosteiro”, salienta Ana Maria Martins, lembrando que estas edificações “seguiam regras muito específicas, facilmente detetáveis, que permitem ser redesenhadas com os valores que forem encontrados por Paulo Maia Carvalho”.
Ainda de acordo com a docente da UBI, na Boidobra existiria uma igreja a Norte, a Sul a zona de refeitório e cozinha, a Este o espaço de dormida dos monges e, a Oeste, o local dos irmãos conversos. “Esta é mais ou menos a matriz que depois se vai adaptando de local para local, seja pela própria topografia do lugar, seja por outras condicionantes. Mas nunca se afasta desta norma”, refere.
Um projeto de recuperação de memória que apesar da sua aparente simplicidade pode trazer novos elementos à história da região, ao mesmo tempo que dinamiza as duas áreas do DECA e colabora com a autarquia local, como sublinha o seu presidente.
“O propósito do Departamento é, sempre que possível, projetar a Universidade para o exterior, tanto a nível local, como a nível regional. E, portanto, é um trabalho que vai envolver tanto a Arquitetura como a Engenharia Civil – liga as duas áreas na perfeição – e cumpre, no meu ponto de vista, todos os objetivos: unir os dois cursos e trabalhar juntamente com a Câmara da Covilhã, que é um dos meus propósitos enquanto presidente do Departamento: virá-lo para o exterior. Acho que há aqui um casamento perfeito”, conclui Paulo Maia Carvalho.