Quais são as razões que fundamentam o facto de um espaço de tanto fascínio se encontrar fechado, ou seja, vedado aos visitantes?

Há sensivelmente quatro anos desloquei-me a Vilar Maior, a convite do meu amigo António Gata, para degustar um saboroso e autêntico Cozido à Portuguesa. Para além de mim e do anfitrião, também estavam presentes o meu saudoso padrinho Francisco Bárrios e o meu grande amigo Rui Monteiro. O repasto, “regado” com um diálogo nada trivial, estava extraordinário, bom vinho e enchidos caseiros de elevada qualidade. António Gata, excelente anfitrião e tal como era habitual, esmerou-se. Bons tempos! Bons convívios! Saudades!


No período da tarde, e porque o António Gata agilizou o “processo”, visitámos o Museu de Vilar Maior. Fiquei fascinado com tamanho magnetismo que o Museu me ofereceu. Lugar mágico, sublime e de extraordinária beleza. Um espaço disseminador de erudição capaz de serenar e alimentar a alma. Ali respirei, compreendi, cresci e bebi conhecimento. Simplesmente maravilhoso!


No passado dia 24 de Outubro, acompanhado por alguns conterrâneos, desloquei-me a Vilar Maior para visitar o Museu. Infelizmente o Museu estava fechado e a visita foi adiada. Quais são as razões que fundamentam o facto de um espaço de tanto fascínio se encontrar fechado, ou seja, vedado aos visitantes? Quais são os motivos para que toda aquela história e todas aquelas obras de arte se encontrarem reféns de uma má gestão e de uma total ausência de visão estratégica?


A verdade é que o Museu de Vilar Maior esteve praticamente sempre encerrado e esta pardacenta condição não está relacionada com a pandemia, pois antes da mesma já se encontrava quase sempre encerrado. Será que um Museu sem pessoas faz algum sentido?
Em meados de Agosto foi inaugurada a renovada exposição permanente do Museu de Vilar Maior, denominada de “Museu Vivo de Vilar Maior”. Aplaudo a “iniciativa”, mas como fazemos para a visitar? Será que o actual “processo” de visita não é desajustado e pode desaguar, em inúmeras ocasiões, na impossibilidade de concretizar a visita?


Com as portas fechadas, o Museu de Vilar Maior jamais transbordará as paredes do próprio edifício e dificilmente aglutinará todos os pontos de interesse da população, da aldeia e da região. É relevante sair para o espaço envolvente e procurar no mesmo tudo aquilo que é verdadeiramente importante. Os Museus são espaços de reunião, de identificação da diversidade, de encontros e de descobertas de novos objectos para musealizar. A promoção e a dinamização destes lugares fantásticos devem ser condições prioritárias para qualquer Autarquia.


O Museu de Vilar Maior tem todas as “configurações” para ser um embaixador da nossa região, pois agasalha, para além do importante e enorme espólio, infraestruturas e equipamentos necessários não só para a benigna conservação desse mesmo espólio, como também para a comodidade de todos aqueles que pretendam visitar o Museu.


Segundo o sítio oficial da Câmara Municipal do Sabugal, as visitas, com as excepções dos meses de Verão, presumo que os meses de Verão se resumam apenas ao mês de Agosto, e das épocas festivas, estão sujeitas à disponibilidade da Junta de Freguesia. Ainda assim, e embora esteja longe de ser suficiente, a Junta de Freguesia faz aquilo que pode. Há muito tempo que está comprovado que as Juntas de Freguesia fazem muito com pouco. É inconcebível que as visitas ao Museu de Vilar Maior estejam dependentes da disponibilidade dos elementos que compõem a Junta de Freguesia da União de Freguesias Aldeia da Ribeira, Vilar Maior e Badamalos.

Lamentável! Será que o Município do Sabugal não devia tomar as diligências necessárias para que aquele espaço de eleição estivesse sempre aberto ao público? Qual é a lógica de edificar espaços de rara beleza e depois fechá-los? Para que servem as obras que o Museu de Vilar Maior guarda se estão afastadas dos olhos de todos? Será que precisamos de instituições inacessíveis para a população? Será que os Museus não são essenciais para as comunidades?


A Câmara Municipal do Sabugal, se tivesse audácia para potencializar “projectos”, podia facilmente, e em paralelo com as portas do Museu abertas, criar visitas virtuais ao Museu. Na realidade, a pandemia nada modificou o modo de operação perfilhado pela Câmara Municipal em relação ao Museu de Vilar Maior.


Os Museus, equipamentos de essência cultural, agasalham um papel social fundamental, pois constituem pontes que ligam literalmente as duas “margens”. Os Museus, espaços inclusivos, servem a sociedade e promovem os valores capitais. A população de Vilar Maior, pelo facto de ter outorgado um contributo considerável para “erguer” o Museu, merecia outro tratamento por parte daqueles que governam o Concelho do Sabugal. Para que servem os Museus fechados? Será que o património é aquilo que se tem ou aquilo que se pode fazer com ele? Será que um Museu fechado ao público existe efectivamente?