Todas as competências são importantes para conceber dinâmicas e esforços de cariz colectivo.

O território de Portugal, o espaço mais ocidental da Europa e obviamente da Península Ibérica, foi sendo preenchido e aproveitado pelos nossos antepassados, em esforços e sacrifícios ininterruptos. Portanto, o território passou de geração em geração até chegar à nossa posse. Será que a apropriação da terra não foi um processo vagaroso? Será que o mesmo não principiou há milhares de anos? Será que esse processo não se “sublinhou” na última dezena de séculos? Será que o auge da civilização rural não ocorreu no século passado? Será que essa civilização rural não foi amplamente amputada por nós? Será que as últimas gerações não outorgaram uma marca profunda às terras que acabámos por herdar?
Os nossos antecessores foram moldando e desenhando a paisagem ao longo dos tempos, adaptando-se e apegando-se à mesma. Há relativamente pouco tempo chegaram as intervenções mecanizadas e os mecanismos robotizados, despedaçando, de certa forma, o vínculo e a própria extensão humana das transformações. Desse modo, começou a despontar uma descomunal e, em várias ocasiões, desequilibrada malha urbana de aglomerados por todo o território, que conduziu à dilatação da rede de ligações viárias. Será que esta conjunção não promoveu o esvaziamento do universo rural? Será que o tecido da propriedade rústica que se deseja cadastrar não é a consequência dessa morosa, contudo incessante, evolução? Será que não é fundamental compreender, para perceber a realidade contemporânea, como esse tecido foi sendo concebido, trabalhado e metamorfoseado ao longo dos tempos? Quais foram as dinâmicas, os mecanismos e as técnicas empregues no solo? Quais são as conveniências que fomentam hodiernamente a gestão agrária? Será que com o decorrer do tempo essas conveniências não sofreram transfigurações?
Apesar de não constituir uma novidade para ninguém, e segundo o “aferidor” nacional da distribuição territorial da população, o envelhecimento é bastante mais acentuado nas zonas rurais, nomeadamente aquelas que pertencem ao interior do País. Portanto, Portugal é reconhecido e assinalado pelo envelhecimento da população; pelos parcos índices de qualificação; pela concentração demográfica estar situada no litoral; pela pobreza de alguns territórios; pelos elevados índices de desemprego; e pela terceirização do emprego. O envelhecimento da população acaba por incrementar o peso dos rendimentos dos “inactivos” na economia, encurtando a oferta de trabalho e impulsionando as necessidades de novos sistemas e serviços de auxílio às famílias. Do lado oposto da barricada, deparamo-nos com a inviabilidade de preservar a densidade da rede de alguns serviços dirigidos a outras faixas etárias, precisamente pelo facto de a procura ser imensamente franzina. Será que esta conjuntura não está traduzida no grau dos índices de rendimento, bem como no padrão nacional de distribuição do mercado de trabalho? Será que a mesma não é um obstáculo colossal ao desenvolvimento do País? Será que o território do interior não está cada vez mais pobre, enfraquecido e esquecido? Será que a política de acessibilidades desenvolvida nos últimos anos não possibilitou a edificação de alguns contextos sedutores e magnéticos nestes espaços? Será que a mesma foi suficiente? Será que entre o interior e o litoral de Portugal não existe um imenso território, que pode servir como uma espécie de alicerce para a actividade agrícola e florestal? Será que esse território não é apenas deslumbrante para a indagação urbana, no preenchimento dos períodos de ócio e de descompressão?
A “exequibilidade” destes territórios está visceralmente subordinada à faculdade de conceber, de estruturar, de dinamizar e de aperfeiçoar a actividade económica nos sectores agrícola e florestal. A capacidade de agarrar e promover outras oportunidades e actividades que saciem novas procuras, tanto de cariz interno, como de cariz externo ao território, é seguramente relevante para a contraversão desta disposição de debilidade e de inconstância. Onde estão os nichos de mercado? Será que os mesmos não podem ser protagonistas para a solução do problema? Será que os nichos de mercado não constituem segmentos cujas necessidades particulares são pouco exploradas ou inexistentes?
O mundo rural português evoluiu em configurações desiguais, com algumas melhorias no conforto social, designadamente com a edificação de equipamentos sociais; com desequilíbrios profundos; com diminuição dos indicadores de vitalidade económica e demográfica; com insuficiências profundas no âmbito da competitividade empresarial; e com dificuldades acrescidas no campo da sustentabilidade e da coesão dos territórios. Será que não é essencial aperfeiçoar as estratégias para abreviar e estancar os problemas identificados? Será que não devem ser delineadas e privilegiadas as soluções integradas em consonância com as soluções individuais? Será que as estratégias e as políticas públicas não devem ser flexíveis de modo a promover um ajustamento aos dissemelhantes problemas, bem como uma acomodação às finalidades consagradas e específicas? Será que não deve haver o cuidado e a preocupação em promover e em solidificar a interligação entre as múltiplas empreitadas que são necessárias à concretização de programas e de finalidades comuns no que respeita à produção, à comercialização, à transformação, à renovação e à inovação? Onde se enquadram os clusters? Será que na medula da indústria, um cluster não é uma concentração de empresas que se comunica não só por agasalhar características e temperamentos semelhantes, como também por comorar no mesmo território? Será que essas empresas não colaboram entre si, metamorfoseando-se em mais eficientes e “competentes”?
Estas texturas somente são corporificáveis através da coadjuvação, diligente, intensa, dedicada e verdadeiramente comprometida, de todos os intervenientes, ou seja tanto do Governo e das instituições públicas, como das instituições e dos movimentos de índole privada. Todas as competências são importantes para conceber dinâmicas e esforços de cariz colectivo. Será que não são essas dinâmicas e esforços que superam os afogos? Será que a agricultura e a floresta não hospedam um papel fundamental no que toca à harmonia ecológica do território e à preservação da paisagem? Será que este papel não é desempenhado por indivíduos e empresas, na sua acção enquanto proprietários, cuidadores da terra e produtores? Será que não é elementar a presença dos mesmos para o equilíbrio e a “coerência” do território? Será que de modo geral, a gestão das explorações agrícolas e as práticas produtivas não albergam um conjunto de procedimentos profícuos sobre a paisagem e o próprio ambiente? Será que o risco de incêndios não é um factor inibidor e prejudicial para toda a dinâmica dos sectores agrícola e florestal? Será que a pasta incêndios não constitui pasto político? Será que a reorientação e a reestruturação da política florestal, nos seus inúmeros “declives”, não devem albergar um papel prioritário e de primazia? Será que para pelejar eficazmente os incêndios não é imprescindível actuar em formatos planeados e concertados? Será que não existe a indispensabilidade de operar sobre as diversas conjunturas de deterioração ambiental que se verificam, principalmente em cabimentos de concentração de pecuária intensiva? Será que não é necessário desenvolver e aplicar práticas ambientalmente sustentáveis? Como se define sustentabilidade?
O encadeamento e a edificação de sinergias, com proveitos mútuos, entre as condições ambientais e o desenvolvimento sustentável das regiões, através de um conjunto de empreitadas de temperamento económico, deverão ser ininterruptos e estimulados, num arquétipo em que todos sejam triunfadores e incrementem o tão importante sentimento de pertença pelo território e pelo ambiente. Será que a evolução dos sectores agrícola e florestal, assim como das indústrias coligadas aos mesmos não foi influenciada, de modo determinante, pela adesão de Portugal à União Europeia? Será que nesta “etapa” não desfilaram volumosos progressos tecnológicos? Será que as tabelas da produtividade, do trabalho e da “comodidade”, em relação aos agentes envolvidos nestes sectores, não acomodaram melhorias significativas? Será que os índexes de riqueza, em termos produtivos, não ficaram bastante distantes daquilo que efectivamente foi planeado e era legitimamente ambicionado? Será que paralelamente ao imenso incremento da procura interna de bens alimentares agrícolas não desfilou uma descolorida estagnação dos escalões de produção? Será que essa conjuntura não agravou a ineficiência e insuficiência da “cadeia” alimentar? Será que essa condição não tolheu a tão almejada e necessária competitividade?
A participação e a constante comparência das actividades agrícolas e florestais acaba por ser determinante para o desenvolvimento, crescimento e sustentabilidade de inúmeros e vastos territórios, tanto nos espaços de produção, de emprego e de rendimento, como nos cabimentos de conservação de recursos naturais, de paisagem e de biodiversidade. Será que as estratégias nacionais para a agricultura e para o desenvolvimento rural não devem despertar a competitividade e a sustentabilidade dessas actividades? Será que essa conjugação não outorga um contributo fundamental para o aperfeiçoamento dos territórios e, consequentemente, do País?
O paradigma europeu de desenvolvimento rural sustentável tem vindo, ainda que paulatinamente, a reconhecer e a fortalecer o temperamento polivalente do sector agro-florestal, apresentado como principais configurações: a ambiental; a social; e a económica. A primeira configuração ou valência acaba por desaguar na edificação de serviços e na gestão de recursos e territórios. A segunda está intimamente associada à integração e promoção de actividades e rendimentos. Por sua vez, a terceira configuração está agremiada à concepção de bens de mercado. Será que o potencial humano, biofísico e económico não apresenta condições para produzir riqueza nos territórios rurais? Será que essa riqueza não vai ter eco e influência no País? Será que a situação hodierna, não se pode resumir, em termos epidérmicos, num conjunto de fraquezas e de incoerências? Será que essas fraquezas e incoerências não estão na base do deficiente grau de produção de riqueza? Será que este não é um problema capital dos sectores agrícolas e florestais, bem como dos territórios rurais? Quais são efectivamente os problemas de competitividade que estão adjacentes ao sector agro-florestal? Como emendar as insuficiências detectadas e promover um superior aproveitamento dos recursos, potencialidades e oportunidades? Como fortalecer a atractividade e o desenvolvimento dos territórios rurais? Será que o sector agro-florestal, a partir da exploração planeada e pertinente dos recursos naturais, não aquartela cubicagem para desenvolver determinadas actividades e produzir maiores índices de riqueza? Será que o mesmo não consegue promover o aparecimento de outras actividades e, simultaneamente, proporcionar mais trabalho e emprego? Será que esta disposição não vai contribuir para a fixação da população no sector e nos territórios rurais? Será que desse modo a gestão dos valores ambientais e patrimoniais existentes não fica salvaguardada?
Contemplar e analisar a forma como se disseminam as dissemelhantes ocupações pelo território, reverenciando as áreas das mesmas, assim como o uso e o aproveitamento dos solos, são “oportunidades” relevantes e determinantes para conhecer e compreender a propriedade rústica. Será que não é importante, para interpretar a realidade actual, conhecer a evolução histórica do uso e da posse da propriedade rústica? Quais são os principais problemas de gestão, do ponto de vista dos proprietários, que embrulham os prédios rústicos? Será que não é cada vez mais decisivo quantificar dados e qualificar evoluções?