A crise da educação especial constitui nos debates teóricos e especulativos um anúncio habitual. Os conceitos “exclusão social” e “inclusão social” constituem duas das maiores inquietações da sociedade contemporânea.

Será conveniente, antes de abordarmos o tema “educação inclusiva”, debruçarmo-nos sobre o conteúdo da temática “inclusão social”. Este conteúdo hospeda um processo em que a finalidade será a de tornar activos e cooperantes todos aqueles que, por uma panóplia de motivos, se encontram excluídos de um determinado ambiente social. Os indivíduos que estão fora do processo produtivo e não participam na sociedade capitalista em que vivemos fazem parte dos excluídos. Na óptica da comunicação de massa, o homem somente respira se consumar um efectivo potencial de consumo dos produtos e serviços padronizados. A multiplicidade antropológica acaba por ser alvo da indiscrição, enquanto que as suas exteriorizações culturais são contempladas e compreendidas como sendo imaginosas, auxiliando a peleja conta a catástrofe do irreal. Devemos ter a noção que durante um longo período de tempo a educação especial funcionou como um processo paralelo do sistema geral de educação e não como parte integrante do mesmo. Esta conjuntura contribuiu de forma decisiva para a consolidação do mito da extrema dificuldade em trabalhar-se com indivíduos possuidores de algum tipo de deficiência.
Aprender é um processo que está intimamente associado a uma enorme diversidade de planos e programas institucionais empregues pelos professores, com a translúcida finalidade de desimpedir os caminhos mais sinuosos da própria aprendizagem. A inclusão acaba por ser uma espécie de “conspecção” ou trilho infinito, indumentado de inúmeros arquétipos de impedimentos que infelizmente residem no nosso espírito. Para serem superados estes óbices necessitamos de variadíssimas cogitações e de algumas companhias ou combinações.
Infelizmente a presença de alunos com necessidades especiais nas salas de aula ainda é “embalada” com as etiquetas do incómodo, da apoquentação e do estorvo. A inclusão escolar é uma das configurações do arquétipo de inclusão social e pode definir-se como um conjunto de medidas adequadas à disseminação integral da escolarização. Neste sentido, podemos afirmar que a educação inclusiva pode ser interpretada como um mecanismo de inclusão de pessoas com necessidades físicas ou psicológicas especiais. O perfilhamento deste sistema será certamente responsável pela edificação de um ensino inovador mais prazenteiro, mais eficaz, mais democrático e mais interdependente. Viver e conviver com a indiferença será seguramente uma experiência enriquecedora para todos aqueles que fazem parte do universo escolar. O processo educativo neste contexto deve ser interpretado e assimilado como um exercício social em que todos os alunos, com perturbações ao nível da aprendizagem, também têm o direito à escolarização.
Para os alunos que não possuem qualquer tipo de deficiência, a convivência com a diferença vai ser impulsionadora da descoberta de comportamentos nobres que agasalham as insígnias da solidariedade, da compreensão, da cidadania, do respeito mútuo e do companheirismo. O ser humano necessita de “conviver” com este tipo de experiências e vivências para se aprimorar integralmente.
Meditar sobre as teses de uma escola de “condão” para todos, que abrace discentes e docentes através da fragrância social e cultural, demonstrará que nós temos forçosamente de ter em conta o aroma ideológico da verdade edificada por os responsáveis pela educação.
Em diversas ocasiões, e lamentavelmente, a comunidade de docentes privilegia um protótipo de aluno para cada tipo de escola, questionando simultaneamente os vocábulos atraso e deficiência. Criar um ideal de escola da classe média-alta e lutar sem medir as consequências por um lugar ao sol no panorama do ensino nacional constituem condições favoráveis para que muitos directores e administradores das escolas sejam apelidados de insensatos, levianos, pleonásticos e medíocres. Os clichés conquistam o labor pedagógico e são resultado de uma incoerente rejeição aos modelos mais flexíveis, de um receio de tudo aquilo que é novo e não está presente nas teorias académicas, e de uma preocupante falta de conhecimento que docentes e directores espelham em relação à consistência social, ao processo de aperfeiçoamento intelectivo e afectivo dos discentes, e à vivência cultural.
Uma das maiores empreitadas para que efectivamente a escola se metamorfoseie em inclusiva é abandonar os preconceitos e comutar a contemplação, a compreensão e o enaltecimento do chavão de perfeição. Os espaços físicos, os apetrechamentos e os recursos económicos são importantes, contudo aquilo que acaba por ter um papel mais relevante é a atitude e o comportamento dos educadores, bem como a adjacente “imaginação” destes sobre o próprio protótipo de ensino.
Apreciações e julgamentos sobre contextos de imperfeição, atraso, deficiência, jejum declive cultural, desnivelamento familiar e desencaixe social e económico constituem estruturações e configurações culturais fabricadas por uma sociedade que agasalha um conjunto de docentes que privilegia um único sistema para todos os “padrões” de alunos. Vulgarmente o arquétipo mais utilizado para cada discípulo é estabelecido pelo grupo social com mais “jurisdição” no movimento da própria comunidade.
Também, não nos podemos esquecer, e muito menos ser hipócritas, que, apesar dos esforços e das campanhas de sensibilização, actualmente e dentro da tela escolar ainda existe uma visão estereotipada e bastante redundante em relação aos alunos que vivem numa situação económica e familiar precária. E são estes alunos que vão engordar o inventário da educação especial. Muitos indivíduos ainda pensam que adestrar em colégios e turmas especiais significa “despojar” os discentes de um ensino entusiasmante e absoluto que somente tem lugar na escola comum. Reconhecer a multiplicidade de classes sociais, de religiões e de aptidões constitui uma das etapas mais relevantes para a fundação e moralização de uma verdadeira escola. A inclusão é um sistema intrincado que exige sólidas e ininterruptas correcções.
Será indispensável acrescentar, apesar de ambas nomearem semblantes de inserção, que há divergência entre inclusão e integração. A prática da integração esteve quase sempre associada aos paradigmas terapêuticos das deficiências. Ou seja, existia a preocupação de “corrigir” o indivíduo portador de uma deficiência e torná-lo habilitado para compensar e satisfazer os moldes celebrados pelo encadeamento social em que o mesmo estava inserido. O aperfeiçoamento dos cidadãos portadores de deficiência, através da ferramenta “educação” e “qualificação profissional”, deve sobrevir dentro do processo de inclusão e jamais deve constituir um requisito para que estas pessoas possam fazer parte da comunidade. A inclusão acontece quando se adopta um método interactivo, no qual a comunidade e as pessoas com deficiências se autenticam, se amoldam e se respeitam, aperfeiçoando e erigindo modernos acordos alicerçados na prédica da cidadania, da igualdade e da responsabilidade social. A pluralidade deve ser um factor importante para que a sociedade consiga superar a barreira da inclusão e simultaneamente compreender e acarinhar a mesma.
Acabam por ser imprescindíveis as transformações das previsões, das visões e dos comportamentos, sendo também necessário e capital enobrecer a multiplicidade com o desenvolvimento individual, social e cultural. As transfigurações ao nível das políticas públicas e das doutrinas educativas constituem conjunturas que obviamente têm de ser revistas, estudadas e implementadas. A oferta educativa reclama por bálsamos de docilidade, maleabilidade e por currículos muito mais abrangentes.
A realidade espelha que ainda existe um colossal hiato entre o “habilidosamente íntegro” da inclusão educacional dos indivíduos possuidores de algum tipo de deficiência e a consistência existente. Todavia, é sumamente importante falar destes temas para que os mesmos não caiam no esquecimento.
O âmago das escolas e do ensino é o da promoção da bandeira educação para todos. Logo, todos os alunos têm o direito de usufruir de uma instrução de qualidade que lhes permita aumentar e desdobrar os seus encadeamentos culturais, sociais, cognitivos e afectivos. Quando estão inseridos na educação “comum” os alunos com deficiência acabam por ampliar o estudo e a avaliação através da pluralidade individual. A escola reclama e necessita não só das adaptações e “aclimatações” físicas, como também de um atendimento educacional mais especializado. A sociedade necessita de uma escola que arrisque e albergue pigmentações de coragem, arrojo, equidade e audácia para desenvolver, contestar, argumentar e modificar aquilo que está estabelecido e que desafortunadamente não está de boa saúde.