A devoção das capeias

Agosto é, por excelência, o mês das festas raianas. E, é também marcado por festejos religiosos carregados de devoção. Os encerros e as capeias com forcão fazem jus à tradição, ano após ano. Destemidas e, verdadeiramente, aficionadas as gentes da raia enchem e dão fulgor às praças improvisadas das aldeias, que recebem uma das tradições mais entusiastas da região. Emoções fortes, coragem, destreza, habilidade, força, resistência e uma pitada de bairrismo são os ingredientes para a “festa brava”. Todos os anos a história se repete.

Como sempre, as capeias começam de manhã com o encerro, quando os touros que serão lidados na praça são conduzidos para a arena improvisada, no centro da povoação, vindos de Espanha. A poeira no ar e o barulho da escolta prenuncia que os bois estão a chegar à aldeia. Chegam com a ajuda indispensável dos cavaleiros da terra e outros aficionados. E, mesmo com muita rispidez alguns touros acabam por escapar e ficam vários dias perdidos pelos campos. No entanto, os cavaleiros acostumados às lides aproveitam para demonstrar as suas habilidades e arte da cavalaria na escolta. Com habilidade dos cavaleiros e boa vontade dos touros, acabam por chegar ao centro da povoação, onde a população já os aguarda. Contudo, a capeia só começa à tarde, após os mordomos pedirem a praça à pessoa mais importante da aldeia ou ao público. Recebida a permissão neste ritual, é tempo dos touros porem à prova a destreza e valentia dos homens. Durante a pega o público vai vibrando com as investidas do touro, enquanto vão lançando gritos de incentivo para os corajosos que se aventuram na arena. Ainda há outros, mais destemidos, que vão à arena lidar o boi a pé e, por vezes, acabam por apanhar grandes sustos e causar muitos arrepios ao público. Terminada a capeia, tem lugar o desencerro dos bois que são conduzidos ao lameiro ou à quinta do seu proprietário, acompanhados novamente pelos cavaleiros. Este é um saber cuidadosamente transmitido entre gerações pelas gentes da raia.