É importante realçar novamente que o desporto adaptado em Portugal ainda precisa de estruturação, de divulgação, de vulgarização e de coadjuvação.

Esta conjuntura acaba por ser responsável pelo facto de muitos indivíduos portadores de deficiência não terem acesso a qualquer prática desportiva. As pessoas com necessidades especiais, através da convivência e da prática desportiva, têm uma magnífica oportunidade para aumentar o seu amor-próprio, mostrando à sociedade o seu valor como atletas e a sua importância como cidadãos.

A gradual visibilidade adquirida pelos jogos paralímpicos tem ampliado o interesse da população em geral, tanto no âmbito nacional, como no internacional, com particular incidência na população que se dedica à investigação. Porém, no nosso País as análises, os estudos e as reflexões sobre este tema ainda não ultrapassam a barreira da insuficiência, sendo mesmo constrangedoramente epidérmicas. Neste contexto, torna-se fundamental descrever, historizar, interpretar e meditar sobre o passado, o presente e o futuro do desporto paralímpico nacional. Será que não é relevante reflectir sobre os resultados alcançados, ao longo dos últimos anos, pelos atletas portugueses? Será que não é importante divulgar, de uma forma cristalina e incisiva, o desporto paralímpico? Será que não é necessário amplificar o investimento nesta superfície? Será que não é fulcral que os atletas paraolímpicos tenham condições excelentes de treino? Será que essas condições não existem já a nível internacional? Será que o desporto paraolímpico português tem os mesmos contextos e configurações que o desporto olímpico? Será que não é imperioso possibilitar a profissionalização dos atletas? Será que os atletas paralímpicos não são um benigno exemplo para a sociedade? Será que não é importante compreender a abrangência e a realidade de toda esta conjunção ou dinâmica?

Podemos seguramente referir que a presença nos jogos paralímpicos representa a posição mais elevada no trajecto desportivo de qualquer atleta portador de deficiência. Este trajecto fica assinalado por elevadas doses de abnegação, de valentia, de sacrifício, de esforço e de sublimidade, sendo mesmo a exteriorização não só das incomensuráveis jornadas de treino espinhoso e das inúmeras competições internacionais ao mais alto nível, como também das pigmentadas vitórias e medalhas conquistadas. Será que a prática de uma modalidade desportiva no patamar da alta competição, bem como a edificação de um itinerário desportivo de triunfo não representam caminhos muitíssimo intrincados? Será que o facto de um determinado atleta agasalhar uma enorme capacidade e uma robusta competência para a prática de uma determinada modalidade desportiva constitui, apenas por si só, uma garantia de êxito? Será que o contexto histórico e social não é uma condição importantíssima no percurso ou na carreira de um atleta? Será que não é imprescindível conhecer, compreender e envolver os vértices intrínsecos a todo e qualquer meio desportivo? Será que as publicações académicas sobre o desporto adaptado não são praticamente inexistentes? Quais são os factores que alicerçam esta conjuntura desbotada?

Para além dos dissemelhantes géneros de deficiência, são quase incalculáveis as adaptações necessárias à sua prática, todavia a existência de um arquétipo de classificação desportiva bem delineado acaba por permitir aos atletas competir com imparcialidade, regularidade e equidade, segundo o seu escalão de funcionalidade individual. No nosso País, o desporto para pessoas com deficiência já conta com algumas décadas, mas as interpretações e os registos dos acontecimentos, assim como as pesquisas concretizadas são manifestamente parcas. Será que o conhecimento histórico somente representa a descomplicada invocação do passado? Será que o conhecimento do passado não permite compreender o presente e projectar o futuro, em formatos coerentes, ambiciosos, adaptados e harmonizados?

Não obstante as várias participações portuguesas em jogos paralímpicos e as múltiplas medalhas conquistadas pelos atletas, as configurações que embrulham esta temática carecem de estruturação, de planeamento, de orçamento e de alguma legislação específica. Será que compreender o desporto paralímpico português no âmago de um prisma evolutivo não é elementar? Será que com o decorrer do tempo, o desporto paralímpico português não sofreu algumas metamorfoses? Quais foram essas metamorfoses? Será que o mesmo pode ser contemplado e degustado como um autêntico fenómeno desportivo? Quais foram as principais configurações sociais, culturais e históricas que promoveram o aperfeiçoamento do desporto paralímpico nos palcos legislativo, organizativo, económico e financeiro? Será que na medula da perspectiva competitiva, o movimento paralímpico não patenteia o desporto de elite, no cabimento mundial, para pessoas com deficiência? Como se classifica a representação portuguesa nos jogos paralímpicos ao longo dos tempos? Onde estão os estudos nacionais sobre esta temática? Quem não os realizou e devia ter realizado? Será que o desenvolvimento e o estímulo da prática desportiva, nas suas mais variadas ópticas, não estão directamente inventariados com o paradigma desportivo de apoios vigente? Será que a alta competição não está embrulhada com um espesso conjunto de dificuldades e de adversidades? Será que a conjuntura nacional, em relação a esta temática, não está submersa em contextos de fragilidade financeira? Será que quando nos referimos a atletas portadores de deficiência e aos apoios adjacentes ao desenvolvimento do desporto de elite para estes atletas, as dificuldades não se reproduzem abundantemente e incoerentemente? Será que não é capital concretizar, tendo como bandeira principal o desporto paralímpico, ininterruptas e abrangentes acções de sensibilização e de informação junto da sociedade em geral?

Embora se observem algumas conjunções de desenvolvimento em relação aos jogos paralímpicos, a cobertura desta competição, por parte dos meios de comunicação social, ainda é pouco intensa em Portugal. Os cidadãos portugueses, através dos meios de comunicação social, deviam ter a oportunidade de conhecer e de identificar os atletas paralímpicos? Será que o povo português outorga o reconhecimento merecido, pelos feitos conquistados, a esses atletas?

Em Portugal há atletas portadores de deficiência que foram campeões da europa e do mundo, estando os mesmos “munidos” de histórias carregadas de experiências, de lágrimas, de emoções, de sorrisos, de agitações, de voltagens, e de episódios relevantes e brilhantes. São histórias vividas e pigmentadas na primeira pessoa, nas quais o conhecimento daí resultante poderá constituir uma portentosa mais-valia para reconhecer as transfigurações imprescindíveis a executar neste espaço. Infelizmente esses valorosos resultados são completamente desconhecidos pela esmagadora maioria da população. Salientar que para interpretar um fenómeno de modo rigoroso, escrupuloso e abrangente é insuficiente considerar unicamente os factos ou os acontecimentos, ou seja é indispensável ponderar, compreender e oferecer-lhe um significado. Será que não é crucial “sonorizar” todos aqueles que representam, nos patamares mais elevados, o desporto paralímpico nacional? Será que não é fulcral conhecer o percurso e os obstáculos adjacentes ao mesmo? Será que não devemos impulsionar o desporto paralímpico, bem como o atleta paralímpico nacional? Será que os portugueses dão valor aos contextos que realmente têm valor?

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